sexta-feira, 20 de maio de 2011

Palocci diz que agiu como todos

Ele cita ex-ministros e ex-presidentes do BC para justificar consultoria e evolução patrimonial

“Com sua situação política dominando os debates do Congresso, por causa da evolução de seu patrimônio, o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, enviou ontem aos líderes partidários, por e-mail, uma nota assinada pela assessoria com esclarecimentos sobre sua atividade como consultor em que são citados ex-ministros que fizeram o mesmo, além de 273 parlamentares que têm atividades empresariais fora da Casa.

(...) No e-mail, a assessoria de Palocci informa que ele prestou serviços a empresas privadas e que os dados sobre evolução patrimonial e informações fiscais e contábeis da Projeto (empresa em nome da qual comprou um apartamento de R$ 6,6 milhões e um escritório de R$ 882 mil, em São Paulo, no ano passado) são regularmente enviados à Receita.

(...) ‘Os mecanismos utilizados pelo Ministro Palocci para impedir qualquer conflito de interesses foram os mesmos adotados pelos citados’, diz a nota”.

Estes são alguns trechos da manchete da edição de 18 de maio do jornal O Globo.

Esta é mais uma notícia que despertou minha vontade de sobre ela opinar apenas por algumas palavras do título: dizer que agiu como todos. Não consigo aceitar o fato de, ao ser pego por praticar algo condenável, alguém justificar o seu ato alegando fazer o que todos fazem. Ser praticada por todos não torna correta nenhuma ação. Aliás, na sociedade em que vivemos, pode-se dizer, exatamente, o contrário: o que é feito por todos, geralmente, é condenável. Como a qualidade de uma sociedade é resultado das ações de todos os seus componentes, uma honesta avaliação da nossa demonstra que aquilo que todos fazem costuma ser algo reprovável.

Sobre a atividade de consultoria que está por trás de toda a polêmica, vejam o que diz Janio de Freitas em sua coluna na edição de 17 de maio de 2011 do jornal Folha de São Paulo, intitulada As lavanderias.
“As lavanderias que dão maiores lucros não lavam roupas nem outros tecidos. Lavam dinheiro. E não usam o nome de lavanderia. Chamam-se consultorias. Assim como as lavanderias verdadeiras não são consultorias, nem todas as consultorias são lavanderias. Há razões mesmo para acreditar que a maioria não o seja, à parte o grau de competência de cada uma.
(...) Consultorias são preferidas e muito eficazes para quem precisa lavar dinheiro recebido de modo ilícito no exercício de função pública.”
Outro assunto sobre o qual quero opinar é o conflito de interesses citado no último trecho que selecionei da notícia. Em uma sociedade na qual o setor privado vive reclamando da interferência do setor público, jamais deixarão de existir conflitos de interesses. Portanto, atuar, simultaneamente, nos dois setores e alegar inexistência de conflito de interesses é coisa de quem confunde conflito “tratado” por lavanderia com inexistência de conflito. Conflito lavado jamais ficará limpo, tampouco os envolvidos com a lavagem.

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