segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Elite chinesa ‘compra’ cidadania estrangeira

Chineses de alta renda investem pelo menos US$ 500 mil para obter residência em países como EUA ou Austrália
“‘Nos anos 1970, 1980, emigrávamos para ganhar dinheiro trabalhando em restaurantes. Agora, emigramos para ter uma vida mais relaxada e pôr o dinheiro num lugar seguro’, diz o diretor de imobiliária David Yang sobre chineses que - como ele – adquiriram casa na Austrália. Há dez anos, quando foi à Austrália estudar computação, Yang (nome fictício) diz que não havia tantos chineses. ‘Hoje, várias cidades têm sua Chinatown’, diz. Sua imobiliária, internacional, criou uma seção em Pequim só para atender interessados em imóveis na Austrália.
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Os motivos que mais levam os chineses a buscar outros países, diz o estudo, são melhor educação para os filhos (58%), proteger o patrimônio (43%) e mais qualidade de vida na aposentadoria (32%).
Para Yang, que lida diariamente com chineses de alta renda, eles ‘não estão dispostos a melhorar a qualidade de vida na China’. ‘Querem desfrutar o céu azul’, afirma em alusão a péssima qualidade do ar das cidades chinesas.
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Austrália, Canadá e EUA têm registrado um crescimento de chineses se candidatando à imigração de investimento, tirando recursos e mão de obra capacitada da segunda maior economia do mundo.
Nos EUA, dados oficiais mostram que foram aprovados 1.971 imigrantes investidores chineses em 2009, alta de 43% em relação a 2008. Cada um deles teve de aportar pelo menos US$ 500 mil. Para quem não tem recursos suficientes, a opção é o ‘turismo de maternidade’: chinesas grávidas que viajam aos EUA ou a Hong Kong para dar à luz e garantir outra nacionalidade para o filho.
Não há números oficiais nos EUA, mas os anúncios de agências na China e o recente fechamento de casas na Califórnia que recebiam dezenas de chinesas grávidas – que pagam US$ 20 mil pelo serviço – mostram que a prática está disseminada. Pela lei americana, criança nascida no país é automaticamente cidadã, e os pais podem tirar a residência permanente quando o filho tiver 21 anos.
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‘Se todos partirem, quem salvará a China?’, escreveu o internauta Yuanli Feizhou em um site de discussão.”
Estes são alguns trechos de uma reportagem de Fabiano Maisonnave, publicada na edição de 13 de julho de 2011 do jornal Folha de São Paulo.
Elite é uma palavra que me incomoda, pois, no meu entender, possui dois significados conflitantes.
1. O que há de melhor em uma sociedade ou num grupo.
2. Minoria prestigiada e dominante no grupo, constituída de indivíduos mais aptos e / ou mais poderosos.
Como conciliar o que há de melhor em uma sociedade ou num grupo com minoria prestigiada e dominante no grupo, constituída de indivíduos mais aptos e / ou mais poderosos? Diante do que se pode ver, considero impossível tal conciliação, pois, do ponto de vista moral e do bem comum, a minoria dominante constitui, exatamente, o que há de pior em uma sociedade ou num grupo, porque enxerga apenas os seus próprios (ou seriam impróprios?) interesses. Vejam o que diz a reportagem.
“Para Yang, que lida diariamente com chineses de alta renda, eles ‘não estão dispostos a melhorar a qualidade de vida na China’. ‘Querem desfrutar o céu azul’, afirma em alusão a péssima qualidade do ar das cidades chinesas.”
Ou seja, a elite chinesa não está disposta a melhorar a qualidade de vida em seu país e “quer desfrutar o céu azul” longe dele e construído por outros. O comportamento desta elite chinesa me faz lembrar (por ser exatamente contrário) o de um chinês bastante famoso.
“Confúcio certa vez mostrou vontade de entrar em contato com algumas tribos selvagens. E lhe perguntaram:
- Por que este desejo? Eles são selvagens!
- Mas se um tipo de homem mais adiantado não for até eles, como poderão sair do estado de selvagens?”
No meu entender, a ideia de Confúcio define a verdadeira função das elites: melhorar os que lhe são inferiores e O programa do Senhor explica bem isto. Infelizmente, nesta sociedade que parece enxergar tudo de cabeça para baixo as elites em vez de atuarem para melhorar os piores servem, exatamente, para piorá-los cada vez mais. E, em um mundo transformado em um enorme mercado, elas vivem segundo uma adaptação da Lei de Lavoisier: Na natureza nada se cria, nada se faz, tudo se compra. E é tal adaptação que faz com que, naquele país que se julga a elite deste planeta, já seja possível comprar até a imprópria cidadania.
“Se todos partirem, quem salvará a China?”, escreveu o internauta Yuanli Feizhou em um site de discussão. Sinceramente, não creio que essas pessoas que partem sejam capazes de salvar alguma coisa. Acredito que sua capacidade seja mais para piorar o lugar para onde forem. Afinal, quanto mais egoístas estiverem reunidos em um mesmo lugar pior será esse lugar.
Considero bastante irônico o fato de, em um mundo abarrotado de objetos cuja etiqueta apresenta a expressão “made in China” e têm sua qualidade questionada, o país que se julga o que há de melhor neste planeta já aceite incluir entre os seus cidadãos pessoas “made in China” que tenham conseguido “comprar” sua cidadania. Será que não está passando da hora desse país abrir os olhos? Creio que se demorar muito a abri-los quando o fizer já será com olhos puxados!

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