quinta-feira, 19 de março de 2015

Com drogas, PIB do Reino Unido supera o francês

Nova metodologia que inclui também negócios gerados pela prostituição eleva resultado
A revisão da metodologia que mede o crescimento da economia do Reino Unido, que por orientação da União Europeia passou a contabilizar atividades como prostituição e tráfico de drogas, fez o país ultrapassar a França e se tornar a quinta maior economia do mundo em 2014, segundo dados compilados pela consultoria britânica Centre for Economics and Business Research (Cebr). Já a Rússia, em meio a uma crise econômica devido à queda nos preços do petróleo e às sanções ocidentais, caiu da oitava para a décima.
A vantagem britânica sobre os franceses, porém, é mínima. Enquanto o PIB britânico é de US$ 2,828 trilhões, o francês é de US$ 2,827 trilhões. Na prática, isso quer dizer que a superação pode ser apenas uma diferença estatística ou um efeito cambial. Quando o Reino Unido anunciou a revisão da metodologia, em junho, levando a uma alta de quase 5% no valor de seu PIB revisado, economistas alertaram que se tratava apenas de uma nova contabilidade e não de um sinal real da força da economia. Os franceses ainda não aplicaram a revisão metodológica.
Já a queda da posição russa registrada pelos números do Cebr é bem mais expressiva. O país, cuja moeda perdeu mais de 40% de valor neste semestre, viu seu PIB passar de US$ 2,118 trilhões em 2013 para US$ 1,932 trilhão. Assim, o país foi ultrapassado por Itália, que passou da nona para a sétima colocação, e a Índia, que deixou o décimo lugar e assumiu o nono.
O Brasil aparece na lista deste ano exatamente na mesma posição de 2013, no sétimo lugar. Seu PIB, no entanto, é um pouco mais modesto em 2014: US$ 2,216 trilhões, ante US$ 2,243 trilhões no ano passado. Já as previsões são positivas: o país deve avançar uma posição em uma década, com um PIB de US$ 3,899 trilhões, e mais uma posição, para o quinto lugar, em 2029, com US$ 5,275 trilhões.
O ranking compilado pelo Cebr é liderado por EUA, China, Japão e Alemanha. A expectativa é de que os chineses superem os americanos em 2025 em vez de 2028, como se acreditava até o ano passado.
Esta é a íntegra de uma notícia assinada por Andrea Freitas, publicada na edição de 27 de dezembro de 2014 do jornal O Globo.
Nesta civilização que privilegia o aspecto econômico em detrimento de qualquer outro, não há um só dia em que os tendenciosos meios de comunicação a serviço dos que se consideram donos do mundo deixem de divulgar alguma notícia focalizando os índices econômicos usados para medir o sucesso ou o insucesso das economias dos principais países do planeta. Sendo assim, esse é um tipo de notícia que não desperta a atenção de quem entende que na vida existem aspectos mais importantes do que o econômico, mas no caso dessa apresentada acima minha reação foi diferente. Por quê? Por causa da forma como a jornalista apresenta o título da notícia: Com drogas, PIB do Reino Unido supera o francês.
Ou seja, apelando para algo supostamente condenável, mas na prática tolerável nesta sociedade hipócrita, um país superara um concorrente, em termos de PIB. E ao perceber que a notícia faz referência a algo assim lembrei uma conhecida frase de Robert Kennedy: "O PIB mede tudo, exceto aquilo que torna a vida digna de ser vivida." Frase proferida em março de 1968, em um memorável discurso na Universidade de Kansas durante sua campanha à presidência dos EUA e no qual Robert cita uma série de atividades condenáveis que concorrem para a elevação do PIB americano.
No mês seguinte ao memorável discurso, Robert recebeu, no palanque em que estava em Indianápolis, um bilhete comunicando a morte de Martin Luther King Jr e anunciou-a assim para a plateia: "Tenho uma péssima notícia para dar-lhes. Martin Luther King foi assassinado, assim como meu irmão. E, cabe a nós que ficamos, lutar pela causa pela qual eles sacrificaram suas vidas: a justiça e a igualdade entre os homens.".
Em junho do mesmo ano, foi a vez de Robert Kennedy ser assassinado, aos 42 anos. Sendo assim, "cabe a nós que ficamos, lutar não só pela causa pela qual eles sacrificaram suas vidas: a justiça e a igualdade entre os homens, mas também pela conscientização das pessoas quanto às consequências que a equivocada importância dada ao PIB causa em nossas vidas. E é na tentativa de contribuir para tal conscientização que lhes repasso um trecho do memorável discurso de Robert Kennedy.
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"Sejamos claros desde o início: não encontraremos um propósito para a nossa satisfação pessoal na mera corrida pelo progresso econômico, nem na infindável acumulação de bens materiais. Não podemos medir o espírito nacional com base no índice Dow Jones, nem os sucessos nacionais com base no Produto Interno Bruto (PIB).
Porque o nosso Produto Interno Bruto nacional compreende a poluição do ar e a publicidade dos cigarros, e as ambulâncias para desimpedir as nossas autoestradas das carnificinas. Inclui na conta as fechaduras especiais com que trancamos as nossas portas, e as prisões para aqueles que as arrombam.
O nosso PIB compreende a destruição das sequoias e a morte do Lago Superior.
Cresce com a produção de napalm, dos mísseis e das ogivas nucleares, e compreende também a pesquisa para melhorar a disseminação da peste bubônica. O nosso PIB se infla com equipamentos que a polícia usa para reprimir as revoltas em nossas cidades. E, embora não diminua devido aos danos que as revoltas provocam, aumenta quando se reconstroem os bairros pobres sobre as suas cinzas.
Compreende o fuzil de Whitman e a faca de Speck, e a transmissão de programas de televisão que celebram a violência para vender mercadorias às nossas crianças.
Se o nosso PIB compreende tudo isso, não leva em conta também o estado de saúde de nossas famílias, a qualidade de sua educação ou a alegria de suas brincadeiras. É indiferente à decência de nossas fábricas e à segurança de nossas estradas. Não compreende a beleza de nossa poesia ou a solidez de nossos casamentos, a inteligência de nossas discussões ou a honestidade de nossos funcionários públicos.
Não leva em conta nem a justiça de nossos tribunais, nem a justeza das relações entre nós.
O nosso PIB não mede nem a nossa argúcia, nem a nossa coragem, nem a nossa sabedoria, nem o nosso conhecimento, nem a nossa compaixão, nem a devoção ao nosso país.
Em poucas palavras, mede tudo, exceto aquilo que torna a vida digna de ser vivida; e pode nos dizer tudo sobre a América, exceto se somos orgulhosos de ser americanos."

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