segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Felicidade, carreira e maratona (I)

O filósofo Mario Sergio Cortella fala por que a busca de realização deve ser pensada como uma prova de longa duração, e não uma corrida de 100 metros
- A felicidade sempre foi o ideal do ser humano. É possível encontrá-la no trabalho?
- É importante saber o que realmente significa a felicidade. Ela é uma vibração intensa, uma sensação de vitalidade que nos atinge e dá um gosto imenso por estarmos vivos. Mas a felicidade é episódica, uma ocorrência eventual. A vida é carregada por momentos de turbulência. Ninguém pode ser feliz o tempo todo. Isso seria uma insanidade e poderia gerar um estresse na nossa capacidade mental. Por isso, há momentos em que a felicidade pode ser favorecida, como no local de trabalho ou na carreira, por exemplo. Se para algumas pessoas ela representa o acúmulo de bens materiais, para outras é o reconhecimento por algo que se está fazendo. Receber elogios de um cliente ou do chefe, nesse sentido, proporciona uma vibração momentânea de alto nível.
- Então precisamos de reconhecimento para sermos felizes?
- Reconhecimento é uma das maneiras mais usuais de obtenção de felicidade no trabalho. Nós nos conhecemos de maneira subjetiva. Lembre-se de que o espelho nos mostra de forma invertida. Por isso, necessitamos das outras pessoas, sim. Quando o reconhecimento é externalizado, a sensação de felicidade é intensa. É o que experimenta um músico quando a plateia o aplaude. Ou um executivo, com o aumento da lucratividade da empresa. No mundo do trabalho, a felicidade é produzida pelo reconhecimento. E ele pode ser financeiro ou vir por meio de um agradecimento.
- De que forma o senhor percebe a busca dos mais jovens pela realização profissional?
- Eu nasci em meados da década de 1950. Minha geração buscou essencialmente a estabilidade como meta. O emprego estável era o que mais oferecia essa condição. Já as novas gerações procuram experiências. Elas querem fazer da vida uma possibilidade de experimentar várias coisas. A atual geração vive a agitação, que significa velocidade, instantaneidade, simultaneidade e mobilidade.
- Essa busca por experiência não leva à superficialidade?
- Sim. Infelizmente, muitos estão em busca da euforia, que é algo que desaparece rapidamente. Felicidade é muito mais denso do que isso. As novas tecnologias ofereceram não apenas velocidade ao mundo, mas também pressa. E não se pode confundir velocidade com pressa. Fazer algo velozmente é sinal de perícia. Mas fazer apressadamente é sinal de descontrole. Isso tudo gera um descompasso muito sério, porque a vida é maratona, e não uma disputa de 100 metros rasos. Na maratona, há momentos para acelerar e para reduzir. É necessário tirar vantagem da velocidade, e não da pressa.
- Mas como transportar isso para o mundo do trabalho, onde tudo é instantâneo?
- Vivemos uma realidade multifacetada e, por isso, temos que aproveitar essa simultaneidade das gerações e dos tempos. Eu, às vezes, caminhando pela rua, tenho a impressão de que estou nos anos 70, um quarteirão adiante estou nos anos 80 ou 90. As pessoas mesclaram essa multiplicidade na moda, no mercado e no trabalho. Precisamos ter consciência disso e tirar proveito do conjunto de habilidades que cada geração conseguiu desenvolver. Unir o senso de urgência dos mais jovens com a experiência dos profissionais com mais idade é benéfico. Claro que isso exige humildade intelectual e também capacidade de lidar com a diversidade. É como uma orquestra: a beleza está na harmonia do conjunto. Pensar as empresas como uma orquestra ajuda bastante.
- Capacidade de inovação vale para a carreira de um profissional também?
- Sempre que alguém me pede um conselho de carreira, eu lembro de uma frase do Chico Xavier. Ele dizia: "Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim". O profissional tem que prestar atenção nisso. Acredito que a reinvenção contínua é aquela que projeta algo que seja mais do que a mera repetição do que já se tem. Uma carreira fértil é aquela que inova, que traz para o presente aquilo que realmente tem importância e descarta o que envelheceu.
Esta é a íntegra de uma entrevista com o filósofo Mario Sergio Cortella, publicada na edição de setembro de 2012 da revista Você s/a, por Alice Sosnowski.
Concordo que a felicidade no trabalho esteja relacionada ao reconhecimento pelo que se faz, mas creio que antes disto ela depende de nós mesmos reconhecermos algum sentido naquilo que fazemos. É de Horst Tappert, ator e supervisor aposentado, o seguinte questionamento: “Eu me perguntei se esse era o sentido da vida: levantar às cinco da manhã e chegar a casa às sete da noite apesar de o serviço não me satisfazer em nada”. No meu entender, é impossível ser feliz no trabalho quando não se vê sentido naquilo que se faz. Tal condição precede o reconhecimento que gostamos de receber dos outros. Aposentei-me em conformidade com o questionamento de Horst Tappert.
Mario Sergio Cortella nasceu em meados da década de 1950; eu no último ano da década de 1940. Ou seja, não há grande diferença entre as nossas gerações. Segundo ele, "sua geração buscou essencialmente a estabilidade como meta. Já as novas gerações procuram experiências. Elas querem fazer da vida uma possibilidade de experimentar várias coisas. A atual geração vive a agitação, que significa velocidade, instantaneidade, simultaneidade e mobilidade."
Tenho opinião diferente. Não vejo a minha geração como buscadora da estabilidade, e explico. Quando comecei a trabalhar havia mais oferta de empregos do que há hoje, o que possibilitava as pessoas se dar ao luxo de trocar de emprego, geralmente, em busca de maiores salários. O desejo de ganhar mais é algo muito antigo. Entrei para a Petrobras para participar de uma turma de 40 recém saídos da Universidade para a qual seria dado um curso de formação em Análise de Sistemas (naquela época não havia tal curso em faculdades). Terminado o curso (com oito meses de duração) era obrigatória a permanência na empresa pelos próximos dois anos, a menos que fosse paga uma multa (equivalente aos salários recebidos durante o curso). Apesar da multa, a maioria da turma saiu. Ou seja, a minha geração não buscava a estabilidade, e sim maiores salários, o que em nada difere das gerações atuais.
A diferença que vejo em relação à geração atual é a seguinte: a minha buscava novas experiências porque havia oferta de empregos enquanto a atual busca novas experiências porque os bons empregos são uma raridade. A minha geração trocava de emprego porque queria; a atual porque precisa.
Por ter apresentado a entrevista na íntegra esta postagem ficou muito longa, o que desestimula leitores com menos fôlego. Portanto, a ideia é concluir a minha opinião na próxima postagem, ok?

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