sexta-feira, 17 de junho de 2011

Eles só pensam naquilo


Mal foi lançado o iPad 2, usuários já esperam pelo iPad 3: consumo além da racionalidade
“Pouco mais de dois meses se passaram desde o lançamento mundial do iPad 2 – que chegou na sexta-feira ao Brasil -, mas applemaníacos já estão pensando no iPad 3. Quando será lançado? Que novidades trará?.E os preços? O design? Inúmeros rumores povoam sites, blogs e tweets. Fontes juram de pés juntos que ele surgirá ainda este ano, em setembro, preparando terreno para as ávidas compras de fim de ano. Segundo especialistas, essa ansiedade revela um comportamento cada vez mais freqüente no mundo tecnológico: a necessidade de consumir lançamentos ignora a racionalidade, e pagar mais por mudanças mínimas é o preço emocional do objeto de desejo.
(...) A gente acaba de comprar aqui, fica todo feliz, aí já lançam a nova geração nos EUA – pondera Souza, que fez questão de chegar ao shopping Iguatemi às 19h da quinta-feira para garantir um lugar no começo da fila.
(...) O fenômeno de pessoas querendo comprar imediatamente a versão recém-lançada deste ou daquele aparelho é típico dos tempos modernos, dizem especialistas.
- É o excesso de consumo – alerta a psicóloga Júnia de Vilhena, professora do Departamento de Psicologia da PUC-Rio e psicanalista do Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro. – Aparelhos de última geração representam insígnias de poder. E as pessoas acabam ficando com a sua identidade atrelada a essas insígnias.
Júnia explica que sempre haverá uma ‘coisa nova’, aquele modelo ou versão mais moderna que nos dará a ilusão de que algum dia teremos o desejo satisfeito. Só que, para a maioria das pessoas, isso nunca acontecerá. Sempre permanecerá um vazio impossível de ser preenchido pelo consumo puro e simples de bens, sejam eles quais forem.
- O ser humano nasce com esse desamparo existencial e vai morrer com ele. O ato de consumir apenas dá uma sensação momentânea de saciedade, seguida de um frenesi correspondente ao sentimento de que ainda está faltando algo... que sempre continuará faltando.”
Estes são alguns trechos de uma reportagem de Carlos Alberto Teixeira e Rennan Setti, publicada na edição de 30 de maio do jornal O Globo.

A maioria (sempre ela) vive na ilusão de que algum dia terá o seu desejo satisfeito. Mas como satisfazer um desejo mal interpretado? Inconscientemente, o desejo do ser humano é de preencher o antigo vazio interior. Porém, o que ele faz é, irracionalmente, tentar preenchê-lo com novidades exteriores. O vazio é de sentimentos e ele tenta preenchê-lo com coisas. Coisas que lhe dão uma sensação momentânea de saciedade, seguida de um frenesi correspondente ao sentimento de que está faltando algo... que sempre continuará faltando.

A psicanalista Júnia de Vilhena diz que o ser humano nasce com esse desamparo existencial e vai morrer com ele, mas há quem discorde desta afirmação. Vejam o que diz Frei Betto.
“Vou com freqüência a livrarias de shoppings. Ao passar diante das lojas e contemplar os veneráveis objetos de consumo, vendedores se acercam indagando se necessito algo.
‘Não, obrigado. Estou apenas fazendo um passeio socrático’, respondo. Olham-me intrigados. Então explico: Sócrates era um filósofo grego que viveu séculos antes de Cristo. Também gostava de passear pelas ruas comerciais de Atenas. E, assediado por vendedores como vocês, respondia: ‘Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz’."
Creio que, apesar de constituir uma minoria, ainda há quem concorde com Sócrates e Frei Betto, e consiga viver sem a ânsia de possuir um iPad 2, 3, 4 ..., .

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