terça-feira, 8 de maio de 2012

Inadimplência bate recorde e consumidor dá carro de graça para se livrar de dívida

"A inadimplência recorde e o aperto dos bancos no crédito têm causado algo além de concessionárias vazias. Muitos consumidores que, com o incentivo do governo, compraram carro financiado nos últimos meses, chegam a um verdadeiro limbo quando têm dificuldade em pagar as parcelas. Tentam vender o veículo, mas, como o carro deprecia rápido e há grande oferta, o valor conseguido na venda não é suficiente para quitar a dívida.
Para resolver o problema, muitos consumidores têm tentado uma solução caseira: repassar o automóvel e a dívida a outra pessoa. Às vezes, no desespero, até de graça.
Em janeiro, o paulistano Felipe Di Luccio percebeu que as contas não fechavam. A faculdade, a parcela do apartamento recém-comprado e o financiamento do carro consumiam boa parte do salário. Para sair do vermelho, decidiu vender o Celta comprado sete meses antes em 60 parcelas. 'Mas não dava. Receberia R$ 20 mil, insuficiente para pagar a dívida de R$ 23,5 mil ao banco. Então, decidi repassar a dívida'.
O plano do estudante de arquitetura era simples. Como a venda do carro não bastava para liquidar a dívida, queria se livrar do financiamento com a entrega do carro para outra pessoa. 'Vai o carro, vai a dívida', resume. Não há números oficiais, mas financeiras e lojas de automóveis reconhecem que a iniciativa de Luccio tem se repetido cada vez mais no País.
Após a exuberância do crédito fácil e abundante dos últimos anos, clientes com dificuldade financeira se desesperam ao perceber que não basta vender o carro para quitar o empréstimo. Os que mais sofrem são aqueles que optaram pelo financiamento de 100% do veículo, exatamente como Luccio.
Erro
'Um carro pode depreciar até 40% em um ano. Em um crédito de 60 meses, os pagamentos do primeiro ano amortizam 10% da dívida. Esse foi o erro que cometemos em 2010 e 2011. Reduzimos muito o juro, facilitamos demais as condições e, por isso, a inadimplência subiu', reconhece o presidente da associação Brasileira de Bancos (ABBC), Renato Oliva.
Em outras palavras: 'o erro foi permitir que o bem que garante a crédito passasse a valer muito menos que a dívida. A partir daí, a entrega do carro já não é suficiente para resolver o problema gerado por um calote'."
Esta é quase a íntegra da reportagem de Fernando Nakagawa publicada na edição de 15 de abril de 2012 do jornal O Estado de S. Paulo.
Apesar de eu não ter estudado contabilidade, o fato de durante dezesseis anos ter desenvolvido sistemas de informações para a área contábil me deu a oportunidade de conhecer o Método das Partidas Dobradas. Para quem não o conhece, em linhas gerais, ele diz o seguinte: "Cada transação financeira é registrada na forma de entradas em pelo menos duas contas, nas quais o total de débitos deve ser igual ao total de créditos. Ou seja, segundo tal método, tudo tem uma contrapartida. Por que estou dizendo isto? Porque, no meu entender, o Método das Partidas Dobradas pode ser usado além da contabilidade e ser aplicado também na vida, pois nela tudo o que acontece também tem uma contrapartida.
Isso explica que as facilidades oferecidas na hora de contratar um financiamento implicam em dificuldades na hora de pagá-lo. Que as compras feitas sem entrada implicam em pagamentos que ficam sem saída. E ao ficar sem saída para pagar, o consumidor tenta empurrar a dívida para outro incauto.
Infelizmente, a maioria dos seres desta que se julga a espécie inteligente do Universo não demonstra ter inteligência suficiente para lidar com estas duas coisas: dificuldades e facilidades. E das duas a que ela parece ter mais dificuldade para lidar são as facilidades. E dentre elas uma das com que a maioria mais se atrapalha é a facilidade de crédito. Portanto, para mim, a reportagem que provocou esta postagem não causa nenhum espanto, pois para quem não sabe lidar com as facilidades de crédito oferecidas a inadimplência é uma consequência inevitável.

2 comentários:

Maurício disse...

Este é o resultado de mais uma ação negativa sobre a população com a nefasta alcunha de governo social: crédito fácil! Fomentar a economia através de facilidades na concessão de crédito para pessoas que mal tiveram acesso à instrução básica é "empurrar o cego em direção ao precipício"!

Guedes disse...

Oi Maurício,

Infelizmente, os que seguem “em direção ao precipício” não são apenas “as pessoas que mal tiveram acesso a instrução básica”. Conheço uma quantidade enorme de pessoas que caíram no precipício mesmo tendo acesso à instrução superior e acredito que você também conheça. Procure lembrar. Se não lembrar, busque na internet um programa "Globo Repórter" que focalize o assunto endividamento e verá que a maioria dos endividados pertence à classe dos que foram muito além da instrução básica.

Concordo que “a facilidade na concessão de crédito oferecida com a nefasta alcunha de governo social” contribui muito para “empurrar o cego em direção ao precipício”. O problema é que há também uma enorme quantidade de pessoas que embora não devesse ter deficiência visual aceita ser empurrada em direção ao precipício. Pense nisso.

Abraços,
Guedes