Esse seria o primeiro passo para um plano cogitado em São Paulo desde a gestão Maluf (1993-1996)O prefeito João Doria (PSDB) estuda implantar uma tarifa maior nos ônibus de São Paulo para o passageiro que optar pelo pagamento em dinheiro. A medida seria uma espécie de primeiro passo para a supressão dos cobradores nos ônibus da cidade, plano que é cogitado desde a gestão Maluf (1993-1996), mas que, por causa de protestos da categoria e em decorrência de imbróglios judiciais, nunca saiu do papel.
Com a tarifa diferenciada, Doria quer reduzir ainda mais o já pequeno percentual de pessoas (6%) que fazem o pagamento em dinheiro dentro dos ônibus. A ideia é chegar a próximo de zero, tornando a função de cobrador inútil. A disseminação dos cartões com chips para o pagamento de passagens tornou tecnicamente obsoleta a função de cobrador, ainda que a pressão sindical tenha conseguido manter até agora os cerca de 20 mil empregos no sistema paulistano.
Na prática, o que ocorre é um grande desperdício de recursos. Os cobradores arrecadam por ano cerca de R$300 milhões em dinheiro nas catracas, sendo que custam R$ 900 milhões ao sistema. "Já passou da hora de usarmos a tecnologia para reduzir o custo do sistema", diz o vereador paulistano Police Neto (PSD).
Francisco Christovam, presidente do sindicato das empresas de ônibus, afirma que é possível extinguir a função de cobrador sem promover uma demissão em massa. Segundo ele, muitos profissionais podem ser aproveitados em outros cargos, como motoristas, assistentes administrativos, borracheiros etc.
Valdevan Noventa, presidente do sindicato dos motoristas e cobradores, diz que a prefeitura e as empresas estão olhando apenas pelo aspecto financeiro. Ele argumenta que, sem o cobrador, as viagens vão demorar bem mais, pois além de arrecadar o dinheiro da passagem e cuidar do troco, o motorista terá de responder aos passageiros que pedem informação, reduzindo sua atenção ao volante. "O cobrador auxilia a população e o motorista", afirma.
Procurado pela reportagem para falar sobre a tarifa diferenciada e a supressão dos cobradores, Sérgio Avelleda, secretário dos Transportes, não concedeu entrevista. Em nota, sua assessoria afirmou que "nada será feito que resulte em demissão ou perda de posto de trabalho". A prefeitura, segundo a nota, estuda a recolocação dos cobradores em outras atividades dentro do sistema.
Estes são alguns trechos de uma reportagem de Rogério
Gentile, publicada na edição de 6 de fevereiro de 2017 do jornal Folha de S.Paulo.
"A medida seria uma espécie de primeiro
passo para a supressão dos cobradores nos ônibus da cidade, plano que é
cogitado desde a gestão Maluf (1993-1996)", diz Rogério Gentile. Ou seja,
vinte e quatro anos se passaram sem que os governantes (sic) tenham desistido de
seu nefasto plano de extinguir a função de cobrador nos ônibus. Eis a primeira coisa
a aprender com a reportagem: quando realmente se deseja algo, persistir é
imprescindível.
"Extinguir a função de cobrador sem
promover uma demissão em massa, pois muitos profissionais podem ser
aproveitados em outros cargos, como motoristas, assistentes administrativos,
borracheiros etc.", afirma o presidente do sindicato das empresas de
ônibus. Eis a segunda coisa a aprender: questionar afirmações e promessas
feitas por quem tenha interesses que conflitem com os seus.
Como assim, "cara pálida"? De "todos"
os que se deseja demitir (cerca de 20 mil) quantos estarão entre os "muitos"
que poderão ser aproveitados? Como será feito o aproveitamento? Haverá um
enorme aumento da frota de ônibus para criar vagas para os cobradores transformados
em motoristas ou a intenção é usá-los para substituir os atuais motoristas,
seguindo aquela velha e nefasta prática de demitir quem ganha mais para admitir
quem sujeite-se a ganhar menos? Afinal, em uma sociedade baseada em uma lei
intitulada lei da oferta e da procura,
a maioria dos que ficam desempregados geralmente sujeita-se a trabalhar pelo
salário que lhe for oferecido, por mais irrisório que ele seja.
"Já passou da hora de usarmos a
tecnologia para reduzir o custo do sistema", diz o vereador paulistano
Police Neto (PSD). E nessa linha de "usar a tecnologia para reduzir o
custo do sistema", será que o próximo plano cogitado pelos gestores e seus
parceiros é a extinção da função dos motoristas de ônibus? Em termos de
transporte individual, nos Estados Unidos, já houve, por parte do Uber, um período de testes com carros
sem motorista. Segundo as últimas notícias que li sobre o assunto, houve um
recuo do Uber e atualmente os testes
estão interrompidos.
E ao falar em recuo e interrupção, volto ao
primeiro parágrafo dos meus comentários sobre a reportagem. Eis a primeira coisa a aprender com a
reportagem: quando realmente se deseja algo, persistir é imprescindível. Vinte
e quatro anos após terem cogitado o plano de extinção da função de cobrador nos
ônibus, os governantes tentando. Portanto, vocês acham que o Uber desistirá da ideia de acabar com os
carros com motoristas? Sabe de nada, inocente!
"Já passou da hora de usarmos a tecnologia para reduzir o
custo do sistema", diz o vereador paulistano Police Neto (PSD). E nessa história
de passar da hora e de tecnologia, será que já não passou da hora de
percebermos que a finalidade da tecnologia não é a redução do custo do sistema,
e sim o aumento da probabilidade de a autodenominada espécie inteligente do
universo algum dia conseguir atingir a "humana
idade". A idade na qual o homem conseguirá, finalmente, tornar-se humano. A idade em que,
finalmente, o homem conseguirá viver em um ambiente que faça jus a um termo
que, no meu entender, até hoje tem sido banalizado. Que termo é esse?
Civilização.
Termo magnificamente definido em uma afirmação
de Alexis Carrel (1873 – 1944). Cirurgião,
fisiologista, biólogo e sociólogo que, em 1912, recebeu o Prêmio Nobel de
Medicina e Fisiologia, autor de um livro publicado em 1935, com o título O
Homem, Esse Desconhecido, traduzido, reeditado e transformado num
grande êxito mundial até a década de 1950, Carrel fez é autor da seguinte afirmação?
"A civilização não tem como finalidade o progresso das máquinas; mas, sim
o do homem".
"A civilização não tem como finalidade o
progresso das máquinas; mas, sim o do homem", disse o autor de O Homem,
Esse Desconhecido, em 1935. "Já
passou da hora de usarmos a tecnologia para reduzir o custo do sistema",
diz o vereador paulistano Police Neto (PSD). Ou seja, oitenta e dois anos
depois, o homem permanece desconhecido. E nessa condição, equivocadamente, ele
segue acreditando que usar a tecnologia para tornar inútil o ser humano seja a solução
para os seus problemas. Sabe de nada, estúpido! E como nos alerta a Legião Urbana em uma de suas belas
canções: "Nos perderemos entre monstros da nossa própria criação".
Assim como já nos alertava o filósofo alemão Gunther Anders (1902 – 1992), em
uma afirmação feita em 1957: "O fascínio pelo progresso nos faz
cegos para o apocalipse." Fascínio pelo progresso misturado com desinteresse
pela sabedoria formam uma mistura sinistra!
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