terça-feira, 20 de agosto de 2013

A privacidade da máquina de escrever

Governo russo encomenda máquinas de escrever para driblar espionagem dos EUA
Imagine documentos secretos, memorandos e relatórios sigilosos todos escritos na máquina de escrever... Não se trata de um filme de espionagem ambientado durante a Guerra Fria, mas sim de uma das novas diretrizes da Agência de Defesa Russa que visam escapar à possibilidade de espionagem pelos EUA. Após as revelações bombásticas de Edward Snowden, o ex-técnico da CIA que denunciou o sistema PRISM de espionagem norte-americano - da qual não escapou nem mesmo o Brasil -, os russos decidiram voltar, pelo menos por enquanto, à comunicação "analógica". Em outras palavras, agora é na base do papel e tinta, sem conexão à internet, entregando documentos importantes diretamente nas mãos dos destinatários. O próprio presidente Putin já estaria recebendo correspondências importantes dessa maneira. Será que o próximo passo é a substituição das mensagens eletrônicas por cartas?
Esta é a íntegra de uma reportagem publicada na edição de agosto de 2013 da revista Língua portuguesa.
Os russos decidiram voltar, pelo menos por enquanto, à comunicação "analógica". Pelo menos por enquanto! A frase citando a decisão dos russos me levou a pensar que a expressão "pelo menos por enquanto" talvez seja o segredo para lidar de maneira salutar com toda e qualquer novidade que nos seja oferecida. Pelo menos enquanto não tivermos consciência de seus efeitos colaterais devemos esforçar-nos ao máximo para não sucumbir ao fascínio exercido pelas novidades. E na infinidade cada vez maior de novidades disponíveis nesta insaciável sociedade de consumo as mais fascinantes e perigosas são as oferecidas pela tecnologia.
Portanto, pelo menos enquanto não houver uma drástica redução na disparidade entre os dois desenvolvimentos - ético e técnico- é imprescindível fazermos uma pausa no fascínio tecnológico. Fascínio que de tão grande chega a cegar a maioria dos integrantes da tal da espécie inteligente do Universo e, consequentemente, a impede de enxergar os perigos ocultos nas novidades por ela oferecidos. É diante de tão desalentadora realidade que lembro a seguinte afirmação de Albert Einstein: "Temo o dia em que a tecnologia se sobreponha à humanidade. Então o mundo terá uma geração de idiotas".
Parece-me óbvio que a tecnologia traz inúmeros benefícios para a humanidade, mas, igual a tudo na vida, mal usada torna-se um malefício; o pior dos malefícios deste mundo, mas, infelizmente, poucos percebem tal coisa. A frenética busca de praticidade nos coloca em situações de insegurança cada vez maiores. Cada vez mais trocamos segurança por praticidade e pelo desejo de sermos vistos como alguém em sintonia com sua época. E praticidade é um dos maiores pretextos para o uso de tecnologia. E foi em prol da segurança, que no caso em questão envolve privacidade, que os russos decidiram voltar, pelo menos por enquanto, à comunicação "analógica".
A reportagem que originou esta postagem focaliza o retorno a uma condição anterior e é encerrada com a seguinte pergunta. Será que o próximo passo é a substituição das mensagens eletrônicas por cartas? De forma análoga, esta postagem é encerrada com uma pergunta e fazendo referência a uma afirmação de Albert Einstein na qual ele também cita o retorno a uma condição anterior. Será que faz sentido a afirmação que "A terceira guerra mundial ele não sabia como seria, mas a quarta será com paus e pedras."?

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