Total de condutores que morreram em acidentes foi de 3.130 para 11.485, de 2001 a 2011, diz Ministério da Saúde"- RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO - Cada vez mais motociclistas morrem em acidentes de trânsito no Brasil. Os dados do Ministério da Saúde revelam que, entre 2001 e 2011, o número de condutores de motos que morreram em acidentes aumentou 367%, passando de 3.130 a 11.485.
A quantidade de motos nas ruas também cresceu, mas não tanto quanto a de óbitos. De 2001 a 2011, a frota de motocicletas no Brasil mais que triplicou, passando de 4 milhões para 15,6 milhões de veículos, um aumento de 287%.
Em 2001, 13% do total da frota brasileira eram de motos. Dez anos depois, eram 22%, segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).Motoboys são 25% dos mortosPara o pesquisador e analista de projetos da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), Antonio Marangone Camargo, o crescimento da frota de motos é um dos fatores que influenciam o aumento das mortes por motociclistas.
Segundo o pesquisador, muitas vezes são os acidentes com moto que fazem crescer a quantidade de acidentes de trânsito em alguns estados.
- A maior parte dos mortos não é de motoboys. São pessoas que usam a moto para transporte e lazer. Os motoboys são só 25% dos que morrem - afirma Antonio Camargo.Médico diz que formação é falha em autoescolasO médico do Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC) e um dos coordenadores do programa "HC em Movimento", Marcelo Rosa de Rezende, afirma que muitos dos "novos" motociclistas não passaram por um bom treinamento, antes de ir para as ruas:
- Há mais motociclistas inexperientes, que não aprenderam bem a usar a moto. Foram lançadas às ruas pessoas que nem são tão afeitas à moto, mas que aderiram por contingência. Houve um aumento do número de mulheres e de pessoas de idade que passaram a usar a motocicleta para fugir do trânsito e do ônibus lotado. Mas não houve cuidado para formar essas pessoas. As aulas das autoescolas são quase que apenas uma noção de equilíbrio - disse Rezende. Segundo o médico, os motociclistas precisam ser mais fiscalizados:
- O trânsito ficou mais truncado. Nas grandes cidades, quem anda hoje são as motos, mas elas andam nervosas. A forma como as pessoas dirigem as motos degringolou. Elas tocam a buzina e vão passando. É como se não houvesse limite de velocidade para as motos. E os motociclistas ficam muitas vezes impunes - diz Rezende."
Esta é quase a íntegra da reportagem de Marcelle Ribeiro, publicada na edição de 21 de
julho de 2013 do jornal O Globo.
Foram lançadas às ruas pessoas que nem são
afeitas à moto por contingência. (...) Mas não houve cuidado para formar essas
pessoas. As aulas das autoescolas são quase que apenas uma noção de equilíbrio, disse Marcelo
Rezende. Minha opinião é de que a inexistência de cuidado antecede a atuação
das autoescolas. No meu entender, a formação deficiente das pessoas começa quando
não lhes é ensinado que o fato de compartilharem este planeta com mais de sete
bilhões de pessoas, implica na necessidade de sua contribuição no
desenvolvimento de uma convivência pacífica que evite essa infinidade de
acidentes cuja maioria é decorrente de comportamentos estupidamente
individualistas.
As aulas das autoescolas são quase que apenas
uma noção de equilíbrio, disse Rezende. Apenas uma noção, de apenas um tipo de
equilíbrio: o da motocicleta. Equilíbrio cuja deficiência, apesar de
prejudicial, talvez seja menos grave do que a deficiência de outro tipo de equilíbrio: o
emocional. É esta que origina a maioria dos acidentes envolvendo motociclistas.
Nas grandes cidades, quem anda hoje são as
motos, mas elas andam nervosas, diz Rezende. Não, não são as motos que andam
nervosas; são os motociclistas. Em um mundo onde as pessoas estão cada vez mais
ansiosas e angustiadas, vejo os motociclistas como os primeiros colocados nos
quesitos ansiedade e angústia.
A forma como as pessoas dirigem as motos
degringolou. Elas tocam a buzina e vão passando. É como se não houvesse limites
para as motos. E os motociclistas ficam muitas vezes impunes - diz Rezende. Não, não é apenas
para a velocidade que os motociclistas não enxergam limites. O espaço para eles
também é ilimitado, pois todos os espaços, de todas as vias, pertencem a eles. Eles tocam a buzina (de som extremamente
irritante) e vão passando. Passando
entre os carros, quebrando retrovisores, arranhando carros, xingando motoristas
e pedestres, atropelando pedestres. E os
motociclistas ficam muitas vezes impunes – diz Rezende. Mas algumas vezes a
punição chega por meio de trágicos acidentes. Acidentes que ou remetem, prematuramente,
o motociclista a outra dimensão da vida ou o deixam com graves sequelas para o
restante do tempo que permanecer nesta.
Parece-me óbvio que o que foi dito acima não
se aplica a totalidade dos motociclistas, mas, infelizmente, a parcela a qual não se aplica é, relativamente, pequena.
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