Em O Ritual, Samir Yazbek trata de grupo de adolescentes que se encontram, se relacionam, mas não se envolvemCom O Ritual, o dramaturgo Samir Yasbek tornou-se o primeiro brasileiro a ter um texto encenado no National Theatre, de Londres. Lá, a peça pôde ser vista com elenco e direção britânicos. Mas também é possível conhecer a obra em uma versão nacional. O próprio Yasbek dirige a montagem que abre temporada dia 6 no Sesc Consolação.(...)Na trama, os jovens são protagonistas. Não há adultos. Apenas adolescentes entregues a ideias e sentimentos. "Um mergulho nas pulsões vitais tão presentes nessa fase da vida, em que tudo é intenso", define o artista. Ainda que focalize as questões de uma faixa etária específica, a peça de Yazbek dá conta de um fenômeno da contemporaneidade que se espraia por todas as idades: a dificuldade em estabelecer vínculos afetivos. Conta-se a história de Joel, garoto que propõe a seus colegas a realização de um estranho jogo: semanalmente, eles devem se encontrar e se relacionar, mas, de maneira alguma se envolver.Ao escrever O Ritual, para ser encenado no National Theatre, de Londres, você tinha como objetivo falar para um público jovem. Como foi conceber uma obra voltada a uma faixa etária específica? E como, na sua opinião, O Ritual dialoga com o conjunto da sua obra?Minha preocupação era menos de falar para um público jovem e mais de mergulhar no universo jovem, no jovem que eu fui, nos que eu conheci e nos que conheço agora. Tive a sorte de ter uma sinopse aprovada antes de começar a escrever o texto, o que possibilitou que eu fosse fiel ao universo que eu queria abordar. Nesse sentido, posso dizer que a peça dialoga de forma muito próxima com tudo o que tenho escrito, sintetizando minha preocupação com questões contemporâneas, mas procurando lê-las por meio de um filtro mais mítico, aproveitando-me de outras mitologias ou criando novas configurações.
O texto propõe uma situação extrema, em que jovens tomam o desamor como objetivo. Qual era sua intenção ao abordar esse tema?Essa situação extrema, na verdade, é uma defesa que as personagens adotam contra o sofrimento, contra a dor, contra a rejeição, algo difícil de lidar, para a maioria deles. Eles próprios não podem prever o que irá acontecer a partir desses encontros inocentes. Nenhum deles sequer imagina isso, porque não imagina as forças que trazem dentro de si, tampouco as forças que movem os outros, seus amigos: tão próximos, mas tão desconhecidos.Como o National Theatre se posicionou em relação à linguagem que você propunha, que talvez soasse menos tradicional ou clássica do que aquela com a qual estavam acostumados?As primeiras versões do texto apresentavam um universo mais aberto, no sentido de apostar numa linguagem arquetípica. Houve uma leitura, por parte da equipe do projeto, que o considerava realista, contra a qual eu procurei me opor, resistindo às possíveis explicações para a violência que eclode na peça. Eu queria apenas mostrar como essa violência acontece, a partir da situação proposta, sondando a alma de cada personagem.
Estes são alguns trechos da reportagem de Maria Eugênia de Menezes contendo uma entrevista com o dramaturgo e diretor Samir Yazbek, publicada na edição de 15 de
junho de 2013 do jornal O Estado de S. Paulo.
Segundo a reportagem de Maria Eugênia de Menezes, em O Ritual conta-se a
história de Joel, garoto que propõe a seus colegas a realização de um
estranho jogo: semanalmente, eles devem se encontrar e se relacionar,
mas, de maneira alguma se envolver. Segundo uma pichação feita em um muro, "Quem não se envolve, não se desenvolve." Junte-se a reportagem e o muro pichado e ter-se-á uma causa bastante plausível do subdesenvolvimento da maioria dos indivíduos que habitam este planeta: a fuga ao envolvimento.
Maria Eugênia de Menezes diz também que Ainda que
focalize as questões de uma faixa etária específica, a peça de Yazbek dá
conta de um fenômeno da contemporaneidade que se espraia por todas as
idades: a dificuldade em estabelecer vínculos afetivos.
Concordo
plenamente com ela. Aliás, diante de uma contemporaneidade fascinada
por coisas como descartabilidade, imediatismo, superficialidade,
individualismo e obtenção do que quer que seja sem esforço, o resultado não poderia ser outro. Igualmente à conquista de qualquer coisa profunda e duradoura, estabelecer
vínculos afetivos é algo que requer esforço não apenas para sua
obtenção, mas também para sua manutenção. Ou seja, além de não ser
possível estabelecê-los de forma imediata e fácil, vínculos afetivos requerem
dedicação permanente. Resumindo: estabelecer vínculos afetivos é algo
simplesmente impossível para aqueles que forem fascinados pelas coisas
citadas na segunda frase deste parágrafo. O pior é que tais fascinados parecem compor a maioria em todas as idades.
Portanto, considerando que a qualidade de qualquer ambiente em que se vive é resultado das ações (e até mesmo das omissões) de todos os seus componentes, parece-me óbvio que um mundo onde a maioria seja desprovida de vínculos afetivos só pode resultar em um mundo de relações fragmentadas.
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