“Jovens gerados com doação anônima de óvulos e esperma iniciam movimento pelo direito de conhecer seus pais biológicos
As duas jovens entrevistadas para esta reportagem estão entre as primeiras do mundo a colocar um dilema para a sociedade. Olívia Pratten, canadense, 28 anos, e Alana S., americana, 24, nasceram por meio de técnicas de reprodução assistida. No caso de Olívia, seu pai era infértil. Na história de Alana, sua mãe queria um filho, mesmo sem ter um marido. Por isso, tanto a mãe de Olívia quanto a mãe de Alana recorreram a doadores anônimos de esperma - prática comum e permitida. Hoje, porém, as duas meninas, já crescidas, querem saber quem são seus pais biológicos, os homens que cederam seus espermatozoides e, por conseguinte, metade do material genético de cada uma.
Simples? Longe disso. Trata-se, na verdade, de uma demanda delicada, complexa, e para a qual ninguém havia se preparado. Há 30 anos, quando os avanços na reprodução assistida começaram a permitir a realização de procedimentos sofisticados, parecia tranqüilo imaginar o uso de óvulos ou esperma doados de forma anônima em nome do sonho de ter um filho. E era. Para os pais representava a solução do problema. No entanto, à época não se imaginou que as crianças geradas dessa forma pudessem manifestar o desejo de conhecer seus outros pais biológicos. A grande questão é que os doadores, em sua maioria, só fizeram as doações por causa da garantia do anonimato e de que ninguém surgiria, anos depois, apresentando-se como seu filho. O impasse, como se vê, está colocado.
(...) O livro ‘O Nome do meu Pai é Doador’, publicado no ano passado, traz uma pesquisa na qual foram ouvidos 485 adultos cujas mães recorreram a esperma doado. Dos entrevistados, dois terços gostariam de ter acesso aos dados do doador. Para 45% dos participantes, o modo como foram concebidos é razão de incômodo. A saúde também é afetada. Eles são duas vezes mais propensos a abuso de substâncias químicas quando comparados com quem conhece os pais biológicos. E têm uma vez e meia mais chances de apresentar distúrbios psicológicos.
(...) ‘Se tivesse de me identificar, não doaria, pois teria o risco de me envolver com a pessoa gerada pela doação’, diz Paulo (nome trocado), 27 anos, doador há um ano.
Uma questão levantada pelos defensores da quebra do anonimato é o direito da criança de conhecer a história de seus pais biológicos. O argumento é procedente, já que um bom gerenciamento da saúde inclui saber os antecedentes familiares de doenças. ‘O doador é uma parte do filho gerado’, diz Leann Mischel, presidente de um grupo americano que cruza dados de doadores e filhos de doação. ‘E o filho precisa conhecer a saúde dos pais’.”
Estes são alguns trechos da reportagem de Rachel Costa, publicada na edição de 23 de março da revista Isto É.
Nossa! Quantas reflexões esta reportagem provoca. Vamos a algumas.
Tanto a mãe de Olívia quanto a mãe de Alana recorreram a doadores anônimos de esperma - prática comum e permitida.
O fato de ser comum e permitida não significa que uma prática é benéfica. Ela precisa ser avaliada em função de todos os afetados por ela e não apenas dos que optam por praticá-la. A sociedade está repleta de coisas lícitas – por serem convenientes para os poucos que as podem aprovar -, porém nocivas para os muitos que delas são vítimas.
Há 30 anos, quando os avanços na reprodução assistida começaram a permitir a realização de procedimentos sofisticados, parecia tranquilo imaginar o uso de óvulos ou esperma doados de forma anônima em nome do sonho de ter um filho.
E de criar um pesadelo para o filho.
Para os pais representava a solução do problema. No entanto, à época não se imaginou que as crianças geradas dessa forma pudessem manifestar o desejo de conhecer seus outros pais biológicos.
Para os pais representava a solução do problema, mas, para as crianças geradas, um problema estava sendo originado juntamente com elas. Isto me faz lembrar do que Peter Senge denomina primeira lei da Quinta Disciplina - o raciocínio sistêmico: Os problemas de hoje provêm das ‘soluções’ de ontem.
(...) ‘Se tivesse de me identificar, não doaria, pois teria o risco de me envolver com a pessoa gerada pela doação’, diz Paulo (nome trocado), 27 anos, doador há um ano.
(...) E têm uma vez e meia mais chances de apresentar distúrbios psicológicos.
Será que o fato de não querer se envolver com a pessoa gerada tem alguma coisa a ver com a maior propensão para esta apresentar distúrbios psicológicos? Ouso dizer que sim.
(...) um bom gerenciamento da saúde inclui saber os antecedentes familiares de doenças.
(...) os homens que cederam seus espermatozoides e, por conseguinte, metade do material genético de cada uma.
(...) ‘O doador é uma parte do filho gerado’ (...).
Isto evidencia o absurdo que é gerar seres que conhecem os antecedentes de apenas uma das partes que contribuíram para sua geração. Não existe produção independente. O que existe é decisão independente. Independente das consequências funestas para o ser produzido. A concepção de um ser envolve as participações feminina e masculina. Esta é uma lei irrevogável, pois é uma lei natural. Pensar que a ludibria – usando um anônimo em busca de dinheiro – me parece coisa de conhecidas que em nome do sonho de ter um filho não enxergam o pesadelo que estão criando para ele.
Elas querem saber quem são seus pais e na minha opinião têm todo o direito. E vocês, o que acham?
4 comentários:
Na minha opinião, essas "crianças" deveriam ter o direito de conhecer seus pais, mas elas não tem o direito de interfirir na sua vida.
Imagine, você doa seu esperma aos 20 anos, quando você está solteiro e não tem famíla. Dez anos depois você está casado e com 2 filhos e surpresa ! Aparece um outro filho. Nossa ia ser muito estranho e um choque para sua família.
Deus nos concedeu o dom do livre-arbítrio e o homem acha que pode brincar de Deus. Esse é o preço que pagamos pelo nossos atos. Com tantas crianças passando fome no mundo, não seria muito mais humano adotar uma criança do que gera-la artificialmente?
Michelito,
Falar em direitos costuma ser uma questão bastante complicada, pois cada um os reivindica pensando apenas em si próprio.
“Essas ‘crianças’ deveriam ter o direito de conhecer seus pais, mas não têm o direito de interferir na sua vida”. Mas ‘os pais’ dessas crianças tiveram o direito de interferir na delas.
“Imagine, você faz algo aos 20 anos, quando está solteiro e não tem família”. Nem noção das conseqüências do que faz. “Dez anos depois você está casado e tem uma surpresa. Aparece um filho anônimo e causa um choque para a família”.
Este é o choque olhando do ponto de vista “dos pais”, mas haverá também um choque olhando do ponto de vista dessas “crianças”? Creio que sim. “Não será também muito estranho” para essa “criança” descobrir que diferentemente de outras crianças ela jamais saberá quem foi a segunda pessoa que contribuiu para a sua existência?
“Deus nos concedeu o dom do livre-arbítrio e o homem acha que pode brincar de Deus”. E o pior, com brincadeiras de mau gosto. “Esse é o preço que pagamos pelos nossos atos”. Sermos surpreendidos, dez anos mais tarde, com o aparecimento de um filho gerado por um ato inconseqüente.
Sim, creio que “seria muito mais humano adotar uma criança do que gerar uma desta forma”.
Apenas uma pergunta: O preocupa essa história de “dez anos depois”?
Abraços,
Guedes
Amigo Guedes,
Essa história de dez anos não me preocupa porque ainda não cometi nenhum ato inconsequente, pelo menos dessa gravidade.
Um forte abraço.
Michelito 3.0
Amigo Michelito 3.0,
Já tive oportunidades - em outros comentários – de manifestar minha opinião sobre você. Portanto, a pergunta que lhe fiz foi apenas uma brincadeira. A vida precisa de bom humor e não deve ser levada demasiadamente a sério. Aliás, isto já foi inclusive definido como uma regra. É a regra número 6: “Não se leve demasiadamente a sério”. E ela tem dois corolários: “Não leve ninguém demasiadamente a sério” e “Não leve nada demasiadamente a sério”. Creio que ainda escreverei uma postagem sobre esta regra, pois ela é fundamental para conviver melhor.
Abraços,
Guedes
Postar um comentário