segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Pilotos do voo 447 também erraram, afirma relatório

Para agência francesa, após falhas técnicas, eles fizeram manobras inadequadas
Documento parcial aponta que Air France não os treinou para reagir a situações de risco em grande altitude
“Os pilotos do voo 447 da Air France não foram treinados pela companhia para reagir a situações de risco em grande altitude e fizeram manobras inadequadas que levaram à queda da aeronave, disse o BEA, agência francesa que investiga o acidente.
Divulgado ontem em Paris, o terceiro relatório parcial da agência informa que, não fossem falhas dos dois co-pilotos que estavam no comando do avião, a tragédia poderia ter sido evitada. O documento indica falha de treinamento pela Air France e não faz menções a problemas da Airbus, fabricante do avião A-330 – que havia sido instada pela agência a rever procedimento logo depois do acidente.
Air France acusa Airbus, que culpa pilotos
Após a publicação do relatório, tanto a Air France quanto a Airbus tentaram se esquivar de qualquer responsabilidade do voo 447.
O diretor-geral de operações aéreas da Air France, Eric Schram, considerou ‘redutor’ e ‘demasiado fácil’ atribuir a responsabilidade a um problema de formação. ‘Se continuarmos nessa direção, não poderemos entender as causas desse acidente’. Eric Schram defendeu a competência e experiência dos pilotos e sugeriu que foram falhas técnicas no sistema de voo do Airbus, como o ‘liga e desliga’ dos alarmes estol que teriam levado a decisões equivocadas.
A Airbus negou que houve falha técnica no sistema de voo. Um porta-voz disse à Folha que os pilotos conheciam o funcionamento dos alarmes e foi a decisão de empinar o nariz que levou a situação de perda de sustentação da aeronave.
Para Carlos Camacho, do Sindicato Nacional dos Aeronautas do Brasil, as recomendações do relatório (‘pífias’) atendem aos interesses de Airbus e Air France. ‘Culpar o piloto é fácil. Eles não tiveram treinamento adequado e não souberam reagir a um avião completamente automatizado.’
Texto é contundente, mas deixa questões técnicas sem resposta
O novo relatório francês é um contundente ataque aos procedimentos adotados por empresas aéreas, mas é no silêncio sobre questões técnicas em que talvez resida sua maior eloquência.
(...) Não é preciso ser teórico em conspirações para entender a suspeita dos advogados das famílias: indenizações por problemas técnicos são muito mais objetivas do que por erros de pilotos mortos, e tanto Airbus quanto Air France têm participação acionária do Estado francês.”
Estes são alguns trechos de uma reportagem de Ana Carolina Dani e Igor Gielow, publicada na edição de 30 de julho de 2011 do jornal Folha de São Paulo.

Está no ar (ou seria no air?) mais uma postagem focalizando companhias aéreas. Perceberam que das três últimas duas são sobre esse assunto? Infelizmente, tentar se esquivar de qualquer responsabilidade e culpar quem não pode se defender - comportamento das duas Air (France e bus) - é o mesmo adotado pela maioria dos seres que habitam este planeta e, portanto, da maioria das empresas. Afinal, empresas são compostas de pessoas, não é mesmo? O problema é que tal modo de agir impede a identificação das verdadeiras causas de falhas ocorridas e, consequentemente, propicia a reincidência. Vocês já viram isto em empresas nas quais tenham trabalhado? Cansei de ver naquelas em que trabalhei.
O diretor-geral de operações aéreas da Air France, Eric Schram, considerou ‘redutor’ e ‘demasiado fácil’ atribuir a responsabilidade a um problema de formação. ‘Se continuarmos nessa direção, não poderemos entender as causas desse acidente’.
E sem entender as causas, não serão tomadas as providências adequadas para evitar outros acidentes como esse.
‘Culpar o piloto é fácil. Eles não tiveram treinamento adequado e não souberam reagir a um avião completamente automatizado.’
Estranho é que, em um mundo no qual tanto se fala de certificações que atestam que profissionais e empresas são bons naquilo que fazem, os pilotos de uma renomada companhia aérea não tenham treinamento adequado para saber reagir a situações de risco. Mas talvez isto não seja tão estranho se considerarmos que vivemos em um mundo a cada dia mais automatizado e repleto de máquinas inteligentes. O avião era completamente automatizado, e os pilotos não eram suficientemente inteligentes para reagir ir a ele, não é mesmo? Em um mundo fascinado por máquinas inteligentes a culpa por falhas tende a ser atribuída a seres humanos “burros”.
O novo relatório francês é um contundente ataque aos procedimentos adotados por empresas aéreas, mas é no silêncio sobre questões técnicas em que talvez resida sua maior eloquência.
Questões técnicas sempre são evitadas ao procurar as causas de acidentes. Vejo esse comportamento como mais um que pode ser explicado pela atitude daquele personagem do vaudeville que perde as suas chaves em uma rua escura e as procura em uma rua próxima, porque, ele explica, “Lá é mais claro”. É a habitual opção pelo conveniente e não pelo que, realmente, precisa ser feito. O trecho a seguir mostra o que é conveniente neste caso.
(...) Não é preciso ser teórico em conspirações para entender a suspeita dos advogados das famílias: indenizações por problemas técnicos são muito mais objetivas do que por erros de pilotos mortos.
Portanto, é conveniente fugir de tal objetividade, pois pagar indenizações é mais uma responsabilidade que figura entre aquelas das quais as empresas tentam se esquivar. E mais conveniente ainda é atribuir os erros a pilotos mortos, pois estes de nada podem se esquivar.

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