terça-feira, 5 de setembro de 2017

Para onde estão indo os megarricos?

Megarricos buscam refúgio na Nova Zelândia contra colapso capitalista
Temor de ricos é que ocorra revolta popular devido à desigualdade em alta; Trump é outro fator para interesse
As vistas são deslumbrantes: cervos selvagens circulam pela área e uma floresta oferece lenha suficiente para aquecer qualquer bilionário que se respeite mesmo no pior inverno nuclear.
A Lake Hawea Station, uma propriedade de 4.605 hectares na região central Otago, é uma das propriedades autossuficientes que vêm surgindo em número crescente na Nova Zelândia. Elas são tipicamente vendidas a compradores internacionais e, de acordo com alguns comentaristas, se tornaram a nova mania entre os megarricos do planeta que estejam em busca de proteção contra o futuro colapso do sistema capitalista.
"Cerca de 40% de nossos clientes são norte-americanos – eles querem privacidade, segurança e uma bela paisagem rural", disse o corretor Matt Finnigan. "Imóveis sustentáveis em geral oferecem fontes próprias de água e energia e capacidade de cultivar alimentos", ele diz. A chegada de imigrantes ricos ao país ganhou destaque na semana passada com a notícia de que Peter Thiel, cofundador do PayPal, estava entre os 92 candidatos a quem foi secretamente concedida a nacionalidade neozelandesa, contornando os trâmites regulares.
Pouco antes, um artigo publicado pela revista "New Yorker" identificou a Nova Zelândia como destino preferencial para os ricos que querem sobreviver caso a crescente desigualdade venha a provocar uma revolta popular. "Dizer que você está comprando uma casa na Nova Zelândia é uma daquelas coisas subentendidas", disse à revista Reid Hoffman, cofundadora do Linkedin.
"Dizer que você está comprando uma casa na Nova Zelândia é uma daquelas coisas subentendidas"
Reid Hoffman (cofundadora do Linkedin)
Além de Thiel, a lista de americanos ricos que têm imóveis na Nova Zelândia inclui o cineasta James Cameron, o guru dos fundos de hedge Julian Robertson. Diversos russos ricos também têm imóveis no país. O país de 4,3 milhões de habitantes está desfrutando de um boom de imigração e investimento estrangeiro. O governo do país aprovou a aquisição de 466 mil hectares de terras por estrangeiros em 2016, quase 60% mais do que no ano anterior A entrada líquida de imigrantes também atingiu o recorde de 70,6 mil pessoas no ano passado.
Há sinal de que o interesse dos norte-americanos pela Nova Zelândia continua alto. Na semana posterior à vitória de Donald Trump, o serviço de imigração da Nova Zelândia reportou que 13 mil cidadãos dos EUA haviam expressado interesse em trabalhar ou estudar no país – cerca de 17 vezes mais pedidos que em uma semana típica.
Mas muitos neozelandeses rejeitam a ideia de que os ricos estejam acorrendo ao país para se proteger contra desastres em seus países. "Com voos diretos, a proximidade do país com relação à costa oeste dos Estados Unidos o torna atraente para os norte-americanos", diz Justin Murray, fundador do Murray & Co., um banco de investimento neozelandês.
Esta é a íntegra de uma reportagem publicada na edição de 07 de fevereiro de 2017 do jornal O Folha de S.Paulo, com a indicação de ter sido publicada no Financial Times e com tradução atribuída a Paulo Migliaccio.
Após uma postagem intitulada "Para onde foi a classe média?", eis uma que intitulei "Para onde estão indo os megarricos?".
"Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem", eis a célebre súplica feita por um mestre que deixou esta dimensão há 1984 anos. Uma súplica bastante abrangente, mas onde não estão incluídos os protagonistas da reportagem acima, pois os megarricos sabem o que fazem. E justamente por saberem o que fazem, o que fazem eles agora? Acostumados a comprarem tudo e todos, eles partem para a compra de um lugar onde possam encontrar "proteção contra o futuro colapso do sistema capitalista" e onde possam "sobreviver caso a crescente desigualdade venha a provocar uma revolta popular". Enfim, um lugar onde possam fugir das consequências do que – sabendo o que fazem - eles fizeram até aqui. Vocês lembram um trecho de uma bela canção da Legião Urbana que diz "Nos perderemos entre monstros da nossa própria criação"? Mutatis mutandis, cantado pelos megarricos ele fica assim: "Nós fugiremos desses monstros da nossa própria criação".
"A chegada de imigrantes ricos ao país ganhou destaque na semana passada com a notícia de que Peter Thiel, cofundador do PayPal, estava entre os 92 candidatos a quem foi secretamente concedida a nacionalidade neozelandesa, contornando os trâmites regulares.", diz a reportagem.
Interpretar a concessão secreta de alguma coisa, contornando os trâmites regulares, como prática de corrupção faz sentido para vocês?
"As vistas são deslumbrantes: cervos selvagens circulam pela área e uma floresta oferece lenha suficiente para aquecer qualquer bilionário que se respeite mesmo no pior inverno nuclear.", diz a reportagem.
Depois de destruírem tanta "deslumbrância" e exterminarem tantos animais selvagens em busca do lucro que os colocou na condição de megarricos, eles saem por aí comprando vistas deslumbrantes onde ainda circulem alguns espécimes que tenham conseguido sobreviver e onde ainda existe "uma floresta que oferece lenha suficiente para aquecer qualquer bilionário que se respeite mesmo no pior inverno nuclear". "Um bilionário que se respeite mesmo no pior inverno nuclear", e que nada mais respeite mesmo na melhor das demais estações. Sinistro, não.
Publicado em 2007 pela Editions du Seuil e em 2010 pela Editora Globo há um interessante livro de Hervé Kempf que na edição brasileira recebeu o seguinte título: Como os ricos destroem o planeta. Os vermelhitos não são meus, e sim da própria editora.

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