quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Todas as faces de Pattinson

Escolhido para estrelar Cosmópolis por ter um 'grande rosto', ele fala de seu papel e critica culto à celebridade
"'Um filme é sobre um grande rosto na grande tela', disse David Cronenberg em maio, em conversa com o Estado durante o Festival de Cannes. O rosto em questão era de ninguém menos que Robert Pattinson, de 26 anos, estrela de Cosmópolis, novo filme do canadense, que estréia no Brasil em 7 de setembro.
Pattinson é, no mínimo, uma cara nada óbvia para o papel do protagonista de Cosmópolis. Famoso por seu papel na saga teen Crepúsculo, o ator inglês era um dos nomes mais improváveis para estrelar esta epopéia pós-apocalíptica baseada no romance de Don DeLillo. 'Por isso o escolhi. Precisava de um ator com um grande rosto, bom o suficiente para encher uma tela', afirmou o diretor. 'É preciso entender que seu personagem é o símbolo vampiresco do capitalismo, mas, ainda assim, é um ser humano real, com história de vida e passado. E a história não é Crepúsculo. É Cosmópolis. O ator tem isso. Não importa se é ídolo pop. Ele é corajoso e não tem medo de fazer um papel controverso, do qual é fácil não gostar, só para não desapontar seus fãs. Não tem medo de ser impopular.'
Por impopular entenda-se que em Cosmópolis ele vive Eric Packer, um jovem milionário que circula pelas ruas de Nova York refugiado em seu próprio mundo, ou melhor, em sua limusine branca.
(...) Com a recente polêmica sobre a traição de sua (ex)namorada Kristen Stewart, que estrela com ele a saga Crepúsculo, Pattinson passou a ser alvo de artilharia pesada de paparazzi e jornalistas, dos mais populares aos mais célebres, (...) Todos, obviamente, tentam arrancar de Pattinson uma resposta sincera sobre 'como vem se sentindo'. Ele, provando mais uma vez que Cronenberg tem olhos de águia ao escalar seus atores, se mantém impassível e se limitou a dizer que queria ser menos pão-duro e contratar um agente.
(...) Já no programa Good Morning America, da ABC, foi ainda mais 'impopular': 'Estou bem. E, sinceramente, o que faço são filmes. E não é por isso que as pessoas têm de se interessar pela minha vida. Não é para isso que dou entrevistas ou venho a programas. É para promover filmes', disparou o ator diante de uma multidão que o observava em plena Broadway.
(...) 'E agora minha vida e tudo que falo, por algum motivo, por ser famoso ou ator, também passou a ter relevância.'
Seria trágico se não fosse cômico o fato de que, meses antes em Cannes, Pattinson comentou que achava que são os banqueiros, e a gente que controla o dinheiro do mundo, que deveria ser seguida pelos paparazzi. Voltou a comentar isso após o escândalo da traição. 'Por que esse interesse tão grande por celebridades? Ninguém está interessado na vida pessoal dos que controlam bilhões? Se a gente pusesse a vida deles nas primeiras páginas dos jornais, dispensasse os assessores e relações públicas, estas pessoas começariam a falar por elas mesmas, seriam mais responsáveis por suas ações e palavras."
Estes são alguns trechos da reportagem de Flavia Guerra, publicada na edição de 26 de agosto de 2012 do jornal O Estado de S.Paulo.
Além de um "grande rosto", Robert Pattinson tem também um grande cérebro e uma grande personalidade. Famoso, em uma sociedade que cultua a celebridade, ele consegue resistir ao deslumbramento que leva os famosos a escancarar a sua vida fútil para que ela seja transformada em algo relevante por paparazzi e jornalistas. Relevante para pessoas cuja vida desprovida de qualquer significado leva-as a interessar-se pela vida de celebridades a quem cultuam.
Culto que leva tais pessoas a contribuir para disparates como um espetáculo atualmente em cartaz na televisão brasileira. Por ter um "grande corpo", Ronaldo Fenômeno foi escolhido para protagonizar um programa de emagrecimento que lhe renderá R$ 6 milhões. Enquanto um esperto emagrece o corpo e engorda sua conta bancária, uma enorme massa de tolos emagrece sua conta bancária, comprando produtos propagandeados pelo Fenômeno, e engorda seu corpo devido ao consumo de algum produto por ele anunciado. É muito estúpido o culto à celebridade, pois é ele que possibilita uma emissora doar R$ 6 milhões ao Fenômeno e pedir aos espectadores que contribuam com o Criança Esperança. Francamente! Que esperança podem ter as crianças diante de comportamentos tão estúpidos por parte de adultos que são capazes de contribuir com R$ 6 milhões para o emagrecimento de um Fenômeno gordo, em vez de doar essa quantia para a alimentação de crianças subnutridas que influenciados pela propaganda ainda conseguem ser fãs de tal Fenômeno? Algum de vocês não consegue enxergar que é do bolso dos tolos “cultuadores” de celebridades que sairá o dinheiro que tal emissora repassará ao Fenômeno? Pensem bem e não me decepcionem, ok?
Segundo Robert Pattinson, não é pela vida das celebridades que as pessoas devem se interessar. São dele as seguintes palavras: “Nosso interesse deve ser pela vida dos banqueiros e daqueles que controlam o dinheiro do mundo. Se a gente pusesse a vida deles nas primeiras páginas dos jornais, dispensasse os assessores e relações públicas, estas pessoas começariam a falar por elas mesmas, seriam mais responsáveis por suas ações e palavras”.
Ou seja, se quisermos realmente viver em uma boa sociedade é imprescindível mudar a direção do nosso interesse por vidas alheias. Deixar de lado a vidas das celebridades que cultuamos e nos interessarmos por as de quem nos governa. E, fazendo isso em conformidade com o que diz Robert Pattinson: dispensando o que dizem assessores, relações públicas e cuidadores de “imagens” e acompanhando o que os governantes realmente fazem. No meu entender, é esta a única maneira de construirmos uma sociedade onde as crianças possam ter alguma esperança de viver em um mundo melhor.

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