quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Em Wall Street, o fracasso continua a ser recompensado

Apesar das críticas, executivos demitidos de grandes empresas levam para casa pacotes de remuneração gigantes
“Há duas semanas, Léo Apotheker foi demitido após 11 tumultuados meses à frente da HP. Sua recompensa? Um pacote de desligamento avaliado em US$ 13,2 milhões em dinheiro e ações, além de um pacote recebido por ocasião da sua contratação estimado em US$ 10 milhões.
No fim de agosto, Robert P. Kelly recebeu um pacote de desligamento de US$ 17,2 milhões em dinheiro e ações quando foi demitido do cargo de diretor executivo do Bank of New York Mellon depois de entrar em conflito com membros do conselho e alguns dos principais administradores da instituição. Dias depois, Carol A. Bartz levou para casa quase US$ 10 milhões do Yahoo depois de ser demitida da combalida gigante das buscas.
Marco da era dourada de poucos anos atrás, os pacotes de desligamento continuam a prosperar, apesar das medidas instaladas após a crise global para combater essa remuneração.
Há muito os críticos se queixam de pacotes desproporcionais de compensação que superam em muito o salário dos trabalhadores comuns, mas eles se mostram particularmente irados diante da remuneração do fracasso. Boa parte de Wall Street e do setor corporativo americano transferiu uma porção maior da remuneração para recompensas de prazo mais dilatado, sob a forma de ações, e estabeleceram políticas para recuperar as bonificações.
E, embora uma maior transparência nos detalhes dos pacotes de desligamento de anos atrás tenham ajudado a reduzir as proporções dos maiores pacotes do tipo, os esforços dos acionistas e reguladores para restringir ainda mais a remuneração tiveram menos sucesso. “Continuam a se repetir as situações nas quais os ativos das empresas são dissipados para recompensar o fracasso”, disse Scott Zdrazil, diretor de governança corporativa do Fundo Longview.”
Esta é a íntegra de uma notícia publicada na edição de 6 de outubro de 2011 do jornal O Estado de S.Paulo, referindo-se a algo publicado no The New York Times. A tradução é de Augusto Calil.
A notícia mostra uma das aberrações deste sistema econômico no qual coexiste uma enorme massa de trabalhadores comuns (expressão usada na notícia) que troca o seu tempo por salários que mais parecem troco e um “seleto” grupo de executivos que recebe exorbitantes remunerações para promover o sucesso de empresas e executar (afinal são executivos) o maior número possível de trabalhadores comuns, pois a finalidade primordial de quase todas as empresas é “reduzir custos”.
Mas a grande sacada desses executivos é o fato de “se darem bem” mesmo em caso de fracasso das suas “brilhantes” estratégias, pois se as remunerações já são absurdas, mais absurdas ainda são as compensações pelo fracasso por eles recebidas ao se desligar da empresa. Em inglês, esses executivos são denominados CEO (Chief Executive Officer) e, em minha opinião, há uma palavra em português que define bem a condição de tais executivos. Remunerados até por seus equívocos e lambanças, em termos financeiros, eles vivem em um verdadeiro CÉU.
Como este blog também pode ser cultura, seguem algumas considerações que encontrei na Wikipédia.
“O nome Wall Street (rua que é considerada o coração histórico do atual Distrito financeiro da cidade de Nova York) deriva do fato que durante o século XVII, constituiu o limite norte de Nova Amsterdam. Lá, os holandeses tinham construído uma parede da madeira e lama em 1652. A parede significou uma defesa contra possíveis ataques dos índios de Lenape, de colonizadores da Nova Inglaterra e dos ingleses, mas de fato foi usada para manter os escravos negros da colônia. A parede foi demolida pelos ingleses em 1699. No fim do século XVIII, os intermediários financeiros e especuladores se encontraram para negociar informalmente junto a um plátano de Wall Street.”
Achei interessantes algumas coisas ditas acima. A rua recebeu tal nome porque constituía um limite e hoje ela se destaca, justamente, pela ausência de qualquer limite para a ganância financeira dos que nela fazem negócios. A rua possuía uma parede protetora feita de madeira e lama para proteção contra possíveis invasores, mas de fato foi usada para manter os escravos negros da colônia. Hoje, os trabalhadores comuns (que talvez possam ser vistos como escravos financeiros) que nela trabalham podem ser mantidos sem a parede (derrubada pelos ingleses em 1699), pois a necessidade de trabalhar, mesmo em troca de salários degradantes, é suficiente para mantê-los cativos. Desde a época em que foi denominada Wall Street várias coisas mudaram naquela rua, mas algo que parece não ter mudado é o fato de ela ser um ponto de encontro entre intermediários financeiros e especuladores.
Nossa! Parece que eu também perdi o limite, pois esta postagem acabou ficando maior do que eu pretendia. Fracassei na tentativa de escrever um texto curto, e o meu fracasso não é recompensado!

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