terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Soluções para os engarrafamentos estão à mão: iPhones, iPods, MP4...

Presos no trânsito, passageiros ouvem música, enviam e-mails e navegam na rede
“Em média, cinco horas por dia, ou quatro dias inteiros por mês no ônibus, quase sempre em vias congestionadas, de casa para o trabalho. Tempo suficiente para o professor Johnnatan Schubert, morador de Duque de Caxias, ouvir músicas, trocar e-mails, tuitar, navegar no Facebook ou tudo mais que aparelhos como o celular (cheio de aplicativos) ou o MP4 permitirem.
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- De celular e MP4 carregados, estou pronto para o congestionamento. Vou tuitando, muitas vezes sobre o próprio trânsito. Só assim para passar o tempo. Já cheguei a levar 4 horas de Caxias à Barra, parado na Linha Vermelha e na Avenida Brasil - afirma Johnnatan, que diz conseguir até planejar um dia inteiro de trabalho enquanto está no ônibus.
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- A cada dia percebo mais carros nas ruas e o trânsito mais parado. Enquanto não houver transporte público de qualidade, as pessoas vão continuar comprando carros, diz a profissional de marketing Tatiana Ferreira.
O que Tatiana constata nas ruas pode ser comprovado em estudos e números. De acordo com projeções de Paulo Cezar Ribeiro, professor de engenharia de transporte da Coppe / UFRJ, na cidade do Rio a velocidade média no trânsito não deve passar de 20 km/h já em 2020 - hoje, segundo ele, essa velocidade gira em torno de 30 km/h. Isso numa perspectiva de que, entre 2016 e 2018, a frota de veículos da cidade ultrapasse a marca de três milhões. E de que, em 2020, esse número de três milhões seja apenas o de automóveis na cidade, sem contar ônibus e caminhões.
De acordo com o Detran, a frota de toda a Região Metropolitana do Rio é de 3.703.670 veículos (dados de outubro). Ou seja, 60% a mais que dez anos atrás, quando a região tinha cerca de 2,3 milhões de veículos.
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- É um crescimento espantoso. Nada indica que isso mudará. E não vejo soluções viárias e de transporte que resolvam, diz Paulo Cezar Ribeiro.
Foi para evitar o estresse no trânsito que o engenheiro Arnaldo Valério tomou a decisão de deixar o carro na garagem nos dias de semana e só usá-lo nos fins de semana. Para ir de casa, na Barra, ao trabalho, em Botafogo, ele aderiu aos ônibus dos condomínios. E no caminho, em vez de dirigir, navega na internet pelo celular e usa o tempo de viagem para ler e-mails do trabalho.
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Já nos carros, está se tornando comum a instalação dos kits multimídia nos painéis. Lojas da Barra e de Jacarepaguá, por exemplo, afirmam que a procura aumentou entre 40% e 50% em um ano, e a oferta de produtos é crescente, com preços que variam de R$ 380 a cerca de R$ 4 mil.
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Colisões traseiras aumentam com kits multimídia
(...) E o entretenimento acaba tendo também seus perigos. De acordo com oficinas mecânicas da cidade, desde o início do boom dos kits multimídia, elas têm registrado um aumento de até 20% nos casos de colisões traseiras, aquelas típicas de quando o motorista está desatento no trânsito.”
Estes são alguns trechos da reportagem de Rafael Galdo publicada na edição de 18 de dezembro de 2011 do jornal O Globo.
Há uma afirmação de James Baldwin, escritor e ativista americano, que considero perfeita para iniciar a minha opinião sobre a reportagem acima. “Nem tudo que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser modificado até que seja enfrentado”. Infelizmente, a maioria (sempre ela!) discorda de Baldwin e agindo assim valida mais uma afirmação de Albert Einstein: “Existem apenas duas coisas infinitas – o Universo e a estupidez humana. E não tenho tanta certeza quanto ao Universo.”
Atentem para o título da reportagem: Soluções para os engarrafamentos estão à mão: iPhones, iPods, MP4.... Gente! Qual é o significado de solução? Segundo o dicionário, solução é um meio de superar ou resolver uma dificuldade, um problema. E então, juntando uma afirmação feita na postagem anterior (Engarrafados, os cariocas apelam para a criatividade e a tecnologia numa tentativa de driblar a irritação) e o que foi dito no início desta, eu faço a seguinte pergunta: Como é que alguém acredita ser possível superar ou resolver um problema apenas tentando driblar a irritação causada por ele e sem ter que enfrentá-lo?
- A cada dia percebo mais carros nas ruas e o trânsito mais parado. Enquanto não houver transporte público de qualidade, as pessoas vão continuar comprando carros, diz a profissional de marketing Tatiana Ferreira.
Detesto a desgastada afirmação, usada pela profissional de marketing, de que enquanto não houver transporte público de qualidade, as pessoas vão continuar comprando carros. Lembra-me, imediatamente, uma antiga e famosa propaganda de biscoitos. “Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?” Eis a questão!
O que deve vir primeiro? A oferta de transporte público de qualidade ou a libertação do fascínio exercido pelo carro sobre a maioria das pessoas? No meu entender, nesta vida, os prejudicados só conseguem alguma coisa se eles próprios estiverem dispostos a exigi-la, pois a grande maioria dos seres que habitam este planeta é incapaz de fazer alguma coisa em prol de outras pessoas que não sejam elas mesmas. Portanto, invertendo a afirmação da profissional de marketing, eu afirmo que enquanto as pessoas continuarem comprando carros, não haverá transporte público de qualidade. Enquanto as pessoas optarem por dar soluções (sic) particulares, em vez de exigir soluções públicas, os carros particulares jamais serão substituídos por transporte público de qualidade.
Enquanto formos um povo apaixonado por carro permaneceremos usando o pretexto de possuir um carro (ou seria ser possuído por ele?) devido à má qualidade do transporte público; produziremos engarrafamentos cada vez maiores e prosseguiremos imaginando ser possível solucionar (sic) engarrafamentos por intermédio de certos “brinquedos” que, em verdade, são fontes de novos problemas, conforme demonstrado a seguir.
“Colisões traseiras aumentam com kits multimídia
De acordo com oficinas mecânicas da cidade, desde o início do boom dos kits multimídia, elas têm registrado um aumento de até 20% nos casos de colisões traseiras, aquelas típicas de quando o motorista está desatento no trânsito.”
Desatenção que é uma das coisas típicas desta sociedade que a cada dia torna mais atuais as palavras de Einstein:
“Existem apenas duas coisas infinitas – o Universo e a estupidez humana. E não tenho tanta certeza quanto ao Universo.”

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