Rio começa a viver cotidiano semelhante ao dos motoristas de São Paulo“Os cariocas começam a sentir na pele o sofrimento do paulistano no trânsito: os engarrafamentos na cidade já não têm mais hora nem lugar para acontecer. Para percorrer os 187,4 quilômetros dos nove principais corredores viários da cidade, os motoristas levariam nove horas e 37 minutos – o triplo do tempo necessário, se trafegassem numa velocidade média de 53 km/h, considerada ideal por especialistas. Só que hoje ela não passa de 20 km/h.O aumento anual de 3,8% da frota, o crescimento de 13% no tráfego da Avenida Brasil e as obras do Porto são algumas das explicações para os intermináveis nós no trânsito. Engarrafados, os cariocas apelam para a criatividade e a tecnologia numa tentativa de driblar a irritação.
Esta é a manchete da edição de 18 de dezembro de 2011 do jornal O Globo.
Este é mais um caso de uso inadequado das coisas. Criado – imagino eu – para diminuir o tempo de deslocamento de um lugar a outro, os veículos motorizados o aumentam cada vez mais. O homem põe e Deus dispõe, diz uma antiga frase. O homem inventa e ele mesmo atrapalha-se com as suas invenções, mostra uma prática mais ou menos recente. Ao usar o carro particular não como um meio de locomoção e sim como um objeto de desejo (de exibir-se diante dos demais), o homem prejudica o deslocamento e cria os engarrafamentos.
“(...) os engarrafamentos na cidade já não têm mais hora nem lugar para acontecer.”, diz a manchete do jornal.
E a situação só tende a piorar, digo eu. Afinal, em um país cujo povo é apaixonado por carros e a classe média tem como ideologia a compra do carro do ano, a fabricação e venda de carros não tem limites, e as montadoras jamais deixarão de “despejar” veículos nas concessionárias para que os apaixonados os comprem.
E, obviamente, tais carros sairão das concessionárias e entupirão as ruas que serão sempre insuficientes para possibilitar o tráfego de tantos carros, independentemente, da quantidade de prédios que sejam derrubados para construir mais pistas. Ampliar os espaços de circulação de automóveis individuais é algo tão estúpido quanto tentar enxugar gelo, pois à medida que tais espaços sejam ampliados, mais carros são colocados para neles circular, os espaços voltam a ficar saturados, novamente precisam ser ampliados e essa alternância entre pseudo-solução e retorno do problema prosseguirá per omnia saecula seaculorum.
Será que é possível, no mundo de hoje, viver em uma cidade sem engarrafamentos? Segundo uma reportagem publicada na edição de dezembro de 2011 da revista Super Interessante, Manhattan demonstra que isso é possível. Ainda segundo a reportagem, lá 75% das famílias não têm carro – contra 8% no resto dos EUA. Infelizmente, neste país, a situação está mais próxima do caso do restante dos EUA.
“Engarrafados, os cariocas apelam para a criatividade e a tecnologia numa tentativa de driblar a irritação.”, diz a manchete do jornal.
O problema é que driblar a irritação diante de engarrafamentos não acaba com eles. E citar o apelo para a tecnologia numa tentativa de driblar a irritação me lembra a seguinte afirmação de Albert Einstein:
“Não podemos resolver nossos problemas usando o mesmo tipo de pensamento que os criou.”
Portanto, se o problema foi causado pelo uso inadequado de tecnologia não é por meio dela que o resolveremos. Mas, infelizmente, esta sociedade fascinada por tecnologia aceita conviver com problemas causados pelo uso equivocado de uma coisa usando equivocadamente outras. Bem, mas isto é assunto para a próxima postagem.
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