quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Ficção científica faz 'alerta' sobre futuro distópico

Mais do que simplesmente uma discussão sobre as possibilidades que a ciência e a tecnologia oferecem, a ficção científica também pode servir para alertar sobre consequências catastróficas que elas podem causar.
É comum, por exemplo, ler histórias sobre como a inteligência artificial vai tornar os computadores tão inteligentes a ponto de eles se voltarem contra os humanos num futuro longínquo. Recentemente, a série britânica Black Mirror, exibida no Brasil pelo serviço de streaming Netflix, deixou muita gente de cabelo em pé ao contemplar, por exemplo, as possibilidades imersivas da realidade virtual ou a vida em uma sociedade movida pela aprovação – ou pelo 'curtir' – dos outros. A histeria foi tanta que até gerou um bordão, usado frequentemente ao se comentar novidades da tecnologia: "Meu, isso é muito Black Mirror!".
"Essa é uma das principais diferenças da ficção científica e da fantasia: normalmente, a primeira nos mostra coisas que a gente não quer que aconteça", diz Walda Roseman, presidente da Fundação Arthur C. Clarke, dedicada ao autor de 2001 – Uma Odisséia no Espaço e O Fim da Infância. "Clarke dizia que, ao imaginarmos algo assim, talvez já tenhamos aberto a caixa de Pandora.".
Para a maioria dos entrevistados para esta reportagem, uma das principais funções da ficção científica- se é que a arte precisa de uma função própria – é a de servir como alerta. "Muita gente se questiona se tanta tecnologia (e ficção) vai de fato melhorar a nossa vida", diz Fábio Gandour, cientista-chefe do laboratório da IBM no Brasil. "Precisamos acreditar que sim, porque faz parte da luta pela sobrevivência do ser humano. A realidade tem que ter mais elementos utópicos do que distópicos.".
Estes são alguns trechos de uma reportagem de Bruno Capelas publicada na edição de 02 de abril de 2017 do jornal O Estado de S. Paulo.
"Ficção científica faz 'alerta' sobre futuro distópico", diz o título da reportagem de Bruno Capelas, pois, "Mais do que simplesmente uma discussão sobre as possibilidades que a ciência e a tecnologia oferecem, a ficção científica também pode servir para alertar sobre consequências catastróficas que elas podem causar.". Aliás, se atentarmos para o significado de ficção científica encontrável em dicionários, creio que ela não só pode como também deve servir para tal alerta, conforme se pode deduzir a partir do seguinte significado encontrado em um deles. Ficção científica: ficção (coisa imaginária) cujo enredo se baseia, em geral, no desenvolvimento científico e nas situações decorrentes de tal desenvolvimento no tempo e no espaço.
Considerando que, em uma civilização (sic) onde existem o bem e o mal, o que decorre do desenvolvimento científico pode ser usado para o bem e / ou para o mal, creio que seja a partir dessa consideração que devemos escolher de que lado ficar em relação à afirmação feita pelo cientista-chefe no último parágrafo da reportagem e reproduzida a seguir.
"Muita gente se questiona se tanta tecnologia (e ficção) vai de fato melhorar a nossa vida", diz Fábio Gandour, cientista-chefe do laboratório da IBM no Brasil. "Precisamos acreditar que sim, porque faz parte da luta pela sobrevivência do ser humano. A realidade tem que ter mais elementos utópicos do que distópicos."
Discordo de Gandour quando diz: "Precisamos acreditar que tanta tecnologia (e ficção) vai de fato melhorar a nossa vida, porque faz parte da luta pela sobrevivência do ser humano. A realidade tem que ter mais elementos utópicos do que distópicos.". Por que discordo? Porque é por acreditar que tudo irá sempre melhorar a sua vida que a tal da espécie inteligente jamais se preparou adequadamente para enfrentar o que de mal pudesse vir a lhe acontecer. Por que é por acreditar em desenvolvedores de tecnologia que inúmeras vezes ela já se deu mal, para não usar aqui um linguajar mais contundente. Vocês já ouviram falar de um navio chamado Titanic? Pois é. Acreditar que ele jamais afundaria, conforme garantido por seus construtores, forneceu a primeira condição para a ocorrência do naufrágio. Será que acreditar em desenvolvedores de tecnologia quando afirmam que "tanta tecnologia vai de fato melhorar a nossa vida" será a primeira condição para a ocorrência de uma nova tragédia?
Entre Gandour e "Muita gente que se questiona se tanta tecnologia (e ficção) vai de fato melhorar a nossa vida", fico com essa "Muita gente". Não, ao contrário do que afirma Gandour, "A realidade não tem que ter mais elementos utópicos do que distópicos.", pois o que a realidade tem, e que terá sempre, são, os elementos criados pelos indivíduos que formam essa coisa denominada civilização (sic). Essa coisa que ao colocar o dinheiro e o lucro em primeiro lugar deixa as pessoas relegadas a sei lá que lugar.
Em uma civilização em que tudo está a serviço do dinheiro e do lucro, também a tecnologia está a serviço desses dois deuses – o dinheiro e o lucro. E em qualquer civilização em que o topo do Olimpo esteja ocupado por eles, "Mais do que simplesmente uma discussão sobre as possibilidades que a ciência e a tecnologia oferecem, a ficção científica também pode servir para alertar sobre consequências catastróficas que elas podem causar.". Sim, nesta civilização (sic) em que sobrevivemos, "ao se comentar novidades da tecnologia, 'Meu, isso é muito Black Mirror!'", é um bordão que continuará sendo usado frequentemente.".

Nenhum comentário: