Inspirada no conceito implantado há tempos, tanto nos EUA como na Europa – as lavanderias selfservice -, a Laundromat decidiu apostar na ampliação da sua rede brasileira. Só neste primeiro trimestre abrirá cinco novas unidades onde os clientes darão conta do seu próprio serviço, sem ajuda. A mudança, explica o diretor Nicolas Lopez, mostra-se rentável tanto para o cliente como para o investidor. "As pesquisas que fazemos sempre apontam uma preferência do cliente por fazer tudo sozinho, sem a necessidade de passar pelo atendimento – que, às vezes, pode ser demorado."
Esta é a íntegra de uma matéria jornalística publicada
na edição de 17 de março de 2019 do jornal O Estado de S. Paulo, em uma página intitulada Direto
da Fonte - Sonia Racy.
Esta é uma daquelas matérias jornalísticas em
que, independentemente de seu conteúdo, a simples leitura de seu título
desperta minha vontade de dizer alguma coisa.
"Inspirada no conceito
implantado há tempos, tanto nos EUA como na Europa – as lavanderias selfservice
-, a Laundromat decidiu apostar na ampliação da sua rede brasileira.", eis como começa a matéria
jornalística que provocou esta postagem.
Inspirado no
conceito implantado há tempos, nesta insana sociedade (sic) - o comportamento "cada
um por si", decidi apostar na publicação desta postagem para mostrar o
equívoco da adoção de tal comportamento.
Afinal, será que faz sentido falar em sociedade vivendo-se segundo o comportamento
"cada um por si"?
"A mudança mostra-se rentável tanto para o cliente como para o investidor", explica o diretor Nicolas Lopez. "As pesquisas que fazemos sempre apontam uma preferência do cliente por fazer tudo sozinho, sem a necessidade de passar pelo atendimento – que, às vezes, pode ser demorado.", acrescenta ele.
Sim, se é rentável
tanto para o cliente como para o investidor, que se dane (para não usar uma
palavra mais contundente) o atendente, não é mesmo? Se é bom para mim que me
importa que seja ruim para alguém. "Os incomodados que se mudem.",
diz um antigo e estúpido ditado. "Os prejudicados que se virem.", diz
um ditado que, embora eu nunca tenha escutado, a todo instante vejo praticado.
"O que não convém ao enxame não convém tampouco à abelha",
eis uma afirmação atribuída ao imperador Marco Aurélio (121 – 180), o imperador
filósofo. Por que cito-a aqui? Porque interpreto-a como um crítica ao
comportamento "cada um por
si". Porque se Marco Aurélio
aparecesse de súbito entre os seres humanos do presente ele ficaria
consternado, como explica Roberto Assagioli (1888 – 1974), psiquiatra
italiano fundador do movimento psicológico conhecido como Psicossíntese, em seu
livro O Ato da Vontade, publicado em 1973.
"Se um homem de uma civilização anterior à nossa – um grego da Antiguidade, digamos, ou um romano – aparecesse de súbito entre os seres humanos do presente, suas primeiras impressões o levariam a considerá-los uma raça de mágicos, de semideuses. Mas fosse um Platão ou um Marco Aurélio e se recusasse a ficar deslumbrado ante as maravilhas materiais criadas pela tecnologia avançada e examinasse a condição humana com mais cuidado, suas primeiras impressões dariam lugar a uma grande consternação. Verificaria que esse pretenso semideus que controla grandes forças elétricas com o mover de um dedo e inunda o ar de sons e imagens para divertimento de milhões de pessoas – é incapaz de lidar com as próprias emoções, impulsos e desejos."
E "incapaz de
lidar com as próprias emoções, impulsos e desejos, esse pretenso semideus"
que mil oitocentos e tantos anos depois ainda não conseguiu assimilar algo
ensinado por Marco Aurélio ("O que não convém ao enxame não convém
tampouco à abelha"), segundo o diretor da lavanderia, "prefere fazer
tudo sozinho, sem a necessidade de passar pelo atendimento – que, às vezes,
pode ser demorado.". É estranha, muito estranha a noção que tem de demora esse
pretenso semideus!
"Cada um por si", eis
o título da matéria jornalística que provocou esta postagem! "Cada
um por si", eis o comportamento que
enxergo como provocador da situação descrita por Alberto Pasqualini (1901
– 1960), advogado, professor, sociólogo e senador, em uma afirmação feita em
fevereiro de 1945. "O analfabetismo, a falta de ocupação, a vida difícil e
a miséria poderão criar uma grave situação de insegurança que evoluiria para
uma criminalidade irreprimível.", afirma Pasqualini.
Será que a
criminalidade irreprimível prevista por Alberto Pasqualini, há 74 anos, já é realidade
nos dias de hoje? Será que enxergo corretamente? Será que o comportamento "cada um por si" pode ser considerado gerador de condições
propícias ao desenvolvimento dos fatores apontados por Pasqualini como "possíveis
criadores de uma grave situação de insegurança que evoluiria para uma
criminalidade irreprimível"? Será que o próximo parágrafo responde esta
última indagação?
"Em cada ladrãozinho prepotente que inferniza nossas vidas está um pouco de nossa indiferença, que nada fez pelas crianças que eles um dia foram...", diz Padre Zezinho scj em seu livro Pensando como Jesus pensou. Será que é difícil perceber que indiferença em relação aos outros é um autêntico exemplo do comportamento "cada um por si"?
Será que a teimosia em
viver em um meio ocupado por uma quantidade cada vez maior de pessoas como se
nele estivesse sozinho, ou seja, segundo o comportamento "cada um por si", pode ser vista como uma validação daquela famosa citação
de Albert Einstein: "Existem
apenas duas coisas infinitas - o universo e a estupidez humana. E não tenho tanta
certeza quanto ao universo." Será que "cada um por
si" seria capaz de responder
a indagação anterior ou será que o que é dito nesta postagem pode ajudar a respondê-la?
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