Com pressão não se chega aos melhores resultados

Com apenas 39 anos de idade, mas com grande experiência nos ramos ligados a meios de pagamentos e tecnologia, Fernando Marques de Souza acaba de assumir um grande desafio: comandar a instalação e a operação da Cyber Source no Brasil. Comprada em abril de 2010 pelo grupo Visa, a empresa atua no fornecimento de soluções de pagamentos eletrônicos, controle de risco e segurança de pagamentos para estabelecimentos comerciais online.

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- Liderar é gerir pessoas?

- Minha responsabilidade é dirigir todo o negócio. Neste momento, por exemplo, estamos contratando no Brasil toda a equipe da Cyber Source, para as áreas comercial, técnica, de suporte ao cliente, marketing, essa equipe que vai trabalhar comigo.

- Você participa diretamente do processo?

- Ativamente. São três pilares que tenho em minha carreira, como pessoa, mas que influenciam na gestão dos negócios.

O primeiro tem a ver com integridade. Sou uma pessoa guiada por princípios e não por circunstâncias. Isso, para mim, tem a ver com lealdade, lidar com a verdade. Então, acho importante a equipe ter esses valores, porque, afinal é a reputação, não só do profissional, mas da Cyber Source, da Visa. Então, eu participo ativamente dos processos de seleção, primeiro de tudo para verificar princípios que os profissionais têm.

Segundo, eu creio muito que não adianta ter só uma visão estratégica, saber os diferenciais e como a empresa ser bem sucedida, se não tiver capacidade de executar. Então, aí vêm as decisões do dia a dia, que às vezes não são fáceis de tomar, mas é preciso tomá-las para executar.

E o terceiro pilar são as pessoas. Se não há uma equipe sentindo que está aprendendo, está executando o seu trabalho, se desenvolvendo, é muito difícil você ter um time vencedor. Todos nós lidamos com frustrações em nossas profissões, é normal que você tenha uma equipe que às vezes sofra frustrações, mas a maior parte do tempo ela tem de estar se divertindo, aproveitando, aprendendo no seu trabalho, é isso que forma um time vencedor. E eu prezo muito por isso.

- Então, não deve haver aquele clima constante de tensão...

- Um dos papéis do líder é segurar a tensão. Precisamos saber filtrar as pressões que às vezes recebemos dos investidores e dos líderes que estão acima de nós. Mas, ao mesmo tempo, para cobrarmos os resultados é preciso dar ferramentas. Certamente, eu acredito que não é na base da pressão que os melhores resultados são atingidos.

Estes são alguns trechos de uma entrevista com Fernando Marques de Souza, diretor-geral da Cyber Source no Brasil, publicada na edição de 4 de dezembro de 2011 do jornal O Estado de S.Paulo.

O fato de ter atuado durante 3,7 décadas no teatro corporativo e sempre ter entendido que com pressão não se chega aos melhores resultados, levou-me a ler a entrevista com alguém que tem a mesma opinião. E ao lê-la, vi que o entrevistado possui algumas características bastante interessantes sobre as quais senti vontade de opinar. Concordo com Fernando Marques de Souza quando diz que os três pilares que usa para apoiar-se como pessoa influenciam na gestão dos negócios. Aliás, em minha opinião, não poderia ser diferente, pois o que a pessoa é tem tudo a ver com a maneira como ela atua no que quer que seja. Quanto à ordem dos pilares, eu começo pelo que ele classifica como terceiro.

O meu primeiro pilar são as pessoas, pois sem elas nem existe a possibilidade de haver um time. Digo possibilidade, pois mesmo que haja pessoas, se não houver o sentimento de estar aprendendo e se desenvolvendo, não chegará a existir uma equipe, e sim apenas um bando confuso e desmotivado. Sim, todos nós lidamos com frustrações em nossas profissões, mas o habitual deveria ser o interesse na eliminação de tais frustrações e não a sua aceitação como algo normal. Na maior parte do tempo as pessoas devem estar se divertindo, aproveitando, aprendendo no seu trabalho, pois é isso que forma um time vencedor. Mas pessoas frustradas são incapazes de se divertir com seu trabalho.

Vejo integridade como um atributo fundamental para alguém ser considerado uma pessoa de bem. E mais do que uma questão de reputação, em minha opinião, guiar-se por princípios e não por circunstâncias é uma questão de consciência. Portanto, mais do que com a reputação é com ela que devemos nos preocupar, pois consciência é o que você é, e sua reputação é o que os outros pensam de você. E o que os outros pensam de você é problema deles.

Concordo que saber filtrar as pressões recebidas de quem está acima seja um dos papéis de um autêntico líder, mas, infelizmente, entre os que são rotulados de líderes, são raros os que conseguem desempenhar tal papel. O normal é filtrar nada e repassar toda e qualquer pressão com a desculpa de que foram “eles” que mandaram fazer. Quem são “eles”? Os líderes que estejam acima. É impressionante a quantidade de profissionais rotulados de líder que na verdade lidera nada, pois são meros repassadores de ordens e pressões vindas de cima.

Hoje, creio que tal comportamento pode ser explicado até pelo entendimento equivocado de um novo conceito do que seja liderar. Refiro-me ao conceito de que liderar seja servir. Vocês já ouviram falar em líder servidor? Pois é, tem muito “líder” que já ouviu... e interpretou errado, pois entendeu que seja servir a todo e qualquer superior hierárquico. E aí, tome de repassar pressão!

A entrevista é encerrada com a seguinte frase:

“Certamente, eu acredito que não é na base da pressão que os melhores resultados são atingidos.”

E esta postagem também.