quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Para onde foi a classe média?

Economista do MIT defende que os EUA se tornaram uma nação só de ricos e pobres
A economia norte-americana, quem diria, com ares terceiro-mundistas. No lugar de uma classe média historicamente robusta, ganham cada vez mais espaço dois grupos separados por um abismo: ricos e pobres. E quem antes estava no meio perde seu poder de compra. É o que mostra Peter Temin, economista do MIT, em seu livro The Vanishing Middle Class: Prejudice and Power in a Dual Economy ("A classe média desaparecida: preconceito e poder em uma economia dupla", sem edição no Brasil). Para ele, os Estados Unidos são hoje uma sociedade fraturada, por diversos motivos: políticas públicas, avanço da tecnologia, declínio da sindicalização – e tudo isso intensificado por questões raciais, num país cujo presidente defende que os inimigos são as minorias étnicas e não os poderosos que fogem dos impostos. Mas não é um caminho sem volta. O remédio óbvio é o de sempre: mais investimento em educação em todos os níveis. As pessoas são o principal recurso do país, escreve Temin.
Esta é a íntegra de uma reportagem de Edson Caldas publicada na edição de agosto de 2017 da revista Época Negócios.
Para onde foi a classe média? Considerando o que defende o economista do MIT – "que os EUA se tornaram uma nação só de ricos e pobres" –, no meu entender, ela foi transferida para as duas classes remanescentes, segundo a seguinte proporção: uma parcela ínfima foi para a dos ricos e uma imensa parcela foi para a dos pobres.
Quanto à afirmação de Peter Temin de que "Não é um caminho sem volta. Que o remédio óbvio é o de sempre: mais investimento em educação em todos os níveis, pois as pessoas são o principal recurso do país.", a comparação com algo que li em um artigo de Mauro Santayana publicado na edição de 22 de junho de 2008 do Jornal do Brasil sob o título A guerra entre os ricos e os pobres é, no meu entender, bastante desanimadora.
"Entre as assustadoras denúncias de projetos do neoliberalismo e da globalização, para a exclusão, há a de um encontro ocorrido na Califórnia, nos anos 80, em que alguns economistas e sociólogos, americanos e europeus, sob o patrocínio dos banqueiros, concluíram que era necessário afastar do consumo 4/5 da população mundial, a fim de garantir o padrão de vida dos 20% restantes. Os demais deveriam ser marginalizados da comunidade planetária, até sua extinção, mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou de outra. Os fatos parecem confirmar esse monstruoso projeto, que a consciência ética (a cada dia mais escassa) abomina."
Nove anos após a publicação do artigo, no meu entender, "os fatos continuam parecendo confirmar esse monstruoso projeto" e em nada sugerem que "o remédio óbvio de sempre: mais investimento em educação em todos os níveis" citado por Temin será aplicado, pois, diferentemente do que ele acha, as pessoas não são o principal recurso do país. Até porque, em uma civilização (sic) que tem como uma de suas principais pretensões a substituição de pessoas por robôs, dizer que pessoas são o principal recurso de um país é algo que, para mim, não faz o menor sentido.
Considerando respondida a pergunta – Para onde foi a classe média? – faço aqui outra pergunta: Para onde irá a classe pobre? E para respondê-la, mais uma vez, recorro às palavras de Mauro Santayana.
Diante da "necessidade" de "afastar do consumo 4/5 da população mundial, a fim de garantir o padrão de vida dos 20% restantes", descobrir para onde irá a classe pobre é algo que, no meu entender, fica fácil se nas palavras de Santayana substituirmos a parte representada em percentual e representarmos tudo em forma de fração, e eu explico. Considerando que, em forma de fração, 20% significa um quinto, a resposta para a pergunta - Para onde irá a classe pobre? -, pode ser encontrada na leitura do próximo parágrafo.
Se, a fim de garantir o padrão de vida do quinto onde estão situados os ricos, torna-se necessário afastar do consumo os quatro quintos onde estão situados os pobres, como será a melhor forma de realizar tal afastamento? Enviando-os para algum lugar distante como sugere a opinião dos participantes do encontro citado por Mauro Santayana: "(...) deveriam ser marginalizados da comunidade planetária, até sua extinção, mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou de outra". Em outras palavras: a fim de garantir o padrão de vida de um quinto o jeito será enviar os outros quatro quintos para os quintos dos infernos.

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