“Alexandre Nero possui uma teoria interessante sobre Baltazar, seu personagem em 'Fina Estampa'. O ator acredita que o jeito rude do valentão tem a ver com o fato de ele se sentir inseguro. Ele falou sobre o assunto à revista 'Mensch' de janeiro.'Eu compreendi esse cara (o personagem Baltazar), eu o entendi, e por isso hoje me afeiçoei a ele. Acredito que a violência seja um pedido de socorro. Acho que é um homem que nunca foi amado, nunca foi acariciado pela mãe ou pai, se é que conheceu um dos dois. É um homem que virou um casca dura, justamente por ser frágil. Os valentões, no fundo, são uns bunda-moles e inseguros', opinou o ator.Nero teorizou, ainda, sobre o novo papel do homem na sociedade. 'As novas mulheres chegaram e estão chegando cada vez mais, e nós homens precisamos conquistar o nosso espaço, que também nos pertence. E eu me pergunto: 'Que lugar é esse?'. Penso que seja um lugar que antes era exclusivo delas. O espaço da docilidade, da delicadeza, de não ter medo de se mostrar indefeso, frágil, inseguro', afirmou."
Esta é a íntegra de uma notícia publicada em 28 de janeiro de 2012 no Yahoo, como manchete da “seção” intitulada Entretenimento.
A teoria interessante sobre Baltazar, seu personagem em 'Fina Estampa', que Alexandre Nero possui não é dele, porém é importantíssimo que ele a defenda, pois atores e pessoas famosas costumam influenciar mais o comportamento de pessoas "comuns" do que os próprios criadores das teorias.
Concordo com a crença de Alexandre Nero de que a violência seja um pedido de socorro. Um socorro para que alguém lhe ofereça algo que talvez nunca tenha recebido: amor, carinho, afeto, atenção verdadeira etc. Ou que tenha deixado de receber a partir de determinado momento de sua vida. São poucos os espíritos cujo estágio evolutivo assemelhe-se ao de Chico Xavier que, deixando de ter uma mãe carinhosa e passando a ter uma madrasta que o maltratava, jamais apelou para a violência para pedir socorro. O comportamento de Chico Xavier constitui uma exceção. Em uma palestra do famoso orador espírita baiano Divaldo Pereira Franco que assisti há muitos anos, na Concha Acústica da UERJ, ele contou o seguinte episódio.
"Há alguns anos, eu caminhava por uma Rua do Rio de Janeiro quando fui abordado por um jovem assaltante armado. Ao ouvir o anúncio de que era um assalto, virei-me para o assaltante e perguntei-lhe ternamente: Meu filho, por que você faz isso? Surpreso com a expressão e a entonação usadas por mim, o assaltante me disse: Há quanto tempo eu não sou chamado de 'meu filho', pois só a minha me chamava assim. E dizendo isso, ele desistiu de assaltar-me. Ele mudou o rumo de sua vida e nesta noite está aqui entre os assistentes desta palestra."
Quem nunca foi acariciado pela mãe ou pelo pai, se é que conheceu um dos dois, tende a ser um indivíduo emocional e sentimentalmente frágil e inseguro, e na tentativa de superar tal fragilidade e insegurança e tornar-se respeitado, geralmente, apela para a prática da violência e da valentia.
Diferentemente do que muitos pensam, o que foi dito no parágrafo acima atinge a todas as classes sociais, pois conhecer a mãe e o pai não é apenas saber quem eles sejam, mas também conhecê-los por interagir com eles, coisa a cada dia mais difícil em uma civilização que privilegia algo denominado terceirização. O que é terceirização? É deixar sob a responsabilidade de terceiros qualquer coisa que não seja considerada atividade fim em relação ao que se pretende produzir. E em uma civilização na qual a finalidade das pessoas é a realização profissional e não a realização como pais, interagir com os filhos é algo relegado, no mínimo, a segundo plano.
Relegamos a segundo plano a realização como pais, terceirizamos a educação daqueles que trouxemos a este mundo e nos revoltamos quando nos tornamos vítimas da violência gerada por uma sociedade que não sabe estabelecer corretamente suas prioridades. Somos seres, realmente, muito estranhos.
Seres estranhos que foram criados como sexos complementares, mas que até hoje não conseguem conviver em harmonia, pois insistem em se ver como sexos opostos. E com essa visão deturpada, o homem, desde longa data, mantém a mulher sob o seu jugo. Jugo do qual ela consegue livrar-se cada vez e livrando-se o assusta, pois mexe com o sistema de forças da sociedade.
Discordo da opinião de Alexandre Nero quanto à necessidade de os homens conquistarem um espaço que era exclusivo das mulheres: o espaço da docilidade, da delicadeza, de não ter medo de se mostrar indefeso, frágil, inseguro. Não vejo tal coisa como uma necessidade de conquista de espaço e sim como a necessidade de, finalmente, homens e mulheres entenderem que constituem uma dualidade divina criada para que cada uma das partes aprenda com a outra e dela incorpore atributos que devem ser comuns a seres que almejem conviver em harmonia. Harmonia que é fundamental tanto para o sucesso de uma escola de samba em seus desfiles carnavalescos quanto para o êxito de homens e mulheres em sua passagem por esta escola chamada vida.
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