quarta-feira, 20 de julho de 2011

Filme critica impacto da tecnologia na sociedade

“Nação Digital” investiga mudanças sociais ocorridas a partir da internet
Dificuldade de professores agora é desconectar alunos das redes sociais para conectá-los às aulas
“Candidato ao Pulitzer neste ano, Nicholas Carr foi um dos primeiros a perguntar se o Google deixa as pessoas mais estúpidas. Na mesma linha de investigação vai o documentário ‘Nação Digital’, exibido amanhã pelo GNT.
A produtora do filme, Rachel Dretzin, conta que a ideia de pesquisar as relações que estamos travando com a tecnologia lhe ocorreu após observar a família.
O filho mais velho brincava com um notebook e os dois menores jogavam no iPhone da mãe, enquanto o marido dela trabalhava no computador. Todos reunidos na sala, mas nenhum deles parecia estar ali.
É desse ponto que ela parte, com ajuda do amigo e jornalista Douglas Rushkoff, para investigar que tipo de relação estamos criando com as tecnologias digitais.
Educação Digital
A primeira parada é o MIT (Massachusetts Institute of Technology), um dos maiores centros de pesquisas tecnológicas dos EUA – onde estariam os jovens ‘mais conectados do planeta’.
Lá, assim como em qualquer faculdade contemporânea, o desafio de professores é conseguir desconectar os alunos do Facebook para conectá-los às aulas.
Os estudantes argumentam que são de uma geração (a tal Z, formada por nascidos nos anos 90) capaz de desempenhar ‘com facilidade’ diversas tarefas ao mesmo tempo: alternam aula, celular e redes sociais. O longa confronta tal afirmação.
‘Nação Digital’ acompanha parte de um estudo do professor Clifford Nass, da Universidade Stanford, que quer entender como funciona o cérebro dos estudantes ‘multitarefas’.
E os resultados iniciais desvendam um possível autoengano para quem acha que é capaz de fazer ‘tudo ao mesmo tempo agora’.
A teoria de Carr, autor de ‘The Shallows – What the Internet Is Doing to Our Brains’ (no raso – o que a internet está fazendo com nossos cérebros, em tradução livre), aparece de novo emulada: segundo Nass, uma geração pode estar sendo formada sema habilidade de pensar com clareza. A distração criada pela tecnologia seria a culpada da história.
Videogame Social
A produção traz ainda uma entrevista com Philip Rosedale, o criador do jogo virtual ‘Second Life’ – que já foi mais popular -, e mostra reuniões de jogadores de ‘War of Warcraft’, o game social da vez.
O Exército americano também se apropria de videogames. Os ‘drones’, por exemplo, são os pilotos virtuais que, baseados nos Estados Unidos, manuseiam artífices na Guerra do Iraque e no Afeganistão.”
Esta é a íntegra da reportagem de Elisangela Roxo, publicada na edição de 9 de julho de 2011 do jornal Folha de São Paulo.

Rachel Dretzin teve a atenção despertada para pesquisar as relações que estamos travando com a tecnologia após observar as relações que deixamos de ter com as pessoas que estejam ao nosso redor. Cada vez mais as pessoas afastam-se umas das outras e aproximam-se de máquinas. Todos reunidos na sala, mas nenhum deles parecia estar ali. É impressionante, mas hoje nunca estamos no lugar onde somos vistos. Em meus tempos de escola, era perguntado em quantas partes se divide o corpo humano e a resposta que se dava era a seguinte: cabeça, tronco e membros. Hoje, o tronco e os membros ficam em um lugar e a cabeça em outro. Aparentemente, a tecnologia aproximou tudo e todos, mas ela também conseguiu afastar partes que nos compõem.

O desafio não se resume aos professores desconectarem os alunos do Facebook e conectá-los às aulas; ele vai além. Hoje, o desafio é conectar as pessoas com elas mesmas.
E os resultados iniciais do professor Clifford Nass, da Universidade Stanford, desvendam um possível autoengano para quem acha que é capaz de fazer ‘tudo ao mesmo tempo agora’.
Não discuto a afirmação de que as pessoas sejam capazes de desempenhar ‘com facilidade’ diversas tarefas ao mesmo tempo. Discuto a qualidade das tarefas desempenhadas. São do capitulo intitulado O mito e a realidade das multitarefas, do livro Sem Tempo Pra Nada, de Edward M. Hallowell, psiquiatra de crianças e adultos e fundador do Centro Hallowell de Saúde Cognitiva e Emocional, as passagens abaixo.
“Talvez seja interessante ou necessário fazer tarefas múltiplas: falar no telefone digitando um e-mail e lendo notícias na tela do computador, ou pôr roupas na secadora brincando com seu bebê e conversando com um corretor de imóveis ao telefone. Porém, você não fará nenhuma dessas tarefas tão bem como se fizesse uma de cada vez. Desempenhar duas tarefas simultâneas tão bem quanto uma só é um mito.
Para comprovar como esse conceito é falho, considere como você se comporta no carro quando se perde. Enquanto tenta encontrar seu destino, uma das primeiras coisas que faz é baixar o volume do rádio. Por quê? Para dar atenção exclusiva à tarefa de encontrar o seu caminho. A ‘tarefa’ secundária – ouvir música – desvia a atenção da tarefa principal.
Fazer multitarefas sem bom resultado é um erro comum que pessoas superocupadas cometem, torcendo para que tudo dê certo. Se a tarefa for importante, o melhor é dedicar atenção completa.”
Para terminar, cito alguém que viveu em uma época na qual a tecnologia não exercia o fascínio atual. São de Fernando Pessoa as seguintes palavras:
“Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa; põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago, a lua toda brilha porque alta vive.”

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