sexta-feira, 29 de julho de 2011

Companhia aérea corta comissários

Em vez de 4, serão 3; Webjet incumbe um passageiro da 1ª fila de abrir porta do avião em caso de emergência
Sindicato de aeronautas diz que redução causa riscos à segurança de voo; empresas negam e dizem seguir tendência
“Primeiro, o serviço de bordo rareou e, em algumas empresas, passou a ser cobrado à parte, água inclusive. Agora, as companhias aéreas começam a cortar comissários dos aviões – e até incumbem o passageiro de abrir a porta principal em eventual emergência.
O sindicato de aeronautas atribui a redução à ânsia das empresas de poupar e fala em risco à segurança de voo.
As empresas negam e dizem não fazer nada além do que já é adotado pelo setor em outros países como, por exemplo, os Estados Unidos.
A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) afirma que a segurança não está sob ameaça – e que não lhe cabe se meter no serviço de bordo.
(...)
Entre as principais companhias, a Webjet, vendida à Gol, foi a primeira a receber da Anac autorização para reduzir o número de comissários, de quatro para três, em todos os seus aviões. Desde novembro, mantém um funcionário na frente e dois atrás em suas aeronaves. Antes, eram dois por setor. Cabe a um passageiro da primeira fila, em caso de emergência, abrir a porta e ajudar os demais a sair. Se houver recusa, a Webjet delega a função a outro.
‘O passageiro vai saber usar a escorregadeira (equipamento inflável para sair do avião) numa situação de emergência? Não vai’, diz Leonardo Souza, diretor do Sindicato Nacional dos Aeronautas e comissário da Gol.
Responsabilidade
A medida, afirma, transfere para o passageiro a função mais importante do trabalho de um comissário: cuidar da segurança durante o voo.
Em 2007, no Japão, um avião da China Airlines com 157 passageiros e o motor em chamas foi esvaziado pelos comissários cinco segundos antes de explodir. ‘Com um passageiro ajudando, seria assim?’
O precedente para o corte de comissários se deu em março de 2010, com uma nova regra da Anac. Inspirada em normas dos Estados Unidos e Europa, a agência definiu que aviões com até 150 lugares podiam ter três comissários. A maioria usava quatro, um para cada porta.”
Estes são alguns trechos de uma reportagem de Ricardo Gallo, publicada na edição de 17 de julho de 2011 do jornal Folha de São Paulo.

Vocês já perceberam que as empresas, cada vez mais, empurram para os clientes tarefas que cabe a elas executar? Correntistas desempenham tarefas que competiam a bancários. Lojas diminuem a quantidade de funcionários e fazem crescer a prática do auto-atendimento. Companhias aéreas incumbem passageiros de, em caso de emergência, abrir a porta principal e ajudar os demais a sair. Qual será a próxima tarefa a ser repassada? Será a colocação de um passageiro como co-piloto?

Pior é a desfaçatez ao tentar explicar tais atitudes? Acusadas de colocar em risco a segurança de voo, as companhias aéreas, simplesmente, dizem seguir tendência e não fazer nada além do que já é adotado pelo setor em outros países como, por exemplo, os Estados Unidos. É uma explicação clássica. Quando não existem argumentos para justificar o que se faz, recorre-se a velha e desgastada desculpa de estar seguindo tendências ou de fazer o que todo mundo faz. Desde quando seguir tendência é sinônimo de fazer o que é correto?

Triste é ver que tudo isso ocorre com a anuência dos que deveriam sentir-se prejudicados. Em vez de sentir-se lesada, a maioria (sempre ela) ainda se sente importante por executar tais tarefas. Em uma sociedade em que as pessoas gostam de “tirar onda”, há muitos que se sentirão importantes por ter o privilégio de abrir a porta principal do avião.

Outra justificativa (sic) usada pelas empresas para atitudes como a que motivou esta reportagem é a redução de custos com a intenção de reduzir preços. Empresas são muito chegadas a reduções. Outra que elas adoram é a redução do número de funcionários. Mas há uma que elas abominam: a redução do crescimento dos lucros. Odeiam, justamente, a única capaz de solucionar a maioria dos problemas desta sociedade erigida não sobre uma redução e sim sobre um aumento: o da ganância.

Nenhum comentário: