domingo, 11 de novembro de 2012

Uma rede antissocial

Para ficar longe do Facebook, publicitário de 25 anos criou o blog 100Face, experimento que reuniu 100 voluntários com o mesmo desejo: não acessar a rede social até o fim do ano e viver mais no mundo real
"'E se eu deletasse o meu Facebook?' Foi essa a pergunta que veio à cabeça de Felipe Teobaldo, de 25 anos, numa terça-feira tediosa qualquer. Ele rapidamente publicou o questionamento na rede social. Os comentários foram do mais entusiasta - 'isso mesmo, a vida está lá fora' - ao mais pessimista - 'você é louco?'. No meio de opiniões polarizadas, uma se destacou: 'Saia, escreva um blog e divida com a gente o que está sentindo.'
E foi isso mesmo o que ele fez. Percebendo que faltavam 108 dias para o fim do ano, o publicitário e consultor Teobaldo - ou Teo, como costuma ser chamado -, anunciou em seu Twitter, e depois em seu blog e no próprio Facebook, que ficaria 100 dias sem se logar na plataforma.
Logo começaram a aparecer mais e mais voluntários, e o projeto tomou forma: 100 pessoas, 100 dias, sem Facebbok. Assim, no dia 22 de setembro, a maratona começou.
Além de se manter fora da maior rede social do mundo, que recentemente alcançou um bilhão de usuários, os participantes narram sua experiência em um blog (100face.com.br), que tem um quê de diário, com depoimentos bem pessoais e curiosos. Para uns, a tarefa tem sido tranquila; para outros, insuportável.
Os participantes relatam suas tentativas de ocupar o vazio deixado pelo Facebook: ler um livro, retomar um blog, ir ao parque, voltar à academia. Embora empolgados com a nova rotina, compartilham a dificuldade de conversar com os amigos por outros meios e de acessar sites e serviços integrados à plataforma, a frustração por ficar de fora de discussões e eventos, além da ansiedade para ver suas notificações e mensagens. (...)
Experiência. Teo encara o projeto como um experimento social. 'Procuramos o auxílio de uma pesquisadora, um psicólogo e um antropólogo para gerenciar esse projeto da maneira mais interessante possível', disse.
Antes de o projeto começar, os participantes preencheram um questionário para traçar um perfil dos exilados da rede social. Quando terminarem os 100 dias, os dados vão ser analisados para entender os efeitos da ausência do Facebook sobre eles.
O idealizador afirma que, sendo heavy user, criou o projeto por causa do frio na barriga que a ideia lhe causava. 'A pergunta não é quanto tempo você aguenta fora do Face. Quero saber do que você depende para ser feliz!', questiona. 'Será que é do Facebook que a gente depende ou dos elementos sociais, muito importantes para a nossa vida, que hoje são hegemonicamente mediados por ele?'
Três semanas já se passaram, e cerca de um quinto dos participantes não aguentou e já se rendeu à rede de Zuckerberg novamente.
(...) 'O Facebook é o grande catalisador social do momento', diz a professora Luciana Ruffo, do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP. Sobre a necessidade contemporânea de midiatizar os acontecimentos ela diz: 'O desejo é muito mais mostrar para o outro onde se esteve do que na verdade guardar uma lembrança de um momento bom'.
Já o professor Cristiano Nabuco, coordenador do Grupo de Dependência de Internet do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, diz: 'Hoje as pessoas trocaram o prazer de estarem juntas pelo prazer de comunicar.' (...)"
Estes são alguns trechos de uma reportagem de Anna Carolina Papp, publicada na edição de 15 de outubro de 2012 do jornal O Estado de S. Paulo.
Nossa! Que postagem longa! Ainda bem que vocês devem estar descansados após 16 dias sem postagens neste blog. Difícil é ficar 100 dias sem acessar o Facebook, não é mesmo? É o que é mostra a reportagem que provocou esta postagem. Três semanas após o início do projeto, cerca de um quinto dos participantes não aguentou e se rendeu à rede de Zuckerberg novamente.
'O desejo é muito mais mostrar para o outro onde se esteve do que na verdade guardar uma lembrança de um momento bom', diz a professora Luciana Ruffo, do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP. Não dá para duvidar de tal afirmação. Minhas mais recentes constatações de sua veracidade ocorreram em uma recentíssima estada em Porto Seguro e ao redigir esta postagem. Enquanto eu a redigia, minha esposa disse-me que uma de nossas sobrinhas tinha compartilhado no Facebook uma foto tirada no restaurante em que jantava.
'Hoje as pessoas trocaram o prazer de estarem juntas pelo prazer de comunicar', diz o professor Cristiano Nabuco, coordenador do Grupo de Dependência de Internet do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. Hoje as pessoas comunicam-se demais; falam demais. Em um artigo da revista GOL Linhas aéreas inteligentes (em sua edição de novembro de 2012) focalizando o novo livro de Luis Fernando Veríssimo, há a seguinte pergunta: "A humanidade viveria em paz se todos fossem mudos?". "Mudos seria pedir muito. Talvez mais reticentes", responde o autor gaúcho de 76 anos.
Atribui-se a Blaise Pascal (físico, matemático e filósofo francês que viveu no século dezessete) a seguinte afirmação: "A maior parte dos problemas do homem decorre de sua incapacidade de ficar calado". Alguns séculos se passaram, o desenvolvimento tecnológico atingiu um nível absurdo, e ofereceu às pessoas a possibilidade de falar com quem quer que seja - independentemente da distância entre elas - durante 24 horas por dia (e algumas horas à noite). Se acreditarmos na afirmação de Pascal, a tecnologia aumentou enormemente os problemas do homem. E Albert Einstein, o que diria se estivesse por aqui hoje? São atribuídas a ele as seguintes palavras: "Temo o dia em que a tecnologia se sobreponha à humanidade. Então o mundo terá uma geração de idiotas". Há quem diga que o dia temido por Einstein já tenha chegado. Vocês concordam?

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