sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Conar vai avaliar anúncio que prega 'direção selvagem'

Peça publicitária da Jeep motivou reclamação de ONG ao órgão regulatório; montadora afirma que incentiva direção responsável
"O Conselho de Autorregulamentação Publicitária (Conar) abriu um processo ético para avaliar um anúncio da Jeep veiculado em algumas publicações do País, entre elas algumas em São Paulo, que supostamente incentiva a 'incivilidade' no trânsito. A propaganda mostra dois veículos da marca estacionados sob as frases: 'A cidade é uma selva. Seja um predador.'
A medida foi estimulada por uma reclamação do empresário e coordenador da ONG Rede Nossa São Paulo, Oded Grajew. Para embasar seu questionamento, argumenta que 'o trânsito mata 50 mil pessoas por ano no Brasil e deixa outras 120 mil com sequelas'.
Em nota, o Chrysler Group do Brasil informou que 'incentiva a direção segura e responsável em todos os momentos'. Sobre o processo no Conar, a empresa disse que não pode se pronunciar, pois ainda não foi oficialmente intimada.
Nos próximos dias, o Conar decidirá se concede uma liminar para fazer com que o anúncio deixe de ser publicado. Se isso acontecer, a propaganda precisa ser retirada de uso imediatamente. Em caso negativo, ela pode continuar a ser veiculada até a data do julgamento do processo, previsto para o mês que vem. Nessa reunião, o plenário do Conselho de Ética da entidade, composto, no total, por 180 membros, decidirá se arquiva a representação ou se aplica uma 'pena' para o anunciante.
As punições podem ser duas: interromper a divulgação do anúncio ou solicitar que ele seja alterado, removendo só a parte julgada 'antiética'. No caso específico, o mais provável é que essa seja a opção escolhida, já que só as frases teriam sugestão de agressividade.
O Conar é uma ONG e não tem autoridade para vetar nenhuma propaganda. Contudo, quando a entidade pede a alteração ou a remoção de um anúncio sempre é respeitada.
Responsabilidade. A entidade abriu o processo contra uma das revendedoras da Jeep situada em São Paulo e não contra a Chrysler, responsável pela marca. Isso porque a ação sempre é contra quem publicou o anúncio. Mas a concessionária, a Divena, se defende. 'Quem faz o layout, a propaganda, é a fábrica. Daí eles nos repassam a arte só para colocarmos nosso logotipo', afirma Lilian Rosa, de 42 anos, analista de marketing do estabelecimento."
Esta é a íntegra de uma reportagem de Caio do Valle, publicada na edição de 6 de outubro de 2012 do jornal O Estado de S.Paulo.
A reportagem é um verdadeiro show de coisas deploráveis, mas inteiramente em conformidade com práticas tão comuns nesta sociedade pobre em ética e rica em hipocrisia.
Em um País onde 'o trânsito mata 50 mil pessoas por ano e deixa outras 120 mil com sequelas' faz algum sentido criar uma propaganda que incentive a ser um predador?
Diante de uma propaganda que mostra dois veículos de uma determinada marca estacionados sob as frases - 'A cidade é uma selva. Seja um predador.' - há quem ache que tal propaganda supostamente incentiva a 'incivilidade' no trânsito. Pai, perdoai-os ... eles não sabem o significado de supostamente.
Qual é a maior falta evidenciada no lamentável anúncio: de noção, de sensibilidade, de fraternidade, de ética, de .... ? Difícil responder, não?
Em nota, o Chrysler Group do Brasil informou que 'incentiva a direção segura e responsável em todos os momentos'. Não consigo imaginar o que tal "Group" faria se fosse contra a direção segura e responsável em algum momento.
As punições podem ser duas: interromper a divulgação do anúncio ou solicitar que ele seja alterado, removendo só a parte julgada 'antiética'. No caso específico, o mais provável é que essa seja a opção escolhida, já que só as frases teriam sugestão de agressividade. E aqui eu pergunto: removida a parte 'antiética' (as frases impactantes) o que sobra de tal anúncio?
(...) a ação sempre é contra quem publicou o anúncio. Mas a concessionária, a Divena, se defende. 'Quem faz o layout, a propaganda, é a fábrica. Daí eles nos repassam a arte só para colocarmos nosso logotipo', afirma Lilian Rosa, de 42 anos, analista de marketing do estabelecimento. Diante de tanta hipocrisia e do covarde hábito de tirar o corpo fora, não estranharei se a culpa recair sobre a analista de marketing do estabelecimento. Afinal, como diz o antigo ditado, “a corda sempre arrebenta do lado mais fraco”.

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