quarta-feira, 29 de agosto de 2012

'Sacrificar a vida para ler uma mensagem? Acontece todo dia'

"O jornalista americano William Powers, autor do livro O BlackBerry de Hamlet, acostumou-se a ver notícias sobre a morte de jovens que teclavam enquanto dirigiam. Como a de Taylor Sauer, de 18 anos. Em 14 de janeiro, ela dirigia a cerca de 130 km/h em uma estrada e conversava pelo Facebook com um amigo sobre futebol americano. Seu último comentário foi: 'Não posso discutir isso agora. Dirigir e falar no Facebook não é seguro! Haha'.
Em entrevista ao Estado por e-mail, Powers falou sobre como o comportamento é 'tolo e pode ser perigoso' e como companhias como Facebook e Google lidam com o excesso de conectividade atual. Para o autor, é preciso promover intervalos entre o usuário e as telas - computadores, tablets, celulares - e o momento da direção pode ser um deles.
- Cada vez mais as pessoas teclam dentro dos carros. O momento da direção pode ser um dos intervalos entre usuário e tela que o senhor propõe em seu livro?
- Dirigir e digitar é tolo, é perigoso e está matando gente. Sim, acho que o carro pode ser um desses intervalos. Muito raros hoje, mas valiosos. Mas enquanto carros e smartphones não evoluírem a ponto de nos ajudar a desconectar na direção - algum dia, acho que vão nos ajudar - cada um tem de tomar a decisão de fazer por si mesmo.
- Por que é tão difícil se desconectar? É mais difícil para os mais jovens?
- É difícil porque estar em contato com outras pessoas e informações é uma experiência poderosa. O ser humano é inerentemente uma criatura social. Há, inclusive, evidências de que os nossos cérebros nos dão uma recompensa química quando usamos esses aparelhos, uma injeção de dopamina que parece muito com usar droga. E isso é sentido em todas as idades, mas os mais jovens são naturalmente mais intensos nisso, porque estão descobrindo o mundo e o significado de ser social.
- O que pensa das pessoas que morrem por não conseguirem parar de digitar mesmo na direção?
- É uma situação absurda e trágica. Teclar realizando outras tarefas digitais na direção é responsável por mais acidentes e mortes do que imaginamos. Sacrificar sua vida para ler uma mensagem? Acontece todos os dias. O mundo precisa despertar para essa questão.
- Em sua opinião, companhias de telefonia móvel deveriam ajudar com campanhas educativas?
- Sim, devem ajudar a mudar a mentalidade do público sobre o tema. Nos Estados Unidos, algumas já fazem isso. Tanto o Facebook quanto o Google me chamaram em seus escritórios. O diretor executivo do Google, Eric Schmidt, repetidamente encoraja os jovens a tirar suas caras da frente das telas. Nas minhas palestras, gosto de exibir um comercial de uma grande companhia tailandesa de telecomunicações. É curto e poderoso, chama-se Desconecte para Conectar. A propaganda mostra pessoas com amigos e parentes queridos que, quando pegam o celular, ficam imediatamente sozinhas.
Esta é a íntegra de uma entrevista com William Powers, autor do livro O BlackBerry de Hamlet, publicada na edição de 8 de julho de 2012 do jornal O Estado de S.Paulo.
Digitar enquanto se dirige virou trilogia, hein! A longa reportagem de Denize Guedes (apresentada em duas postagens) e a entrevista com William Powers, publicadas em uma mesma edição do jornal O Estado de S.Paulo fizeram com que isso acontecesse.
Seu último comentário foi: "Não posso discutir isso agora. Dirigir e falar no Facebook não é seguro! Haha". E qual terá sido a primeira reação de quem recebeu tal comentário, ao saber que o amigo morrera? Teclar realizando outras tarefas digitais na direção é responsável por mais acidentes e mortes do que imaginamos. Do que imaginamos e do que acreditamos que seja possível, pois no que a maioria acredita é que essas coisas acontecem com outros, mas não com ela, não é mesmo? Lembram do que diz um dos citados na postagem anterior: "Olha, eu sou bom nisso!" É assim que o analista de sistemas Felipe Callegaro Magalhães Pereira, de 24 anos, responde se troca mensagens com os amigos e dirige ao mesmo tempo.
Mas enquanto carros e smartphones não evoluírem a ponto de nos ajudar a desconectar na direção - algum dia, acho que vão nos ajudar - cada um tem de tomar a decisão de fazer por si mesmo, é a opinião de William Powers sobre o comportamento de cada vez mais as pessoas teclarem enquanto dirigem. Tenho opinião totalmente diferente sobre tal comportamento. O que precisa evoluir a ponto de nos ajudar a desconectar na direção não são os carros e os smartphones, e sim a tal da espécie inteligente do Universo. Cada um tem de tomar a decisão de evoluir a ponto de ser capaz de demonstrar tal inteligência. Feito isso, desconectar na direção será automático.
William Powers associa a dificuldade de se desconectar ao fato de o ser humano ser inerentemente uma criatura social. E atribui ser mais difícil para os mais jovens ao fato destes estarem descobrindo o mundo e o significado de ser social. Pobres jovens! Estão descobrindo o significado de ser social de forma tremendamente equivocada. E para justificar esta afirmação, basta usar as palavras finais da entrevista de William Powers.
Nas minhas palestras, gosto de exibir um comercial de uma grande companhia tailandesa de telecomunicações. É curto e poderoso, chama-se Desconecte para Conectar. A propaganda mostra pessoas com amigos e parentes queridos que, quando pegam o celular, ficam imediatamente sozinhas."
Ficam imediatamente sozinhas! Será este o significado de ser social? Qual é a opinião de vocês?

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