segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Expectativa de vida chega a quase 73 anos e meio no país

Aumento interfere diretamente no cálculo para as novas aposentadorias
“Um brasileiro que nasceu em 2010 deve viver, em média, 73 anos, 5 meses e 24 dias. Se for mulher, a expectativa é maior – 77,3 anos; se for homem, é de 69,7.
Os dados, divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostram que, em cinco décadas, a esperança de vida no país deu um salto de mais de 25 anos – em 1960, ela era de apenas 48 anos.
Segundo o pesquisador do IBGE Fernando Albuquerque, o avanço está ligado à melhoria das condições sanitárias e à queda da mortalidade infantil.
(...)
“Com a população mais envelhecida, os custos com saúde e previdência aumentam. (...) Quanto maior a esperança de vida da pessoa ao se aposentar, menor o fator previdenciário e, portanto, menor o valor da aposentadoria.”
Estes são alguns trechos da reportagem de Denise Menchen publicada na edição de 2 de dezembro de 2011 do jornal Folha de S.Paulo.
O que fazer diante desta notícia? Comemorar ou lamentar, eis a questão. O desejo de adiar ao máximo a inevitável ida para outro mundo faz com que a simples expectativa de passar mais tempo neste seja motivo de comemoração, mas será que isto faz sentido? Para tirar esta dúvida recorro ao que é dito imediatamente abaixo do título da reportagem: o aumento da expectativa de vida interfere diretamente no cálculo para as novas aposentadorias. E como é que ele interfere? Diminuindo o valor da aposentadoria através da aplicação do fator previdenciário.
“Com a população mais envelhecida, os custos com saúde e previdência aumentam. (...) Quanto maior a esperança de vida da pessoa ao se aposentar, menor o fator previdenciário e, portanto, menor o valor da aposentadoria.”
Ou seja, quanto maior a esperança de vida da pessoa, tanto maior a desesperança de terminar a vida com dignidade, pois quanto mais avançada seja a idade, maiores são os gastos com saúde e menor o valor da aposentadoria recebida para arcar com tais gastos. Então, para diminuir o impacto do fator previdenciário as pessoas serão “estimuladas” a trabalhar cada vez mais, durante mais tempo, para evitar se aposentar ganhando cada vez menos. E dessa forma, elas passarão cada vez mais tempo fazendo coisas que preferiam não estar fazendo. É de Horst Tappert, ator e supervisor aposentado, a seguinte afirmação.
“Eu me perguntei se esse era o sentido da vida: levantar às cinco da manhã e chegar a casa às sete da noite apesar de o serviço não me satisfazer em nada”.
Foi por concordar com o questionamento de Horst Tappert que, apesar do fator previdenciário, há um ano e dois meses, optei pela aposentadoria.
Creio que cada divulgação de uma nova expectativa de vida deveria trazer com ela uma preocupação. Em quais condições será usufruída a prorrogação da estada neste mundo? Ou seja, mais do que quanto tempo de vida ainda nos resta deveria nos interessar saber como passaremos tal tempo. Há uma frase que já vi atribuída a mais de um autor, mas que, no meu entender, tem bastante afinidade com o pensamento de Alexis Carrel, que diz o seguinte: “O que importa não é acrescentar anos à sua vida, mas vida aos seus anos”. Martin Luther King concordava com ela, pois ao ser aconselhado a andar armado, devido ao risco de ser assassinado (o que acabou acontecendo) ele justificou a não aceitação do conselho com a seguinte frase: “O que vale não é o quanto se vive; mas como se vive”.
Portanto, será que saber que teremos mais tempo de vida deve ser por si só motivo de júbilo? Em minha opinião, não. A pergunta que se deve fazer é a seguinte: Será que saberemos aproveitar o tempo a mais que nos for dado? Será que não o usaremos como uma nova oportunidade para fazer mais das mesmas coisas equivocadas que sempre fizemos? E mais tempo ainda para vivenciarmos coisas deploráveis como os intermináveis conflitos entre nações, a crescente animosidade e violência entre os seres humanos (?), o aumento do índice de desemprego que conduz as pessoas a viver de forma indigna, o medo de perder o emprego e a consequente aceitação de insanas jornadas de trabalho, a ameaça cada vez maior de destruição do próprio planeta e outras desgraças mais?
Neste mundo fértil em equívocos, as pessoas acreditam que quanto mais tempo nele permanecerem maior será o proveito tirado, mas há quem pense o contrário. Vejam o que diz uma história que encontrei em um livro intitulado Osho – Todos os dias.
O Essencial
“Existe uma velha história sobre três viajantes que foram a Roma Eles visitaram o papa, que perguntou ao primeiro: “Por quanto tempo você vai ficar aqui?” O homem respondeu: “Três meses.” O papa disse: “Então você poderá ver muito de Roma.” Em resposta a quanto tempo ele iria ficar, o segundo viajante respondeu que podia ficar somente seis semanas. O papa disse: “Então, você poderá conhecer mais do que o primeiro.” E o terceiro viajante disse que ficaria em Roma somente duas semanas, ao que o papa disse: “Você é um felizardo, porque poderá ver tudo o que existe para ver!”
Os viajantes ficaram perplexos, porque não entendiam o mecanismo da mente. Pense: se você tivesse um período de vida de mil anos, você perderia muitas coisas, porque as adiaria. Mas, porque a vida é muito curta, você não pode se dar ao luxo de adiar. Mesmo assim, as pessoas adiam, e para o seu próprio prejuízo.
Imagine se alguém lhe dissesse que você tem somente um dia de vida. O que você faria? Você pensaria em coisas desnecessárias? Não, você se esqueceria de tudo isso. Você amaria, rezaria e meditaria, porque só lhe restariam vinte e quatro horas. Você não adiaria as coisas reais e essenciais.”
Diante de tudo o que foi dito acima, lembro de uma frase que ouvi inúmeras vezes do Demílson, um ex-colega de trabalho e eterno amigo: “Feliz será quem morrer mais cedo”. Não, não se trata de ser pessimista, e sim realista. Ou mudamos o nosso modo de viver ou qualquer aumento da expectativa de vida neste mundo não merece comemoração alguma, e sim uma lamentação. Ou nos dispomos a atuar no sentido de melhorar as condições de vida neste mundo ou não vejo razão alguma para pretender nele permanecer durante mais tempo. No meu entender, se não nos interessarmos pelo como, não vale a pena nos animarmos com o quanto mais ainda viveremos. Portanto, comemorar ou lamentar, eis a questão que, em minha opinião, pode ser sugerida pela reportagem que motivou esta postagem.

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