quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Uma dupla unida pela divergência

No pique da estreia, anteontem, do documentário 'Jorge Mautner - o filho do Holocausto', Pedro Bial e seu biografado se encontram em entrevista regada a vinho da Galileia e discordam, em harmonia, sobre a viabilidade da política e o futuro da civilização
(...) Pela primeira vez em tantas edições, Bial sai da caixa do BBB parar tratar de outra atividade, ativista que é do dever de espalhar a palavra de Mautner através de seu filme 'Jorge Mautner – O filho do Holocausto', que estreou sexta-feira em todo o país, com 30 cópias. O filme também entrou na caixa do BBB: foi exibido para os participantes na última segunda-feira, experiência transmitida em pay-per-view.
(...) A cena que mais mexeu com todos foi o diálogo entre Mautner e a filha Amora, quando ela se queixa do fato de que o pai andava nu pela casa. Um sujeito gritou: 'Meu pai também andava nu.' Outro respondeu: 'O meu era alucinado.' Uma moça, enfim: 'Será que todo mundo tem pai maluco aqui?' Um quarto participante fez a síntese: 'Por que você acha que a gente está aqui?'
(...) Mautner fala de seu refrão mais recente. - Assim como não existe alegria que não venha do coração, não existe democracia que não tenha oposição. Bial protesta: oposição? Mas que oposição há no Brasil? Uma oposição pífia. Mautner discorda: há oposição por toda a parte. Tudo, quase, é oposição. Bial constata que, nisso, a discordância entre os dois é diametral.
- Viu? Sua discordância é a expressão perfeita da oposição. Quando eu for senhor absoluto você vai entender. Afinal, dois judeus discutindo são várias oposições e multidões discutindo. Bial, judeu? E as risadas se embaralham, eterno retorno à convergência que nunca é, exatamente, a mesma que a anterior. Mautner acredita na evolução. Acredita que, na nação de escravos, o senhor ainda não foi, mas irá, ao encontro dos serviçais.
(...) E o que Jorge Mautner viu? Viu um futuro moldado pela ciência. Para ele, a metafísica morreu mesmo, como disse Heidegger. As respostas virão pela 'tecneia' e pela ciência. O manifesto Comunista, quando saúda a máquina a vapor e o telégrafo, já traz a senha: importante não é a luta de classes, mas a tecnologia da comunicação.
- Estamos já no admirável mundo novo. A tecnologia vai triturar esses problemas. Viveremos num planeta em que todos serão controlados e controlarão. As correntes se dividem num ponto: contrabandearemos para o novo sistema nervoso as bases do humanismo e salvaremos os neurônios nos quais nascem os mitos, ou deixaremos a máquina autônoma? De resto, vamos acabar com as doenças, alongar a vida e conquistar as estrelas acoplados a robôs sensitivos. Quem seria contra isso? Que falta é essa de confiança no ser humano?
Bial olha o relógio e anuncia: fim de papo. – Não tenho nenhuma confiança no ser humano. Mas fico contagiado pelo otimismo do Jorge.
Estes são alguns trechos de uma reportagem de Arnaldo Bloch, publicada na edição de 3 de fevereiro de 2013 do jornal O Globo.
Embora a reportagem acima tenha sido publicada há quase um ano, creio que o que tenho a opinar sobre o que nela chamou minha atenção pode ser dito, neste momento, sem nenhum prejuízo causado pelo tempo decorrido. Ao encerrar o papo com Jorge Mautner dizendo que "Não tem nenhuma confiança no ser humano.', no meu entender, Pedro Bial confirma ser um profissional talhado para apresentar aquele programa citado na reportagem. Tenho apenas uma dúvida: Bial não tem nenhuma confiança no ser humano porque apresenta o BBB ou apresenta o BBB porque não tem nenhuma confiança no ser humano?
Ao dizer que não tem nenhuma confiança no ser humano, Bial me faz lembrar uma propaganda usada na divulgação do programa Pé na cova. Em um diálogo entre Miguel Falabella e Daniel Torres que fazem, respectivamente, os papéis de pai e filho, era dito algo, mais ou menos assim: "Você diz que não confia em mim, mas as pessoas dizem que eu sou igual a você", diz Daniel Torres. "E quem foi que disse que eu confio em mim", diz Falabella. Vejo Bial como mais um indivíduo que não confia em si. E que, por falta de confiança para participar da construção de um mundo melhor, decidiu aderir ao lado ruim da força e participar da construção de um mundo pior.
É em conformidade com tal adesão que, há quatorze anos, ele estimula o povo gastar seu tempo espiando a casa mais vigiada do Brasil. E eu que pensava que a casa mais vigiada de um País deve ser o Congresso Nacional! E que, portanto, a principal função dos meios de comunicação seja estimular o povo a vigiar o que acontece no Congresso. Nossa! Sou realmente muito ingênuo!
Tenho muita dificuldade para aceitar como sincera a última frase dita por Bial - "Mas fico contagiado pelo otimismo do Jorge." -, pois, no meu entender, o que realmente o contagia é o clima daquela casa que a cada edição do programa o torna um apresentador ainda mais esfuziante. Que coisa, hein!
Ao tornar-se o que é hoje, Bial tornou-se também um personagem assíduo em postagens neste blog. Discursos de Pedro Bial no ‘BBB’ vão virar livro (24.11.2011), Boni alfineta Pedro Bial por causa de Big Brother (15.01.2012), ‘Na moral’ invade privacidade de moradores do Copan, em SP (24.07.2012), e Dhomini afirma que Marília Gabriela o chamou de canalha (11.01.2013), são outras postagens estreladas por ele.

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