quinta-feira, 31 de março de 2011

Preços nas alturas

“Com uma valorização de até 380% nos últimos cinco anos, os imóveis das áreas nobres do Rio já se equiparam aos de Nova York, Paris e Tóquio. E não há nenhum sinal de que ficarão mais baratos nos próximos anos

Depois de uma temporada de cinco anos nos Estados Unidos, a gerente de marketing Mônica Duarte, de 42 anos, voltou à cidade decidida a realizar o sonho da casa própria. (...) A ideia era comprar um dois-quartos com infraestrutura de lazer na Zona Sul, na faixa dos 500.000 reais. A cada semana, a cada novo caderno de classificados vasculhado, os preços disparavam (...) Após visitar mais de oitenta endereços, Mônica refez os planos, ampliando sua área de procura. Em março, ela finalmente arrematou um apartamento de 130 metros quadrados, com piscina e playground, pela quantia inicialmente prevista.

(...) A estabilidade da moeda, seguida da melhora na renda da população, tem levado milhões de brasileiros a acalentar o projeto de abandonar o aluguel. Ao mesmo tempo, os prazos de financiamento tornaram-se mais elásticos e os juros passaram a ser mais camaradas.

(...) todos foram unânimes em afirmar que a alta não é motivada por fatores artificiais e deve prosseguir pelo menos até o meio da década.

Como é de praxe nas economias de mercado, o setor é regido por um mecanismo clássico: a lei da oferta e da procura.

Até quem nunca pensou em se mudar quer aproveitar a boa maré. É o caso da aposentada Luzia Caliman, que pôs à venda um quarto e sala de 53 metros quadrados na elegante Rua Garcia d’Ávila, em Ipanema por 600.000 reais. Com o dinheiro ela pretende voltar para Vitória, sua cidade natal, e arrematar uma casa maior, por um terço do valor, depositando o restante em aplicações financeiras. ‘É uma oportunidade de ouro, que não posso deixar passar’, explica. Alguém aí quer comprar?”

Estes são alguns trechos de uma reportagem publicada na edição de 30 de março de 2011 da revista Veja Rio.

Recebi do amigo Rodrigo Leão um e-mail contendo esta notícia e entendi como uma sugestão para opinar neste blog.

Em uma sociedade sobressaltada por notícias ruins esta parece ser mais uma. Mas como diz o título de um filme de Woody Allen, ela é igual a tudo na vida. Tem um lado bom e um ruim, dependendo de quem olha. Para quem vive situação semelhante a que viveu Mônica Duarte a notícia não é das melhores, porém para Luzia Caliman ela confirma uma oportunidade de ouro. Ela é ruim para quem quer comprar, mas boa para quem pretende vender. Até quem nunca pensou em se mudar quer aproveitar a boa maré. Luiza Caliman pegou o seu apartamento de 53 metros quadrados, arredondou o preço para 600.000 reais e o pôs à venda. Se der certo, ela sai desta cidade maravilhosa – e caríssima -, compra uma casa duas vezes maior por um preço duas vezes menor, deposita o restante em aplicações financeiras e vai morar em sua cidade natal, com a sensação de vitória.

Achei interessante a naturalidade da afirmação de que a alta não é motivada por fatores artificiais. Afinal, ela é motivada pelo que existe de mais natural em uma sociedade transformada em um imenso mercado: a lei da oferta e da procura. Tudo obedece a ela.

Portanto, não se desesperem, pois esta alta deve prosseguir pelo menos até o meio da década e “pelo mais” até o final dos tempos. Afinal, em um mercado a lei da oferta e da procura é irrevogável, e quanto mais uma coisa é procurada, mais cara ela fica. O que é escasso custa caro e a maioria tem que se contentar com o que abunda.

Alguém aí quer comprar? Então, trate de ir juntando dinheiro ou sujeitar-se a prazos de financiamento cada vez mais elásticos, pois segundo a reportagem, os juros passaram a ser mais camaradas. Seguindo este raciocínio, chegará o dia em que o prazo de financiamento será o próprio tempo de vida da pessoa. Então, finalmente, será atingida a plena vivência do lema “o dever acima de tudo”.

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