Com a ampla oferta de crédito, 53% dos brasileiros gastaram mais do que receberam no ano passado. (...) Nos primeiros quatro meses de 2011, os consumidores pagaram R$ 54 bi só com juros de financiamentos.
SÃO PAULO. A grande oferta de crédito levou o brasileiro a gastar mais do que ganhou em 2010. Segundo pesquisa da Associação Paulista de Supermercados (Apas), o gasto médio mensal do consumidor foi de R$ 2.171; já sua renda não passou de R$ 2.146. Pela sondagem, 53% dos entrevistados disseram estar nessa situação – que não era registrada pelo conjunto da população desde 2005. (...) Encomendada às consultorias Nielsen e Kantar World-Panel, a pesquisa teve amostra de 8.200 lares em cidades com mais de 10.000 habitantes.
- O desejo de consumo, aliado à oferta de financiamentos, fez o consumidor se embebedar no crédito – disse Martinho Paiva, diretor de Economia e Pesquisa da entidade.
Estes são alguns trechos de uma reportagem de Aguinaldo Novo e Ronaldo D’Ercole, publicada na edição de 10 de maio do jornal O GLOBO.
O desejo de consumo, aliado à oferta de financiamentos, fez o consumidor se embebedar no crédito – disse Martinho Paiva.
Não sei o que pensou o autor quando elaborou esta frase, mas eu vejo nela uma excelente analogia: do crédito fácil com bebidas inebriantes. E bebedeiras costumam causar mal-estar e incômodo no dia seguinte. E o pior é que no caso do crédito fácil o incômodo é mais duradouro e pode se arrastar por meses, anos, décadas e até por toda uma vida.
Outra analogia que cabe aqui é a seguinte: tanto as bebidas inebriantes quanto o crédito fácil têm grande poder para causar dependência e levar seus adeptos ao consumo de doses cada vez maiores. E nessa escalada pode ser atingido um estágio que impossibilite o retorno à condição de não dependência.
O mundo de faz-de-conta em que vive uma grande quantidade de participantes desta sociedade leva pessoas a fazerem de conta que não terão dificuldade para quitar o crédito fácil que lhes é oferecido. Daí para fazer uma conta que pode se tornar impagável é um caminho muito curto. Creio que viver de maneira sóbria seja melhor do que embebedando-se no crédito, e que o crédito fácil acabe dificultando a vida de muita gente.
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