"Por que baixar o preço se o consumidor paga?", pergunta um executivo de montadora
“O Brasil tem o carro mais caro do mundo. Por quê? Os principais argumentos das montadoras para justificar o alto preço do automóvel vendido no Brasil são a alta carga tributária e a baixa escala de produção. Outro vilão seria o alto valor da mão de obra, mas os fabricantes não revelam quanto os salários - e os benefícios sociais - representam no preço final do carro. Muito menos os custos de produção, um segredo protegido por lei.
A explicação dos fabricantes para vender no Brasil o carro mais caro do mundo é o chamado Custo Brasil, isto é, a alta carga tributária somada ao custo do capital, que onera a produção. Mas as histórias que você verá a seguir vão mostrar que o grande vilão dos preços é, sim, o Lucro Brasil. Em nenhum país do mundo onde a indústria automobilística tem um peso importante no PIB, o carro custa tão caro para o consumidor.
(...) O analista Adam Jonas, responsável pela pesquisa, concluiu que, no geral, a margem de lucro das montadoras no Brasil chega a ser três vezes maior que a de outros países.
(...) Para o presidente da PSA Peugeot Citroën, Carlos Gomes, os preços dos carros no Brasil são determinados pela Fiat e pela Volkswagen. As demais montadoras seguem o patamar traçado pelas líderes, donas dos maiores volumes de venda e referência do mercado, disse. Fazendo uma comparação grosseira, ele citou o mercado da moda, talvez o que mais dita preço e o que mais distorce a relação custo e preço. Me diga, por que a Louis Vuitton deveria baixar os preços das suas bolsas?, questionou. Ele se refere ao valor percebido pelo cliente. É isso que vale. O preço não tem nada a ver com o custo do produto.
Quem define o preço é o mercado, disse um executivo da Mercedes-Benz, para explicar porque o brasileiro paga R$ 265.00,00 por uma ML 350, que nos Estados Unidos custa o equivalente a R$ 75 mil. Por que baixar o preço se o consumidor paga?, explicou o executivo.
(...) A montadora põe o preço lá em cima. Se colar, colou.
(...) As fábricas reduzem os custos com o aumento da produção, espremem os fornecedores, que reclamam das margens limitadas, o governo reduz imposto, como fez durante a crise, as vendas explodem e o Brasil se torna o quarto maior mercado do mundo. E o Lucro Brasil permanece inalterado, obrigando o consumidor a comprar o carro mais caro do mundo.”
Texto: Joel Leite/AutoInformeColaboraram: Ademir Gonçalves e Luiz Cipolli
Estes são alguns trechos de uma longa reportagem publicada anteontem no Yahoo.
Dizer que o preço se refere ao valor percebido pelo cliente, que não tem nada a ver com o custo do produto e que quem o define é o mercado são afirmações verdadeiras e... desmoralizantes. Vá perceber valor mal assim, sei lá onde.
Por que baixar o preço se o consumidor paga? As palavras do executivo da Mercedes-Benz deveriam envergonhar os consumidores, pois indiretamente eles foram chamados de otários. Mas eles não estão nem aí. Afinal, paixão não tem preço, não é mesmo? Vocês lembram daquela propaganda da Ipiranga que diz que todo brasileiro é apaixonado por carro? Pois é, as montadoras lembram e por isso põem o preço lá em cima. E os apaixonados pagam o carro mais caro do mundo, provavelmente, com o maior número de prestações do mundo. E proporcionam as montadoras uma margem de lucro três vezes maior que a de outros países.
O questionamento do executivo da Mercedes-Benz deveria nos levar a refletir sobre questões como:
- Será que nós contribuímos para os nossos próprios problemas?
- Será que nossa paixão e avidez por símbolos de status nos levam a pagar por eles mais do que eles valem e do que nós (sem nos endividarmos irresponsavelmente) podemos pagar?
Enquanto não nos dispusermos a refletir sobre as questões acima continuaremos pagando o valor mais caro do mundo não só por carros, mas também por muitas outras coisas. E tirando onda diante de quem não pode pagar. Creio que aquele pedido feito, há 1978 anos, por um grande mestre que passou por este planeta continua válido: “Pai, perdoai-os ... eles não sabem o que fazem“. E haja perdão!
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