segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Felicidade, carreira e maratona (final)

Continuação de segunda-feira, 17 de setembro
Mario Sergio Cortella diz que as novas gerações procuram experiências e que a atual geração vive a agitação, que significa velocidade, instantaneidade, simultaneidade e mobilidade. A entrevistadora lhe pergunta se essa busca por experiência não leva à superficialidade, e ele dá a seguinte resposta.
"Sim. Infelizmente, muitos estão em busca da euforia, que é algo que desaparece rapidamente. Felicidade é muito mais denso do que isso. As novas tecnologias ofereceram não apenas velocidade ao mundo, mas também pressa. E não se pode confundir velocidade com pressa. Fazer algo velozmente é sinal de perícia. Mas fazer apressadamente é sinal de descontrole. Isso tudo gera um descompasso muito sério, porque a vida é maratona, e não uma disputa de 100 metros rasos. Na maratona, há momentos para acelerar e para reduzir. É necessário tirar vantagem da velocidade, e não da pressa."
Sim, infelizmente, vivemos em uma época em que a maioria confunde tudo: euforia com felicidade, pressa com velocidade etc. Vivemos tempos muitos confusos, e quanto mais pressa tivermos mais confusos ficaremos, conforme mostra a história abaixo.
“Bruce Chatwin conta que um explorador branco, ansioso para chegar logo ao seu destino no coração da África, pagava um salário extra para que os seus carregadores andassem mais rápido. Durante vários dias, os carregadores apressaram o passo. Certa tarde, porém, todos sentaram-se e depositaram seus fardos, recusando-se a continuar. Por mais dinheiro que lhes fosse oferecido, os carregadores não se moviam. Quando, finalmente, o explorador pediu uma razão para aquele comportamento, obteve a seguinte resposta: ‘Andamos muito depressa, e já não sabemos mais o que estamos fazendo. Agora precisamos esperar até que nossas almas nos alcancem’.”
Andamos muito depressa, e já não sabemos mais o que estamos fazendo. Agora precisamos esperar até que nossas almas nos alcancem. Eis o diagnóstico de um dos grandes males que afligem a humanidade - a pressa - e uma indicação de tratamento para ele - esperar até que nossas almas nos alcancem. Uma sociedade formada por seres sem alma jamais será algo que preste.
Mario Sergio Cortella diz que não se pode confundir velocidade com pressa, porque a vida é maratona, e não uma disputa de 100 metros rasos. É ao confundir velocidade com pressa que as pessoas tentam percorrer os quilômetros da vida como se estivessem disputando uma corrida de 100 metros rasos. E, consequentemente, são vítimas de uma de duas coisas: ou sucumbem durante a prova ou a terminam em condições precárias.
Cortella diz que vivemos uma realidade multifacetada e, por isso, temos que aproveitar essa simultaneidade das gerações e dos tempos. Creio que tal simultaneidade sempre tenha existido, e a inabilidade para lidar com ela também. O convívio de diferentes gerações jamais foi satisfatório. Cortella diz que precisamos tirar proveito do conjunto de habilidades que cada geração conseguiu desenvolver. E acrescenta que unir o senso de urgência dos mais jovens com a experiência dos profissionais com mais idade é benéfico. E aí eu pergunto: Como fazer isso em um mundo que só valoriza o novo? Em um mundo onde a urgência dos mais jovens contagia os mais velhos. Um mundo onde os mais velhos querem imitar os mais novos.
É como uma orquestra: a beleza está na harmonia do conjunto. Pensar as empresas como uma orquestra ajuda bastante, são palavras de Cortella. Considero perfeita tal analogia, e lamentável a sua escassa aplicação. Creio que seja mais uma consequência da prevalência do "moderno" sobre o "antigo". Orquestras significam antiguidade. Hoje, o prestigiado são as bandas. E quando alguém consegue se destacar em alguma delas, não é raro partir para uma carreira solo. Vivemos em um mundo extremamente individualista e orquestras requerem espírito de equipe.
Sim, empresas podem ser comparadas com orquestras, mas como a sociedade é composta de empresas, creio que ela própria pode ser olhada como uma orquestra. E da mesma forma que a beleza de uma orquestra está na harmonia do conjunto, a beleza de uma sociedade está na harmonia entre os seus integrantes. E é essa harmonia que proporciona não só a felicidade na carreira, mas também a vitória na maratona que é a vida.

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