Até capital Atenas já tem ‘gatos’ para garantir o fornecimento da luz; na periferia vizinhos se organizam para recolher lixo que se acumula nas ruas
“Enquanto os partidos travam uma batalha na Grécia e o país praticamente entra em falência, a população vai literalmente encontrando ‘jeitinhos’ para continuar vivendo. Muitos tiveram a luz cortada por falta de pagamento, outros não têm renda para continuar comprando livros ou lotando os bares. Longe da política que se faz no Parlamento ou em Bruxelas, a sociedade se reorganiza de forma espontânea para driblar o aperto de cintos.Na cidade de Veria, um grupo de moradores causou sensação ao percorrer a cidade durante a noite, fazendo ‘gatos’ na eletricidade. Vários moradores estavam sem luz, depois de já acumularem mais de seis meses sem pagar a conta. A onda chegou até a capital Atenas, Na periferia, prédios que também haviam sido afetados pelo corte de luz estão fazendo conexões ilegais. ‘Os salários foram reduzidos, famílias têm pelo menos uma pessoa desempregada e ainda os impostos aumentaram’, explicou Stravos, um morador que admite que vive com eletricidade ‘emprestada’.ONGs em Atenas já se preocupam com outro fenômeno: a chegada do inverno. ‘Muitas casas optarão entre comer e pagar o aquecimento’, disse a assistente social, Ania Alamanoy. O inverno grego não é tão rigoroso como o do norte da Europa. Mas para os mais idosos, pode ser o suficiente para desenvolver uma pneumonia.Lixo nas ruas. Em cidades vizinhas a Atenas, o problema é o lixo abandonado nas ruas. As prefeituras foram obrigadas a cortar o número de funcionários. Nas cidades administradas por partidos que não fazem parte do governo central, a opção foi reduzir justamente os da coleta de lixo para mostrar o desagrado. O resultado é o mau cheiro que permanece nas ruas por dias.Cansados da briga política, um grupo de moradores também se organizou e, com um caminhão, recolhe o lixo nas ruas.Algumas prefeituras optaram por se aliar à população. No bairro de Nea Ionia, em Atenas, as autoridades locais surpreenderam ao convocar os moradores a não pagar os novos impostos criados pelo governo central para tentar reduzir o déficit do país. Só em restaurantes e bares, o imposto subiu 13%.Em Nea Ionia, a subprefeitura oferece ajuda sobre como driblar os tributos e também promete reconectar serviços que tenham sido cortados pelas empresas de energia, gás ou água.”
Esta é quase a íntegra de uma notícia publicada na edição de 7 de novembro de 2011 do jornal O Estado de S. Paulo.
A notícia me faz lembrar a seguinte frase do filósofo espanhol José Ortega y Gasset: “Eu sou eu e minhas circunstâncias”. Creio que ela ajude a entender o motivo pelo qual pessoas, aparentemente, muito diferentes agem de maneira bastante parecida diante de circunstâncias semelhantes.
Ao verem-se diante da impossibilidade de pagar as contas referentes a serviços básicos, o que fazem os gregos? Da mesma forma como agem os brasileiros, eles dão um “jeitinho” para voltar a ter os serviços e, conforme explicou Stravos, um morador ateniense, passam a viver com eletricidade ‘emprestada’. Ou seja, em circunstâncias semelhantes, o “jeitinho” grego é muito parecido com o famoso “jeitinho” brasileiro.
O mundo é, realmente, um lugar muito estranho! Enquanto os gregos “abrasileiram” jeitinhos, os brasileiros, principalmente os que atuam no teatro corporativo, só falam em “agregar” valor! Vocês sabem o que significa “agregar” valor? Não, “agregar” valor não é nada daquilo que é dito em enfadonhas palestras proferidas nos palcos do teatro citado acima. “Agregar” valor é, simplesmente, redigir a palavra valor na língua grega. E diante da lamentável situação em que se encontra a Grécia parece que a própria língua grega perdeu, definitivamente, o seu valor, não é mesmo?
Portanto, feito o devido esclarecimento, esqueçamos essa história de “agregar” valor, retornemos à notícia que provocou esta postagem e tentemos responder a seguinte pergunta: Será que algum dia as autoridades locais nos surpreenderão com uma convocação para não pagar novos impostos criados pelo governo central para reduzir déficits do país? Eu não acredito em tal coisa, pois nós jamais estaremos na situação em que se encontra (ou seria se desencontra?) a Grécia. Afinal, segundo o governo central deste país, ele é imune a crises e o máximo que nos atinge são algumas “marolinhas”. E o pior de tudo é que o raio do povo acredita! Vá ser crédulo assim na Cochingrécia, digo, na Cochinchina, para não dizer, naquele lugar onde fica a ponte que partiu! Esta é a minha opinião, qual é a de vocês?
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