terça-feira, 26 de julho de 2011

Atesto que você é bom no que faz

Certificação de pessoas ganha força em setores marcados pela competitividade
“Investir em aperfeiçoamento via cursos de extensão e pós-graduação pode não ser mais suficiente para ascender profissionalmente. Pelo menos em setores de alta competitividade, marcados por transformações velozes e desafios complexos, como o bancário, o da tecnologia da informação, de petróleo e gás, construção civil e saúde. Quem trabalha ou deseja se candidatar a vagas em uma dessas áreas provavelmente já descobriu um universo desconhecido para a maioria: o da certificação de pessoas. Para assegurar que o profissional esteja preparado para exercer determinada função, várias empresas – e até órgãos públicos – têm aplicado provas periódicas para testar seus conhecimentos.
Consolidado no exterior, principalmente nos Estados Unidos, o mercado de certificação surgiu no Brasil nos anos 80, quando empresas de informática passaram a exigir, dos profissionais de TI, comprovações teóricas e práticas de que eles dominavam softwares e sistemas operacionais importantes. De lá para cá, a tendência ganhou força em outros segmentos de negócios, principalmente no de finanças. Seja como documento obrigatório para contratação ou promoção.
De uma forma ou de outra, trata-se de um mercado com grande potencial de crescimento nos próximos dez anos, garante Marco Tyler-Williams, diretor-superintendente da Prepona, empresa líder na aplicação de provas para certificação de pessoas. Em 2010, a empresa aplicou, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), mais de 80 mil exames. Um aumento de 80% sobre 2009.
- O Brasil tem adotado esse sistema em ritmo acelerado, porque já está avançado quando o assunto é certificação de produtos e processos. Falta agora o terceiro P: as pessoas. O que, para mim, é o que existe de mais importante numa empresa. São elas que operam os processos e verificam a qualidade dos produtos - lembra Tyler-Williams, que tem como clientes associações do mercado financeiro e organizações como a Chevron e a Lafarge.
Certificado funciona como complemento ao diploma
Para o executivo, certificados são mais do que simples ferramentas de comprovação:
- Além de ajudarem as empresas nos processos de recrutamento e seleção, os certificados representam um complemento ao diploma, potencializando as chances de empregabilidade e contribuindo para processo de desenvolvimento de carreira.
(...)
O problema é que nem sempre as pessoas enxergam o sistema sob essa perspectiva. Segundo o consultor Edmundo Maia, da FGV Projetos, que coordena o processo de certificação de pessoas na instituição, um dos maiores desafios do modelo é driblar a resistência que ainda existe entre os profissionais brasileiros. Rejeição que cresce no caso de certificações com prazo de validade, que pode variar de dois a quatro anos.”
Estes são alguns trechos de uma reportagem de Paula Dias, publicada no caderno Boa Chance do jornal O Globo na edição de 24 de julho de 2011.

Estamos vivenciando uma nova Revolução Industrial! Estamos em plena era da indústria do nada! Nunca antes neste país (e em outros também) empresas ganharam tanto dinheiro para produzir absolutamente nada de útil. E segundo Marco Tyler-Williams, diretor-superintendente da Prepona, empresa líder na aplicação de provas para certificação de pessoas, tal indústria tem um mercado com grande potencial de crescimento nos próximos dez anos. Crescimento que se dará à custa do encolhimento do mercado de trabalho. Afinal, como diz a reportagem de Paula Dias, a certificação de pessoas ganha força em setores marcados pela competitividade. E como é que a competitividade ganha força? Com a insuficiência de vagas no mercado de trabalho, não é mesmo? Em um mercado onde houvesse pleno emprego haveria também plena desnecessidade de competitividade e de certificações pessoais.

Concordo com Marco Tyler-Williams quando diz que as pessoas são o que existe de mais importante numa empresa, pois são elas que operam os processos e verificam a qualidade dos produtos. É de O Segredo da Flor de Ouro – Um livro de vida chinês, de C. G. Jung e R. Wilhelm, a seguinte passagem:
“Se o homem errado usar o meio correto, o meio correto atuará de modo errado. Este provérbio chinês, infelizmente muito verdadeiro, se contrapõe drasticamente à nossa crença no método “correto”, independentemente do homem que o emprega. No tocante a isso, tudo depende do homem e pouco ou nada do método.”
Portanto, de nada importa ter processos certificados se as pessoas não são boas no que fazem. Mas discordo quanto a atestar que alguém é bom no que faz a partir da aplicação de provas. Desta forma, a única coisa que se pode atestar, com convicção, é que o profissional é bom em fazer provas.

Segundo a reportagem, o problema é que nem sempre as pessoas enxergam o sistema sob a perspectiva que interessa as empresas que “vendem” certificações. Incluo-me entre tais pessoas. Vocês já pararam para pensar no rumo que as coisas tomaram? Hoje quem atesta se o profissional é bom naquilo que faz deixou de ser quem paga pelo serviço prestado e passou a ser uma instituição que recebe do profissional para que ela lhe forneça o atestado de ser bom no que faz. Trabalhei como analista de sistemas durante 35 anos. Aposentei-me sem nenhuma certificação vendida por alguma instituição, mas com alguns atestados concedidos por usuários que reconhecem que eu sou bom no que faço. Infelizmente, em meus últimos anos de trabalho, vi muitos profissionais em situações opostas a minha. Cheios de certificações vendidas por instituições e sem nenhum atestado de satisfação pelos serviços recebidos concedido pelos usuários. Entre a minha condição e a de tais profissionais prefiro a minha. E creio que os usuários concordem comigo.

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