Famosa após traçar um panorama lúcido e sombrio da educação, Amanda Gurgel quer virar líder sindical no RN
“Amanda Gurgel de Freitas, de 29 anos, tinha 17 quando decidiu ser professora. ‘Queria ser como a Claudina’, diz Amanda, referindo-se à professora de espanhol que conheceu no cursinho preparatório para o vestibular. Claudina não tem nem ideia de que serviu de exemplo para impulsionar a carreira da ex-aluna que ficou conhecida nacionalmente depois de um vídeo no YouTube (http://www.youtube.com/watch?v=yFkt0O7lceA). Na ocasião, Amanda falava sobre os percalços da profissão em uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Natal, no Rio Grande do Norte. ‘Ela era muito especial. Além do conteúdo, era muito alto astral e reunia todas as características que uma professora precisa: era simpática, atenciosa’, diz Amanda. ‘Pena que nunca tivemos um contato maior. Nunca falei isso para ela’, diz Amanda.
Determinação. A jovem estudante, que ficou órfã aos 4 anos e não quer ser vista como ‘coitadinha’, cursou o ensino fundamental na rede pública e o ensino médio em escola particular. Fez cursinho porque queria uma vaga no curso de Letras em uma universidade pública. E conseguiu. Passou primeiro na Universidade Estadual de Feira de Santana, onde estudou durante um ano, e prestou vestibular de novo na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em Natal, onde concluiu o curso. ‘Não tinha nenhum parente em Feira de Santana. Quis me mudar para Natal para morar com minha irmã’.
À época, Amanda estudava de dia e trabalhava à tarde e à noite. No segundo ano de faculdade, conseguiu uma bolsa para lecionar no cursinho preparatório que a universidade oferecia para alunos carentes, a um preço simbólico. ‘Foi lá que ganhei experiência em sala de aula’.
A jovem prestou concurso nas redes municipal e estadual – onde dava aulas de português para os ensinos fundamental e médio. Mas o esgotamento físico e mental em sala de aula fez Amanda adoecer e, desde 2008, ela foi afastada da função em decorrência de uma depressão. Ainda em tratamento, diz que pretende voltar para a sala de aula ‘não porque é apaixonante, mas porque não é tão simples estar em cargos de adaptação’.
(...) Apesar da repercussão, Amanda diz não ter pretensão de seguir carreira política como vereadora, deputada ou senadora. Sua meta é conquistar a direção do sindicato dos professores do Rio Grande do Norte – vaga que ela já disputou duas outras vezes.
Amanda diz ter consciência de que sua fama é passageira e diz que quer aproveitar o momento para estar a serviço dos professores. ‘Sinto que é uma missão. Se eu conseguir mobilizar a categoria na web e nas ruas para pressionar o governo, talvez eu tenha plantado uma semente que poderá, um dia, render frutos inéditos’.
Trechos da fala de Amanda na Assembleia
Gostaria de apresentar um número composto de apenas três algarismos: 930. É o valor do meu salário.
Gostaria de perguntar a todos aqui que tenham nível superior e especialização se conseguiriam sobreviver ou manter o padrão de vida com esse salário.
(...) Só quem está em sala de aula, quem pega três ônibus, que pode falar com propriedade sobre isso. Em nenhum governo, em nenhum momento em nossa cidade, em nosso Estado, em nosso País, a educação foi uma prioridade. (...) Estão me colocando dentro de uma sala com um giz e um quadro para salvar o Brasil, é isso? (...) Sou eu a redentora do País? Não posso. Muito menos com o salário que eu recebo”.
Estes são alguns trechos de uma reportagem de Fernanda Bassette, publicada na edição de 21 de maio do jornal O Estado de S. Paulo.
Vale a pena assistir ao vídeo no YouTube. São oito minutos e meio de argumentação consistente sobre algo tão importante e tão negligenciado.
Do que foi dito na reportagem, acho imprescindível destacar o reconhecimento de Amanda Gurgel da influência exercida em sua vida por uma de suas ex-professoras. Segundo Amanda, ela era muito especial. Além do conteúdo, era muito alto astral e reunia todas as características que uma professora precisa: era simpática, atenciosa’.
Diante desse depoimento, creio que cabem as seguintes perguntas:
Simpatia e capacidade de dar atenção são características necessárias apenas para uma professora ou para todo e qualquer profissional?
Será que deveríamos nos interessar mais pela maneira como agimos, pois ela é um exemplo para as pessoas com quem interagimos, principalmente para aquelas com menos idade que nós?
Amanda diz que talvez tenha plantado uma semente que poderá, um dia, render frutos inéditos.
Amanda aproveitou o exemplo dado por Claudina e nós deveríamos aproveitar o exemplo dado por Amanda. Plantemos também uma semente. Quem sabe um dia ela venha a render frutos inéditos? Plantemos mesmo que não sejamos nós os que saborearão os frutos. Se não formos nós serão os nossos descendentes. Afinal, dizemos que os amamos tanto, não é mesmo? Plantar uma semente sempre valerá a pena. Vejam o que nos diz o saudoso Henfil:
“Se não houver frutos, valeu a beleza das flores, se não houver flores, valeu a sombra das folhas, se não houver folhas, valeu a intenção da semente.”
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