Corte de cabelo de ator-mirim faz entidade civil se pronunciar“No caso do menino Rafael, vivido pelo ator Henry Fiuka em ‘Morde & Assopra’, a vida imitou a arte na cena onde o personagem raspa o cabelo para o tratamento de uma leucemia: assim como o garotinho da ficção, Henry não quis cortar seus cachos na hora de gravar e sua mãe precisou interceder, prometendo ao pequeno que lhe daria um novo computador.
A cena foi exibida no dia 1º, e chamou a atenção da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), organização da sociedade civil, que levantou a hipótese da violação dos direitos do ator. A entidade disse que a Globo assinou em 2010 um ‘Termo de Ajustamento de Conduta’, se comprometendo a não submeter crianças e adolescentes a trabalhos que possam ocasionar prejuízos ao seu desenvolvimento.
Na trama, o personagem Rafael é filho de Naomi (Flávia Alessandra) e Ícaro (Mateus Solano), e o pai chora após convencê-lo a raspar a cabeça, em cena semelhante à famosa passagem que levou a atriz Carolina Dieckmann às lágrimas na novela ‘Laços de Família’.
Em comunicado, a emissora se defendeu afirmando que ‘todas as cenas envolvendo menores são gravadas mediante processo cuidadoso, priorizando o bem-estar dessas crianças, e que a Globo jamais contraria a vontade do menor e de seu responsável’.”
Esta é a íntegra de uma notícia publicada na edição de 14 de setembro de 2011 do jornal O Dia.
A cena chamou a atenção da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), a notícia no jornal chamou a minha e o que li na notícia despertou a minha indignação.
A Andi disse que a Globo assinou em 2010 um ‘Termo de Ajustamento de Conduta’, se comprometendo a não submeter crianças e adolescentes a trabalhos que possam ocasionar prejuízos ao seu desenvolvimento.
Em comunicado, a emissora se defendeu afirmando que ‘todas as cenas envolvendo menores são gravadas mediante processo cuidadoso, priorizando o bem-estar dessas crianças, e que a Globo jamais contraria a vontade do menor e de seu responsável’.
Henry não quis cortar seus cachos na hora de gravar e sua mãe precisou interceder, prometendo ao pequeno que lhe daria um novo computador.
Não consigo conciliar os três trechos apresentados acima. A vontade do ator-mirim foi contrariada, pois ele não queria cortar seus cachos e sua mãe precisou interceder, prometendo que lhe daria um novo computador. A Globo talvez emita um novo comunicado mantendo a afirmação de que jamais contraria a vontade do menor e de seu responsável alegando que apenas a vontade de uma das partes foi contrariada – a do menor. Portanto, trata-se de um caso de ou e não de e. Desde que o responsável (?) suborne o menor – dando-lhe um novo computador -, a Globo julga estar cumprindo o comprometimento de não submeter crianças e adolescentes a trabalhos que possam ocasionar prejuízos ao seu desenvolvimento.
Em um momento em que tanto se fala em corrupção, não consigo entender como a atitude de subornar um menor oferecendo-lhe um novo computador para que concorde em fazer o que não quer, não seja vista como uma iniciação a prática da corrupção. Afinal, o que é corrupção? É através do oferecimento de alguma vantagem (?) material obter o consentimento de alguém para que faça algo em prol dos interesses de quem oferece tal vantagem. Se a Globo não vê em tal atitude algo que possa ocasionar prejuízos ao desenvolvimento de crianças e adolescentes, creio que seja conveniente propagar o seguinte slogan: Globo e desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes, nada a ver!
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