segunda-feira, 18 de junho de 2012

Às vésperas da Rio + 20, o governo baixa os preços dos carros para estimular as vendas. Dá para entender?

Mais uma vez este blog apresenta algo que, embora divulgado pela mídia, não é uma notícia, mas que, no meu entender, vale a pena ser divulgado. Trata-se de um trecho de um artigo de Danuza Leão, publicado em sua coluna no jornal O Folha de S. Paulo na edição de 10 de junho de 2012. O artigo é intitulado Da série 'coisas que eu não entendo' e o título da postagem é o destaque feito no artigo.
“Outra coisa curiosa: sabe-se que em quase todos os países do planeta há uma tendência a que as pessoas passem a usar mais o transporte público ou a estimular o transporte solidário para desafogar o trânsito, caótico nas grandes cidades. São Paulo inovou com o rodízio, e, segundo li, está pensando em fechar algumas ruas, a exemplo de Londres e Curitiba, para que algumas áreas sejam usadas apenas por pedestres. Pois às vésperas da Rio + 20 o governo baixa o preço dos carros para estimular as vendas, e as montadoras desovam milhares de carros dos seus pátios, o que vai infernizar ainda mais o trânsito das cidades (e os novos compradores, serão, talvez, os próximos inadimplentes). Dá para entender?"
Não, para algumas minorias, não dá para entender. Não dá para entender, para quem busca coerência entre problemas e soluções; para quem sabe que os problemas de hoje provêm das 'soluções' de ontem; para quem conhece o raciocínio sistêmico e, portanto, sabe que toda e qualquer ação tem alguma influência sobre outras, embora, infelizmente, a maioria não perceba tal coisa.
O que dá para entender é que a "solução" dada pelo governo para esvaziar os pátios das montadoras, esvazia também o bolso dos consumidores, e enche ainda mais as vias para o tráfego de veículos. Considerando que as montadoras tornarão a encher seus pátios e o governo voltará a ajudá-las a esvaziá-los, consequentemente, as vias para o tráfego de carros ficarão cada vez mais cheias, o trânsito ficará cada vez mais caótico, e, no meu entender, nem após a Rio + 200 (será que o Rio ainda existirá daqui a 180 anos, se prosseguirmos com o comportamento atual?) será tomada alguma decisão que faça algum sentido.
O que dá para entender é que em uma única decisão o governo resolve não só o problema das montadoras, mas também o dos bancos que financiarão a aquisição dos veículos.
O que dá para entender é que a opinião de Danuza Leão está correta e que entre os novos compradores estará uma grande quantidade de inadimplentes.
O que dá para entender é que em um País onde o povo é apaixonado por carros o governo sempre se sentirá à vontade para tomar decisões que estimulem a aquisição de veículos.
O que não dá para entender é que às vésperas de um evento que, supostamente, vise estabelecer acordos no sentido de melhorar as condições de vida neste planeta o governo tome decisões que contribuem para piorá-las.
O que dá para entender é que se quisermos olhar a Rio + 20 como algo associado à preservação da natureza, o máximo que conseguiremos é vê-la como uma conferência que não vai muito além de uma conversa mole para boi dormir, pois, infelizmente, a maioria dos governantes atua apenas em defesa dos interesses das corporações que os sustentam.

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