Pesquisa mostra que 23% dos funcionários recebem pedidos esdrúxulos dos chefes: de espionar o gerente sênior a fazer elogios falsos nas redes"Habilidades necessárias para o cargo: visão sistêmica, proatividade, dinamismo, capacidade de negociar e de planejar, postar elogios falsos sobre chefe nas redes sociais, fazer trabalhos de feira de ciências para a filha dele e não gostar da cor cinza. Para alguns gestores, não basta se adequar ao perfil requisitado para o trabalho: o profissional precisa também atender a pedidos que vão além das tarefas relativas à sua função. Segundo uma pesquisa do site americano CareerBuilder, 23% dos trabalhadores já foram solicitados por seus superiores para atividades extra-contrato: e tem desde pedido para comprar armas e conseguir drogas até espionar a gerência sênior.(...) Na lista do site de carreira americano, os profissionais contam que já foram acionados pelo chefe, por exemplo, para emprestar US$ 400 (R$800) para quitar uma parcela da compra do carro, para comprar um rifle (com promessa de reembolso), conseguir drogas e pagar fiança para tirar um colega de trabalho da cadeia.Por aqui, a coach Waleska Farias diz que já testemunhou ou soube de várias situações em que o chefe extrapolou os limites não só da relação profissional, como do bom senso: - Um exemplo bizarro é o de uma diretora que solicitou a uma gerente da sua equipe comercial que diminuísse a altura da saia e ousasse nos decotes para "facilitar" a abordagem com os clientes.Waleska cita ainda a supervisora de uma grande fábrica que pediu que uma das funcionárias cortasse o longo cabelo. - Ela alegou que isso ofuscava o brilho das demais que tinham cabelos curtos e malcuidados. A recomendação da chefe veio sob o pretexto de que isso acabaria por criar constrangimento com as demais e excluí-la do grupo...E teve ainda o gestor que solicitou que o funcionário corrigisse os possíveis erros de grafia de todos os seus textos – sendo que essa não era uma atribuição de seu cargo: - Ele disse que sua mente era muito rápida e ele não podia perder tempo com isso. E ainda sugeriu que o funcionário fizesse as correções após o expediente, para evitar que as pessoas vissem – diz Waleska.O coach Homero Reis, consultor de gente e gestão, define esse tipo de chefe como o que acha que é uma "celebridade": - A questão é que eles acreditam que são mais importantes do que a própria empresa. Dessa forma, não sabem diferenciar a autoridade do cargo com o seu lado pessoal e envolvem funcionários em atividades que não dizem respeito ao trabalho deles.Um exemplo desse perfil "celebridade" é o chefe que pede a alguém da sua equipe para entrar em uma rede social e postar falsos elogios sobre ele, situação relatada pela pesquisa do CareerBuilder. Ou o que manda o funcionário ligar para sua diarista para explicar como organizar as toalhas e lençóis na casa dele, como Ylana Miller, já viu acontecer.Chefes que têm essa atitude utilizam sua autoridade de forma ilimitada, se sentem no direito de mandar, ordenar e intimidar – diz Ylana, que é sócia diretora da Yluminarh e professora do Ibmec.Mas e na hora de dizer não? Como os funcionários devem enfrentar a situação? – Esta é uma das situações mais complicadas no ambiente de trabalho. É possível, sim, negar pedido feito pelo chefe, desde que o profissional esteja munido das razões apropriadas. O ideal é explicar seus motivos com confiança e segurança, ou seja, de uma maneira que o seu chefe perceba que você refletiu antes de falar com ele – diz Homero."
Estes são alguns trechos de uma reportagem de
Maíra Amorim, publicada no caderno Boa
Chance, do jornal O Globo, na
edição de 5 de maio de 2013.
Na condição de alguém
que atuou no teatro corporativo durante 3,7 décadas, nada do que é dito na
reportagem me espanta. Afinal, o que esperar de um ambiente onde vigore a máxima
manda quem pode, obedece quem tem juízo?
Aliás, o que uma grande parte dos chefes faz vai além do mandar e chega ao
intimidar, conforme é dito por Ylana Miller. E ao agir assim, eles dão vazão a
um dos piores instintos desses seres autodenominados racionais: a covardia
contra seres cuja vida profissional, de certa forma, esteja à mercê da vaidade,
dos caprichos e das idiossincrasias daqueles que, hierarquicamente, estejam
acima deles.
É interessante notar
que a reportagem focaliza uma pesquisa feita por um site americano, ou seja,
práticas esdrúxulas não acontecem apenas no Brasil, mas também naquele país que
se julga modelo para a humanidade e de onde são exportadas as tais das
"melhores práticas" administrativas, contábeis e organizacionais.
Considero perfeita a
denominação dada por Maíra Amorim aos protagonistas de sua reportagem, pois quem
manda, ordena e intimida deve ser
chamado de chefe, e não de líder, como, equivocadamente, costumam ser chamados
tais profissionais.
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