Geração Obama vai da esperança à decepção
“‘A operação que matou Osama bin Laden deixou desconcertada uma parte da geração O, que fez campanha e se emocionou com o discurso de paz de Barack Obama. Apesar da alta na popularidade do presidente, jovens estudantes, empresários e militantes ouvidos por Fernando Eichenberg duvidam da legalidade da ação, criticam o uso da tortura para obter a informação e reclamam que Obama aumentou a participação dos EUA em guerras, ao contrário das promessas do candidato em 2008. ‘Fiquei com vergonha de ver as pessoas festejando a morte de alguém, mesmo um terrorista’, diz Cheryl Johnson, presidente de ONG.(...)Alçado à Casa Branca sob inflamados ecos de hope (esperança), change (mudança) e ‘yes, we can’ (sim, nós podemos), Barack Obama frustrou uma parcela dos 69,4 milhões de americanos que o elegeram.(...)Dos vibrantes comícios e promessas de campanha, o incensado candidato Obama passou a ser, na Casa Branca, um presidente questionado por seu próprio campo. E, embora seu índice de aprovação tenha subido de 46% para 57%, segundo a pesquisa CBS News/‘New York Times’ divulgada na sexta-feira, a base que o elegeu se diz decepcionada.(...)- Aqui há pessoas negras e pobres, em moradias públicas. Elas votaram porque pensavam que veriam uma mudança real. Mas vejo as corporações ganhando dinheiro em Walll Street e, todos os dias, famílias sendo expulsas de suas casas. Vejo desesperança, e não mudança, diz Cheryl Johnson.(...)Ele não se apresentou como um presidente tão bélico. Achamos que seria diferente. Muita gente que antes o apoiava agora tem receio sobre o que será feito dessas guerras.(...)Meu desapontamento vai para a ‘forte presença militar’ em diferentes fronts no mundo e ao desfecho da operação em Abbottabad, onde estava Bi Laden, diz Levin, 25, estudante de Engenharia e Administração na Universidade George Washington, que em 2008 vestiu a camiseta da Geração Obama.(...)Annabel Park, fundadora do Coffee Party, movimento criado em oposição ao ultraconservador Tea Party, inclui-se entre os ‘milhares’ de desapontados com certos rumos do governo.(...)– A lição que fica para mim é que temos de acreditar em nós mesmos. Não acredite em Obama, em candidatos, diz Annabel Park.
Estes são alguns trechos de uma reportagem de Fernando Eichenberg, correspondente Washington, publicada na edição de 8 de maio do jornal O Globo.
Falar sobre encruzilhada na postagem anterior me fez lembrar desta notícia. Não opinei sobre ela na época de sua publicação, mas creio que ainda esteja em tempo de fazê-lo.
Sendo algo que simboliza a necessidade de tomar uma decisão e escolher um caminho a seguir, encruzilhadas são muito comuns na vida. Portanto, não é apenas a geração Obama que está em uma, mas neste momento é sobre ela que opinarei.
A geração Obama se diz decepcionada, pois o discurso do candidato não condiz com as ações do presidente. E aqui vai a pergunta. Qual é a novidade? Se fosse diferente, em vez de decepcionadas as pessoas ficariam espantadas. Foi o que aconteceu quando Evo Morales começou a cumprir o que prometera durante a campanha política. Nos países que mantêm relações com a Bolívia, e que o segundo o presidente eleito são desvantajosas, a reação foi além do espanto e chegou ao apavoramento. Foi um verdadeiro Deus nos acuda. Mas, deixemos de lado o espanto e voltemos à decepção.
Acho interessante essa história de decepções. Decepcionados sempre se queixam, mas será que têm razão? Afinal, o que é ficar decepcionado? É constatar que aconteceu algo diferente do que se esperava. Sendo assim, quem é o responsável por uma decepção? Aquele que decepcionou ou o decepcionado? Fico com a segunda opção. Afinal, cabe a cada um, à medida que vai vivendo, desenvolver uma coisa denominada pensamento crítico com o qual estará apto a interpretar o mundo em que vive e, consequentemente, deixar de acreditar em discursos e promessas que não fazem sentido. Vamos a um exemplo.
Dá para acreditar quando um candidato a presidente de um país que tem na receita da venda de armas um de seus principais sustentáculos econômicos promete deixar de participar de guerras? Para mim não, mas para a geração Obama sim. Ela ficou decepcionada, eu não.
– A lição que fica para mim é que temos de acreditar em nós mesmos. Não acredite em Obama, em candidatos, diz Annabel Park.
As palavras acima me fazem lembrar da recente visita do presidente Obama e da euforia com que foi recebido por habitantes deste país. Não me causará nenhum espanto ver entre futuros decepcionados a presença de muitos daqueles eufóricos.
Quanto à encruzilhada em que se encontra a geração Obama tenho a seguinte opinião. Ela representa o momento de escolher entre uma de duas opções: continuar acreditando em discursos que não se sustentam ou passar a interpretar melhor as práticas de seu país.
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