quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Geração omeprazol

Estresse com mulititarefas, má alimentação e bebidas aumentam gastrite entre jovens
“A estudante de Direito Gabriela Hermosilla, de 19 anos, sai de casa às 7h para ir à faculdade. Antes, confere a lista do que não pode esquecer: caderno, caneta, celular e, claro, o comprimido de omeprazol – medicamento popular para combater doenças como úlceras nervosas e esofagite – que precisa tomar todos os dias. Ela, como muitos outros jovens, sofre de gastrite.
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- A primeira vez que senti uma dor forte no estômago achei estranho, mas logo diagnosticaram como um problema relacionado à ansiedade.
Problema é de fundo emocional
Problemas gastrintestinais têm atingido cada vez mais jovens e adolescentes. Segundo especialistas, as principais causas estão associadas ao estresse, à má alimentação e à ingestão excessiva de bebidas alcoólicas.
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O estresse contribui para problemas de estômago, sobretudo quando há cobrança e competitividade no trabalho ou na faculdade. Os pacientes sentem dor e desconforto, mas, na maior parte dos casos, não há alteração orgânica ou anatômica. É uma doença de fundo emocional – diz o gastroenterologista Ricardo Fernandez Fittipaldi, da Federação Brasileira de Gastroenterologia e da Sociedade Brasileira de Endoscopia.
Frituras, energéticos e correria
Tomar remédio não é o bastante para se livrar dos problemas gástricos. É preciso mudar hábitos alimentares, dizem os especialistas. O gastroenterologista Ricardo Fernandez Fittipaldi explica que doenças como a esofagite, causada por refluxo, são agravadas pela má alimentação.
- O refluxo ocorre quando o ácido do estômago vai para o esôfago. Está associado ao sobrepeso, que vem atingindo muito os jovens. Isso se deve ao excesso de gorduras, bebidas alcoólicas, refrigerantes, pizza, hambúrguer, batata frita e condimentos como ketchup e mostarda. Tudo isso associado a muito tempo no computador e pouco exercício físico.
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- A geração Y, que entrou no mercado de trabalho agora e não quer perder as oportunidades, não tem tempo de pensar na alimentação. O jovem tem a falsa ideia de que com ele nada acontece – diz Luciana, do Centro Brasileiro de Nutrição Funcional.
A receita para uma boa alimentação é conhecida: comer com moderação de três em três horas; evita laticínios, frituras, carne vermelha e bebidas alcoólicas. Deve-se consumir frutas, legumes, verduras, alimentos naturais, peixe e frango grelhados. O difícil é ter tempo e organização para seguir isso.”
Estes são alguns trechos de uma reportagem de Lauro Neto e Marina Cohen, publicada na edição de 11 de setembro de 2011 do jornal O Globo.
É gente, os jovens estão na crista da onda! A reportagem apresentada na postagem anterior diz que para jovens, internet é tão importante quanto comer. Esta intitula uma geração com o nome de um remédio do qual ela tornou-se dependente. Um remédio usado para combater uma doença de fundo emocional e que é agravada por hábitos alimentares inadequados. Segundo a reportagem, os jovens alimentam-se mal, passam muito tempo no computador e praticam pouco exercício físico. Ou seja, a internet não é tão importante quanto comer, ela é mais importante do que comer.
“A geração Y, que entrou no mercado de trabalho agora e não quer perder as oportunidades, não tem tempo de pensar na alimentação. O jovem tem a falsa ideia de que com ele nada acontece – diz Luciana, do Centro Brasileiro de Nutrição Funcional.”
E é por não querer perder nenhuma oportunidade que a geração Y ganha alguns malefícios decorrentes da incapacidade de descobrir o X do problema. É por não ter tempo de pensar na alimentação que ela terá que pensar em como livrar-se dos males causados por uma alimentação inadequada. É por ter a falsa ideia de que com ele nada acontece que o jovem naufraga na vida. É o que chamo de efeito Titanic. A falsa ideia de que nada aconteceria com aquele navio é que impediu que ele estivesse preparado para salvar os passageiros em caso de naufrágio.
Infelizmente, acreditar em falsas ideias é algo muito comum na juventude. É essa crença que faz com que ela não entenda que a vida é uma maratona e não uma corrida de cem metros. E por não entender isto, ela dá tudo nos primeiros cem metros (quer fazer tudo ao mesmo tempo), e acaba ficando sem condições de percorrer os outros 41.900 metros que completam a vida.
Há muitos anos, li uma reportagem na qual um médico dizia que era urgente acabar com o mito de que a juventude pode tudo, pois é ele que faz com que a velhice possa nada. Segundo Platão, Sócrates entendia que velhice e doença não são sinônimos, e que doença é conseqüência de uma vida mal vivida. Hoje, 24 séculos depois, devido ao grande progresso (sic) alcançado pela civilização (sic) as doenças surgem cada vez mais cedo. E para solucioná-las (?) surge, também cada vez mais cedo, a dependência de remédios (Gabriela Hermosilla não sai de casa sem o comprimido de omeprazol). Será que algum dia nós conseguiremos sobreviver sem eles? Os laboratórios farmacêuticos esperam que não. E nós, enquanto não aprendermos a lidar com as nossas emoções e, consequentemente, a viver sem eles, continuaremos dando aos laboratórios a oportunidade de ver o nome de algum de seus remédios estampado no “rótulo” de uma geração que dele tenha se tornado dependente.

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