sábado, 3 de dezembro de 2011

E-mail aumenta trabalho e estresse dos brasileiros

E-mail e celular estendem jornada de trabalho para casa e até as férias
“‘Eu olho e-mail em casa, andando na rua, no restaurante. Parece que o trabalho não me deixa’. A declaração da publicitária Júlia Eboli, coordenadora de marketing da Tecla Internet, mostra a realidade de um contingente cada vez maior de profissionais.
A combinação entre crescimento mais intenso da economia e avanço nas tecnologias de comunicação tem resultado em aumento das horas trabalhadas no Brasil. Sete em cada dez profissionais – que ocupam cargos como analista, gerente e supervisor – afirmam que passam mais tempo no escritório hoje do que há cinco anos.
Mais da metade diz que o teto da carga horária no escritório saltou de oito para dez horas diárias, e quase 80% são acionados nos momentos de lazer e descanso via mensagens no celular. Nem as férias escapam: mais de 50% dos funcionários de empresas que atuam no país respondem a e-mails de trabalho nesse período.
Esses são resultados de pesquisa feita pela Asap, consultoria de recrutamento de executivos, a pedido da Folha. Foram ouvidas 1.090 pessoas com renda mensal entre R$ 5.000 e R$ 15 mil.
A expansão da economia e as promoções no trabalho são as razões para o aumento da carga horária de trabalho, indica a maior parte dos entrevistados.
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‘Com a globalização, não há mais fuso horário. É preciso ficar ligado o tempo todo, diz Rodrigo Vianna, diretor da HAYS, empresa de recrutamento de executivos.
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Mas o excesso de trabalho tem consequências. Para Elaine Saad, gerente-geral da Right Management, o brasileiro tem forte apego à tecnologia e exacerba o uso de mensagens pelo celular. ‘Isso faz com que as pessoas trabalhem no horário do descanso. E, se você não responde a um e-mail e seu colega responde, você fica com medo de perder o emprego’.
Cansaço e estresse são consequências
Mais cansaço e estresse. Sete em cada dez profissionais ouvidos pela consultoria Asap dizem que esses são os efeitos do excesso de trabalho. ‘Temos hoje uma geração de cansados’, diz Nelson Carvalhaes Neto, médico do Fleury Medicina e Saúde. Segundo ele, a jornada estendida por meio de tecnologias mais avançadas de comunicação é uma das reclamações dos executivos que atende: ‘Os facilitadores de comunicação foram uma cilada. Hoje, ninguém conseguir ficar off-line’.”
Estes são alguns trechos da reportagem de Érica Fraga que é manchete da edição de 28 de novembro de 2011 do jornal Folha de S.Paulo.
“A expansão da economia e as promoções no trabalho são as razões para o aumento da carga horária de trabalho, indica a maior parte dos entrevistados.”
Tenho uma interpretação diferente para a expressão “promoções no trabalho”, indicada pela maior parte dos entrevistados como razão para o aumento da carga horária de trabalho. No meu entender, “promoções no trabalho” significa a venda da “força de trabalho” a preços promocionais. Daí resulta a necessidade de se trabalhar durante uma quantidade de horas cada vez maior para obter uma remuneração capaz de possibilitar o pagamento das dívidas contraídas na aquisição de tantas "necessidades urgentes".
“A combinação entre crescimento mais intenso da economia e avanço nas tecnologias de comunicação tem resultado em aumento das horas trabalhadas no Brasil, aponta a pesquisa.
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Segundo Nelson Carvalhaes Neto, médico do Fleury Medicina e Saúde, a jornada estendida por meio de tecnologias mais avançadas de comunicação é uma das reclamações dos executivos que atende: ‘Os facilitadores de comunicação foram uma cilada. Hoje, ninguém conseguir ficar off-line’.”
Eis o paradoxo da tecnologia. Ela nos tira, exatamente, o que prometia que nos daria: o tempo. Graças a ela, trabalhamos 24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano (366 em anos bissextos).
Mas se alguém pensa que sou contra a tecnologia está muito enganado. O que eu sou contra é o modo equivocado como ela é usada. Em termos de tecnologia divido a espécie humana em dois grupos: uma minoria com inteligência suficiente para inventar equipamentos que são apregoados, e aceitos, como imprescindíveis ao progresso e à evolução humana, e uma imensa maioria com inteligência insuficiente para usá-los de maneira adequada.
Especificamente em relação às tecnologias de comunicação o que ocorre é que o fascínio exercido pela tecnologia leva as pessoas a negligenciar a comunicação. Estamos avançados em termos de tecnologia e atrasados em relação à comunicação, pois comunicar não se resume à transmissão de informações. Comunicação depende da interpretação correta das informações recebidas. Então, se quem as recebe as interpreta de forma equivocada, obviamente, trabalhará mais, pois terá que refazer trabalhos malfeitos. Portanto, o problema da longa duração das jornadas de trabalho não chega a ser a quantidade de trabalhos diferentes a serem feitos, e sim a quantidade de vezes que se faz o mesmo trabalho. Em linguagem corporativa isto é denominado retrabalho.
“Para Elaine Saad, gerente-geral da Right Management, o brasileiro tem forte apego à tecnologia e exacerba o uso de mensagens pelo celular. ‘Isso faz com que as pessoas trabalhem no horário do descanso’.”
E é o forte apego à tecnologia que faz com que em vez de usar as coisas que a tecnologia coloca a sua disposição, as pessoas se coloquem a disposição de tais coisas. Fascinados por novidades tecnológicas elas ficam inventando necessidades artificiais para dar vazão ao seu fascínio. O forte apego à tecnologia faz com que as pessoas trabalhem no horário do descanso.
“Eu olho e-mail em casa, andando na rua, no restaurante. Parece que o trabalho não me deixa”, diz a publicitária Júlia Eboli. (...) “Os facilitadores de comunicação foram uma cilada. Hoje, ninguém conseguir ficar off-line”, diz Nelson Carvalhaes Neto, médico do Fleury Medicina e Saúde.
Hoje ninguém consegue ficar off-line. E, consequentemente, ninguém dorme, pois como diz Rodrigo Vianna, “com a globalização, não há mais fuso horário”. As pessoas checam seus e-mails antes de dormir e chegam a acordar durante a noite para verificar se há algum e-mail para responder, pois se algum colega de trabalho o fizer em seu lugar, segundo elas, isso poderá lhe custar o emprego.
Nossa! Esta postagem ficou mais extensa do que eu pretendia e a noite avançou mais rapidamente do que eu queria. Agora, é programar a publicação para a manhã de sábado e tentar dormir. Tenham um bom final de semana.
Que mundo insano é este criado com o uso inadequado da tecnologia! Oh, homo sapiens! Quão stupidus nós parecemos ser!

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