quarta-feira, 25 de abril de 2012

O que justifica a entrevista do Fantástico com Adriano?

“Adriano tem problemas. Vários. Dentro e fora do campo. O que interessa? No campo, óbvio, afinal ele é jogador. Mas quando a vida pessoal influencia no seu rendimento profissional, o que faz fora das quatro linhas passa a fazer parte da conversa. Uma conversa problemática e chata. Um porre. E um prato cheio para quem quer explorá-la. Tudo pela audiência?
Assim como havia feito com Ronaldo, o programa Fantástico, da TV Globo, escalou uma repórter para entrevistá-lo. Não, dessa vez não foi a Patrícia Poeta. Mas pouco importa quem foi escalada. O papel foi o mesmo.
Adriano admitiu que faltou 67 vezes a seções de fisioterapia, fundamentais para a sua recuperação da cirurgia no tendão do pé esquerdo realizada no Corinthians, mas deixou claro: ‘Todas [as faltas] foram comunicadas. Pegava no telefone e ligava para avisar’.
Também confirmou que ingeriu bebida alcoólica após a operação e reclamou: ‘Todo jogador toma a sua cervejinha’. E se disse perseguido: ‘Daqui a pouco, vão tirar foto aqui dentro de casa’. E criticou o Corinthians. Disse que não concordava com a demissão por justa causa. E, instigado pela repórter, falou sobre voltar a jogar pelo Flamengo e pela Seleção. Adriano mostrou confiança, claro.
Alguém esperava algo diferente? Senso crítico de Adriano? Já o fez outras vezes com a história de que vai aproveitar a nova chance e que irá dar a volta por cima. Que maravilha, né? Infelizmente, não, porque ele acredita nessas possibilidades, mesmo fazendo tudo errado. E, justamente quando precisa cair na real e tomar ciência do que tem feito de mal a sua carreira para, quem sabe?, voltar a ser...atleta de futebol, eis que aparecem os holofotes. Uma entrevista num programa dominical, em horário nobre, em uma TV que tem bastante audiência só para dar voz a quem não tem nada de novo a dizer neste momento.
Para que serve essa entrevista? Para levantar a moral do nosso heroi que está machucado e dizer que todo o país acredita nele e em todas as bobagens que diz? Com que intuito?
Na briga pela audiência, vale expor uma pessoa que tem problemas? Vários problemas. Jornalísticos, inclusive. Mas segue o show da vida.”
Esta é a íntegra de uma notícia publicada em 24 de abril de 2012 no Yahoo como destaque.
Adriano é um legítimo produto de uma sociedade que lucra com a transformação em ídolos de indivíduos desprovidos de condições psicológicas para serem tratados como tal. Uma sociedade que concede a um plebeu sem noção o título de imperador e, consequentemente, o direito de fazer tudo o que ele mal entender.
(...) instigado pela repórter, falou sobre voltar a jogar pelo Flamengo e pela Seleção. Adriano mostrou confiança, claro.
Infelizmente, a confiança demonstrada por Adriano nada mais é do que a confiança que a mídia lhe dá ao chamá-lo de imperador. Creio que se ela passasse a tratá-lo como um simples plebeu talvez ainda houvesse alguma chance de ele cair na real e voltar a ser o que foi: um jogador de futebol.
E, justamente quando precisa cair na real e tomar ciência do que tem feito de mal a sua carreira para, quem sabe?, voltar a ser...atleta de futebol, eis que aparecem os holofotes. Uma entrevista num programa dominical, em horário nobre, em uma TV que tem bastante audiência só para dar voz a quem não tem nada de novo a dizer neste momento. Para que serve essa entrevista? Para levantar a moral do nosso heroi que está machucado e dizer que todo o país acredita nele e em todas as bobagens que diz? Com que intuito?
Tudo pela audiência? (...) Na briga pela audiência, vale expor uma pessoa que tem problemas? Vários problemas. Jornalísticos, inclusive. Mas segue o show da vida.
Alguém esperava algo diferente? Senso crítico de Adriano? Mas será que é apenas a Adriano que falta senso crítico? Não, ele falta também aos telespectadores que ajudam a manter a audiência do show da vida.
"O que justifica a entrevista do Fantástico com Adriano?" é a pergunta que intitula a reportagem que provocou esta postagem. E para ela a minha resposta é a seguinte. O que a justifica é a falta de senso crítico de uma sociedade cujo controle e manipulação já superou a política do Pão e Circo, pois hoje, se houver circo, as pessoas até toleram a inexistência de pão. Afinal, segundo uma TV que tem bastante audiência e que apresenta num programa dominical, em horário nobre, uma entrevista só para dar voz a quem não tem nada de novo a dizer neste momento, "a vida é um show".

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