Sátira ao mundo corporativo"Um limpador de janelas que cresce na carreira e chega a diretor seguindo preceitos - tirados de um livro de autoajuda - como puxação de saco e amor à camisa. Um dono de empresa que pouco sabe sobre o império que administra. Secretárias que são meramente decorativas - e objetos de desejo de boa parte dos funcionários que, por sua vez, passam metade de seus dias em frente à máquina de café. Qualquer semelhança com a realidade, nesses casos, não é mera coincidência. O musical 'Como vencer na vida sem fazer força', em cartaz até 16 de junho no teatro Oi Casa Grande, debocha descaradamente da realidade do mundo corporativo e apresenta situações com as quais qualquer profissional pode se identificar.Musical de 1960 continua atualNo espetáculo, adaptado e dirigido pela dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, Gregório Duvivier interpreta o tal limpador de janelas, J. Pierrepont Finch, que se vale de valores eticamente questionáveis para ingressar na Worl Rebimboca Company, comandada por J. B. Biggley, que é vivido por Luiz Fernando Guimarães. O musical que estreou na Broadway em 1961 (levando sete prêmios Tony e um prêmio Pulitzer de Melhor Texto Teatral), é baseado no livro 'How to Succeed in Business Without Really Trying', de Shepherd Mead, que se tornou um best-selller instantâneo em 1952.Quando estreou, o musical foi um escândalo. Pela primeira vez, o protagonista era um vilão, com atos bem questionáveis e sem compromisso com a ética. E, mesmo assim, a plateia torcia a favor dele, o que acontece em todas as montagens. O musical debochava, pela primeira vez, do mundo corporativo, que não parava (e continua não parando) de crescer, e de todos os manuais de autoajuda para ter sucesso na carreira - diz Charles Botelho, explicando o porquê do interesse em trazer o espetáculo para palcos brasileiros, embora a peça tenha estreado há 52 anos e seja baseada em um livro escrito há 61 anos. - O musical fala muito do nosso mundo de hoje: as questões são atuais e a sua forma, incrivelmente moderna. A única diferença é que hoje as mulheres alcançaram os postos que eram exclusivamente masculinos. No musical, elas são secretárias, não existem executivas.Botelho, que assina a adaptação e a versão brasileira das músicas originais, diz que não houve a necessidade de fazer qualquer tipo de mudança em função do atual contexto do mercado de trabalho brasileiro:Pessoas que usam os mandamentos do Finch (puxar o tapete, mentir e bajular os poderosos) existem em qualquer lugar, assim como chefes autocentrados. Depois das sessões, muitos comentam com os atores que se sentiram identificados em algum momento."
Esta é a íntegra de uma reportagem publicada na edição de 21 de
abril de 2013 do jornal O Globo, no caderno Boa Chance.
Uma peça que só agora (em 2013) está sendo
apresentada no Brasil, mas cuja estréia aconteceu, na Broadway, em 1961, é
baseada em um livro publicado em 1952 e, segundo um dos diretores da versão
brasileira, fala muito do nosso mundo de hoje. Infelizmente, no que tange a sua
evolução, a situação desta sociedade é a seguinte: tecnologicamente, a evolução
voa; em termos de comportamento, arrasta-se.
"Quando estreou, o musical foi um escândalo. Pela primeira vez, o protagonista era um vilão, com atos bem questionáveis e sem compromisso com a ética. E, mesmo assim, a plateia torcia a favor dele, o que acontece em todas as montagens."
Eis uma questão que sempre me intrigou. Faz
sentido acreditar na melhora de uma sociedade onde a plateia torce a favor de protagonistas que pratiquem atos bem questionáveis
e sem compromisso com a ética? No meu entender, não.
"Depois das sessões, muitos comentam com os atores que se sentiram identificados em algum momento."
Creio que, em algum momento, a identificação
seja tão grande que se algum ator tiver a ideia de interagir com a plateia correrá
o risco de nela encontrar alguém que seja capaz de lhe tomar o papel na peça.
Afinal, para quem está acostumado a puxar tapetes, creio que tomar microfones não
seja algo difícil, não é mesmo?
A peça citada na reportagem está em cartaz em
um determinado teatro, até uma determinada data, tem uma determinada duração e
um roteiro a ser seguido por uma quantidade determinada de atores. Mas há outra
que ficará em cartaz por tempo indeterminado, em uma quantidade indeterminada
de locais, com duração indeterminada, desprovida de qualquer roteiro e contando
com uma quantidade indeterminada de atores.
Que peça é essa? É aquela encenada no mundo
corporativo. É impressionante a quantidade de profissionais que nele atuam
fingindo ser o que não são e encenando promessas que não conseguirão cumprir. Vocês
concordam que prometer entregar, em prazos estipulados sabe Deus como, produtos
que serão incapazes de atender as necessidades daqueles que os receberão não passa
de mera encenação? É por isso que cada vez mais esse mundo fantasioso onde tais
coisas ocorrem repetidamente é, merecidamente, chamado de teatro corporativo.
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