“Paulistanas de classe alta reclamam dos salários pedidos pelas brasileiras e mandam buscar empregadas no país vizinho
Há cerca de duas semanas, quando recebeu do filho Mateus, de 5 anos, uma lembrança trazida da escola, a advogada Renata, de 34, ouviu espantada ele dizer: ‘Um recuerdo para mamá’. Mateus se tornou ‘bilíngue’ pela convivência com uma babá paraguaia. Renata, três filhos, empregou a estrangeira depois de uma experiência razoavelmente longa e traumática com brasileiras.
‘As nacionais são caras e pouco comprometidas com o serviço’, diz a administradora de empresas Mônica, de 36, precursora de um grupo de mais de dez amigas endinheiradas que usam os serviços de babás paraguaias.
Mônica e Renata têm duas ‘importadas’ em casa. As amigas preferem dar a entrevista no anonimato (os nomes estão trocados), porque as funcionárias nem sempre estão legalizadas.
Por causa da escassez de mão de obra, as ‘babás nacionais’ são acusadas de ‘escravizar’ a patroa. ‘Você aceita qualquer condição, se sente meio vendida’, reclama a nutricionista Rita, de 40 anos, mãe de duas filhas.
‘As nacionais não se apegam, são mecânicas’
Mãe brasileira aponta motivos para contratar babá ‘importada’:
1. Como não tem casa em São Paulo, ela dorme na dos patrões. Isso significa que pode, também, ficar acordada caso o bebê caia no berreiro. ‘As ‘nacionais’ não se apegam, são mecânicas, fazem o serviço pensando em ir embora’, diz a dona de casa Vera, de 39 anos.
2. A paraguaia é menos ‘roubável’ (por outras mães). ‘Tenho amigas tão desesperadas que não mandam mais o filho com a babá para a pracinha, nem para o clube, com medo que façam alguma proposta melhor de trabalho. O passa-passa de números de celulares, mesmo entre babás, é incrível. As paraguaias não têm essa malícia. Até porque são estrangeiras, não querem encrenca’, diz a fonoaudióloga Lúcia, de 38 anos.
3. Por trabalharem também nos fins de semana, as paraguaias evitam para as mães o transtorno de pedir a chamada ‘folguista’ (que rende a ‘residente’). ‘É sempre chato ter uma estranha em casa. E elas cobram R$ 100 por dia’, diz Lúcia.
Em relação às mães, a terapeuta de família Roberta Palermo, formada pela Universidade Federal de São Paulo, acha que ter uma babá, para muitas, é questão de status. Como aparecer no clube, ou na festinha sem uma? E diz ainda que mães relegaram às babás atividades que deveriam executar por sua importância afetiva – mas consideram ‘serviços inferiores’. ‘A babá pode encher a banheira e limpar o pratinho. Mas quem tem de dar o banho e a papinha é a mãe. Já ouvi uma mãe dizer a outra: ‘Nossa, você dá banho no seu? Eu só pego o meu quando está limpinho’”
Estes são alguns trechos de uma reportagem de Paulo Sampaio, publicada na edição de 27 de março de 2011 do jornal O Estado de S. Paulo.
Mais uma reportagem que propicia várias ilações. Farei apenas algumas, pois isto é só uma postagem e não um livro.
Eu uma sociedade baseada na famigerada economia de mercado, nada mais ‘natural’ do que querer receber muito e pagar pouco, não é mesmo? E o que nós fazemos sempre vale mais do que o que ‘terceirizamos’. Afinal, ‘serviços inferiores’ qualquer um pode fazer. O que me intriga é que no caso das babás os ‘serviços inferiores’ são cuidar dos seres que dizemos serem os mais importantes em nossa vida: os filhos. Há coisas que o meu débil raciocínio me impede de entender.
Dez amigas endinheiradas que usam os serviços de babás paraguaias, por causa da escassez de mão de obra que, segundo elas, leva as ‘babás nacionais’ a ‘escravizar’ a patroa. A escravidão chega a tal ponto que as babás ficam acordadas caso o bebê caia no berreiro e trabalham também nos fins de semana. Atentaram ao que leram? Quem alega ser escravizada é a patroa!
‘As ‘nacionais’ não se apegam, são mecânicas, fazem o serviço pensando em ir embora’, diz a dona de casa Vera, de 39 anos.
Fazer o serviço pensando em ir embora é o comportamento dominante em ambientes de trabalho desinteressantes, e não um ‘defeito’ de babás nacionais.
Mais uma coisa que tenho dificuldade para entender. Mães que relegam às babás atividades que deveriam executar por sua importância afetiva – mas consideram ‘serviços inferiores’, podem se queixar de falta de apego? Quem tiver fluência em espanhol que pergunte aos filhos, ok?
Hoje, a mãe recebe uma lembrança trazida da escola e ouve espantada o filho dizer: ‘Um recuerdo para mamá’. No futuro, não me espantarei com uma reportagem na qual o filho entrega uma lembrança acompanhada de uma saudação em mandarim, pois as endinheiradas terão descoberto que babás chinesas almejam menos melhorar as condições de vida do que as brasileiras. Ah, se a China fosse mais próxima!
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