domingo, 8 de julho de 2012

Ainda é a economia, estúpido!

Os EUA são o segundo maior emissor de CO2 do planeta e o maior consumidor de recursos naturais. Uma agência ambiental forte poderia achar que isso é um problema
“A expressão foi criada há 20 anos por James Carville, assessor de campanha de Bill Clinton, e continua atualíssima. Na época, ela serviu para derrotar o discurso patriótico de George Bush, o pai, baseado no fim da Guerra Fria e no sucesso da Guerra do Golfo. O bolso dos americanos gritou mais alto e elegeu o candidato democrata. Desta vez, ela foi vista rondando as salas de reunião do Riocentro e outros eventos de empresários e políticos durante a Rio + 20. Não foi usada como slogan, mas aparece nas entrelinhas de vários parágrafos do documento final da conferência.
A lamentável participação da delegação americana, por exemplo, foi toda baseada nisso. Transformar o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) numa agência da ONU, como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), representaria uma ameaça para a economia americana. Já basta perder ações importantes para países menos influentes na OMC. Os EUA são o segundo maior emissor de CO2 do planeta e o maior consumidor de recursos naturais. Uma agência ambiental forte poderia achar que isso é um problema.
O mesmo aconteceu nas discussões sobre oceanos, especialmente no item sobre exploração de recursos em alto mar. A Europa e os EUA têm recursos e tecnologia para explorar economicamente essas riquezas e não querem regras internacionais atrapalhando isso. Quando o tema é acabar com os subsídios para a indústria pesqueira, com o nobre objetivo de preservar as espécies, quem esperneia são os japoneses. Eles ganham muito dinheiro com isso. Inclusive pescando baleias.
(...) A China tem uma posição curiosa nesse xadrez econômico-ambiental. Eles são os campeões em emissões de gases de efeito estufa. Ônus do crescimento elevado. Por isso, não aceitam metas obrigatórias de redução e defendem com unhas e dentes as responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Por outro lado, é o país que mais investe em energias limpas. Só no ano passado foram US$ 57 bilhões. Estão apostando que esse será o negócio do futuro e esperam vender patentes e equipamentos. Nada de transferência de tecnologia para país pobre. Negócio é negócio. Certo?
Se o documento aprovado na Rio + 20 for posto em prática, e não há nenhuma garantia de que isso aconteça, nos próximos três anos serão discutidos e definidos os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Questões como financiamento, níveis de consumo, transferência de renda e patentes voltam para a mesa sem perspectiva de solução. Esperava-se que a crise mundial levasse os países a criar um novo modelo, mais sustentável. Não foi desta vez: é a economia estúpido!
Esta é quase a íntegra de um artigo de Agostinho Vieira, publicado na edição de 22 de junho de 2012 do jornal O Globo.
A expressão - É a economia, estúpido! - foi criada há 20 anos, ou seja, no ano em que ocorreu a ECO-92 (Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento), realizada em junho de 1992 no Rio de Janeiro e, segundo o artigo apresentado acima, sustenta-se atualíssima. Sustentabilidade é algo bastante intrigante, pois dependendo do grupo, país ou corporação que a defende ela tem significados diferentes e, geralmente, conflitantes. Enquanto para uns significa sustentar a possibilidade de preservação da vida humana neste planeta, para outros significa sustentar a possibilidade de usufruir deste planeta enquanto nele for possível a vida humana. Sustentabilidade é um problema de eco. Enquanto os bem intencionados almejam preservar a ecologia em prol da humanidade, os mal intencionados pretendem preservar sua economia apenas em seu próprio (ou seria impróprio) benefício.
Já que o assunto é sustentabilidade, o que não dá para sustentar é a hipocrisia dos países ricos. Vivem em função apenas de si próprios, mas têm a desfaçatez de participar de conferências que visam buscar o comprometimento de todos para solucionar problemas que afetam mais aos países pobres, mas que são criados, principalmente, por eles - os países ricos. Participam de conferências cuja finalidade é cuidar da ecologia, mas interessam-se unicamente pela economia. Ainda é a economia, estúpido! E até quando ainda será? Até quando os verdadeiros estúpidos se perceberem como tal ou a possibilidade de vida humana for extinta deste planeta; o que acontecer primeiro.

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