quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Um Dia para Desconectar

Desligando - Campanha quer tirar as pessoas da internet móvel e devolvê-las à vida a seu redor

“Você já parou para pensar quanto de tempo perde usando seu telefone celular quando está com mais gente ao seu redor? Mais do que tempo o quanto de contato pessoal você perde ao desconectar-se da realidade em que está inserido para ficar checando mensagens, vendo e-mail ou navegando na internet pelo aparelho portátil? É como se você desligasse tudo que está a sua volta para entrar em um mundo umbilical, em que só o que acontece na pequena telinha do celular importa. Foi pensando nisso que o rabino norte-americano Zechariah Wallerstein criou a campanha A Day to Disconnect (Um Dia para Desconectar), que clama para que as pessoas deixem seu celular em segundo plano e passem a aproveitar melhor a vida. No vídeo da campanha, dá para ver o que acontece com quem fica apenas no mundinho da internet móvel e esquece o que está acontecendo fora dela.
Caos Social. A paródia de A Rede Social sobre a criação Facebook, A Rede Social 2 retrata um mundo descontrolado com o fim do site. http://yuotu.be/95N3EV4ajAoE".
Esta é a íntegra de uma notícia publicada na edição de 4 a 10 de dezembro de 2011 da revista TV que é parte integrante da edição dominical do jornal O Estado de S. Paulo.
A notícia foi publicada há dois meses, mas só agora estou opinando sobre ela, pois outras foram escolhidas antes, mas o recebimento de um e-mail do site Submarino deixou evidente que chegara o momento de opinar sobre ela. O e-mail é intitulado Fique conectado 24h e saiba das últimas novidades. Infelizmente, essa é a propaganda exaustiva da época atual: Manter-se conectado durante as 24 horas do dia para saber das novidades. Conectado a que? A qualquer coisa que impeça a conexão com tudo o que está a nossa volta. E para saber de qual tipo de novidades? Daquelas que nos distraem do que deveria nos interessar na busca de uma vida melhor. Sim, pois a obtenção de uma vida, realmente, melhor não dispensa a necessidade do autoconhecimento, e este jamais será alcançado enquanto escolhermos passar a vida distraindo-nos com toda e qualquer novidade que nos seja oferecida.
A obtenção de uma vida melhor passa, obrigatoriamente,  pela atenção a algumas antiguidades, dentre elas um aforismo grego que segundo a tradição estaria inscrito nos pórticos do Oráculo de Delfos na antiga Grécia: "Conhece-te a ti mesmo". Mas como conhecer a si mesmo dedicando todo o seu tempo para saber das novidades sobre a vida de outros?
A edição de 09.10.2011 da Revista O Globo traz, no espaço do brilhante cartunista Bruno Drummond, a seguinte cena: Um jovem sentado, uma jovem com a cabeça encostada em uma de suas pernas e ambos tentando fazer conexões remotas. Então, a jovem diz “perdi a conexão”; o jovem responde “eu também” e faz a seguinte pergunta: “E agora? Com quem a gente vai conversar?” Ou seja, o fascínio provocado pelo atual estágio da tecnologia da comunicação provoca algo paradoxal: aproxima-nos de quem está distante e afasta-nos de quem está próximo. E no limite, ele nos afasta de nós mesmos, isto é, de nossa alma.
Há uma história que li na coluna de Paulo Coelho em um jornal carioca, que focaliza uma das consequências da pressa que caracteriza os dias atuais, mas que, no meu entender, serve também para mostrar um dos resultados do deslumbramento causado pela conexão 24 horas com as novidades oferecidas por esta sociedade ávida por fugir de si mesma. Os grifos são meus.
“B. Chattwin conta que um explorador branco, ansioso para chegar logo ao seu destino no coração da África, pagava um salário extra para que os seus carregadores andassem mais rápido. Durante vários dias, os carregadores apressaram o passo. Certa tarde, porém, todos sentaram-se e depositaram seus fardos, recusando-se a continuar. Por mais dinheiro que lhes fosse oferecido, os carregadores não se moviam. Quando, finalmente, o explorador pediu uma razão para aquele comportamento, obteve a seguinte resposta: ‘Andamos muito depressa, e já não sabemos mais o que estamos fazendo. Agora precisamos esperar até que nossas almas nos alcancem’.”
Em minha opinião, a ansiedade de conexão produz o mesmo efeito daquela pela chegada ao seu destino, citada na história acima. Andamos muito depressa, e já não sabemos mais o que estamos fazendo. Agora precisamos esperar até que nossas almas nos alcancem, diz a história contada por B. Chattwin. Conectamo-nos, durante 24 horas, com o que esteja fora de nós, distanciamo-nos tanto de nossas almas que, muitas vezes, passamos a agir como se não tivéssemos alma.
Acho maravilhosa a possibilidade de reencontrar velhos amigos reais que a vida afastou de nós, e de com eles manter contatos, mas daí a vivermos conectados a uma legião de amigos virtuais "adicionados" a nossa vida vai uma enorme diferença. Portanto, creio que seja urgente ocupar melhor o tempo que nos é dado, e concordo com a ideia do rabino Zechariah Wallerstein de que seja necessário Um Dia para Desconectar. E que nesse dia consigamos estabelecer uma ordem de prioridades que seja mais conveniente para alcançar um estilo de vida que esteja em harmonia com os que estiverem ao nosso redor, com os que estiverem distantes de nós e com a própria natureza. 
É por concordar com a necessidade de dias para desconectar que uso um razoável intervalo de tempo entre as postagens dos meus blogs, pois, por maior que seja a insistência para nos convencer do contrário, a vida não se resume a ficar checando mensagens, vendo e-mails ou navegando na internet pelo aparelho portátil. A vida vai muito além do que é ensinado nesta época de fascínio pelo virtual em detrimento do que é real. Bem, esta é a minha opinião, mas qual será a de vocês?

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