sábado, 1 de março de 2014

Pesquisa: 69% dos trabalhadores não pretendem tirar férias integrais

Mercado competitivo e pressão pessoal estão entre as razões, diz analista
Tirar férias integrais não está nos planos da maioria dos americanos. É o que indica um estudo feito pela Right Management, empresa especialista em gestão de carreira e talentos, do ManpowerGroup. O levantamento que ouviu 760 funcionários nos EUA, mostra que 69% dos entrevistados não vão tirar as férias referentes a 2013 de forma integral. A tendência já dura três anos: nos últimos dois anos, a pesquisa apontou que 70% não tirariam todos os dias.
- Há um reflexo do resultado da pesquisa no Brasil. Embora não haja estatísticas, a percepção é que isso tem se repetido no país também, pois ouvimos relatos de situações bastante similares - afirma Simone Leon, diretora de Gestão de Carreiras e Talentos da Right Management Brasil.
Simone atribui o cenário ao que chama "era da eficiência": - O Brasil vive um momento bastante competitivo, no qual o olhar se volta para a redução de custos e há menos profissionais para entregar com a mesma qualidade. Por outro lado, há também um consumidor cada vez mais sofisticado e exigente, o que aumenta a demanda sobre os profissionais.
- E se o executivo não sai de férias, acaba segurando a equipe, o que vai se refletindo em toda a hierarquia profissional - diz Simone, destacando que os profissionais estão "quebrando" suas férias em períodos curtos ao longo do ano, o que aumenta o risco de alguns dias acabarem "se perdendo". - Antigamente, a quebra era de duas vezes. Hoje, há mais gente quebrando em três ou quatro vezes.
FALTA TEMPO PARA PLANEJAR
E isso, na maioria dos casos, acontece por pressão do próprio profissional e não por parte da empresa - que não pode proibir funcionários de tirar suas férias por razões legais. - O profissional gosta de se sentir indispensável, isso alimenta a vaidade e é algo bem forte tanto na cultura americana quanto na brasileira. As pessoas se vangloriam de não ter tirado férias como se isso dissesse que elas são mais competentes que as outras - aponta Simone.
Mas, na verdade, a ausência de férias pode trazer consequências negativas tanto para os profissionais como para as empresas, alerta a diretora da Right Management: - Existe uma questão física e de saúde: o profissional precisa desacelerar. Além disso, se desligar do ambiente do trabalho ajuda a favorecer as novas ideias. Em geral, a pessoa volta com novos olhares sobre problemas antigos e mais equilibrada emocionalmente.
Para que isso aconteça, o que falta, na opinião de Simone, é a maior habilidade de planejar. - A pressão do tempo tem feito com que os profissionais estejam trabalhando muito mais na "gestão do hoje" do que no planejamento do futuro. Eles são absorvidos pelas atividades cotidianas e não se organizam para sair de férias.
Esta é a íntegra de uma reportagem sem assinatura, publicada na edição de 23 de fevereiro de 2014 do jornal O Globo, na última página do caderno Boa Chance.
A cada dia que passa a coisa fica mais assustadora! Abrir mão de férias significa trabalhar cada vez mais, e se juntarmos a essa deplorável prática a alardeada "ameaça" de que viveremos cada vez mais, a desgraça assume dimensões ainda maiores.
Acreditando na falácia de que as máquinas trabalhariam por elas e para elas, as pessoas tornaram-se incapazes de perceber que com o decorrer do tempo foram elas que passaram a trabalhar cada vez mais para máquinas, e o que é pior: como máquinas. E como máquinas não tiram férias, cada vez mais trabalhadores passam a abrir mão desse direito outrora adquirido. E uma vez assimilada tal falácia, e em conformidade com o lema me engana que eu gosto, o próximo passo foi tentar iludir-se com a crença de ser um profissional indispensável. Sim, iludir-se, pois no fundo, bem lá no fundo, a maioria dos outrora chamados trabalhadores, e hoje denominados colaboradores, sabe que não tem motivo algum para considerar-se indispensável, pois vive em uma civilização onde tudo, e todos, passaram a ser a cada dia mais descartáveis.
Portanto, discordo da opinião de Simone Leon, diretora de Gestão de Carreiras e Talentos da Right Management Brasil, quando diz que os profissionais deixam de tirar férias integrais por considerarem-se indispensáveis. No meu entender, o verdadeiro motivo pelo qual não se pretende tirar "longos períodos" de férias é o medo de que ao voltar encontre outro profissional em seu lugar. É o medo de que sua ausência gere (usando a linguagem SOX) uma evidência de que ele não é tão indispensável quanto queria fazer crer não só aos outros, mas até a si mesmo.
Até porque, se existe alguma coisa que a cada dia é mais abundante no tal do teatro corporativo, ela é exatamente a existência de profissionais realizando tarefas que se fossem analisadas à luz da famosa relação custo / benefício revelariam que têm apenas custo, pois não originam qualquer benefício. Ou seja, é uma verdadeira indústria do nada. Na área de TI (Tecnologia da Informação), que hoje permeia qualquer outra área, e da qual falo com conhecimento de causa, pois nela trabalhei durante 3,7 décadas, a referida abundância chega a ser indecente.
Mas, concordo com Simone Leon quando faz o seguinte alerta: "Mas, na verdade, a ausência de férias pode trazer consequências negativas tanto para os profissionais como para as empresas, pois existe uma questão física e de saúde: o profissional precisa desacelerar. Além disso, se desligar do ambiente do trabalho ajuda a favorecer as novas ideias. Em geral, a pessoa volta com novos olhares sobre problemas antigos e mais equilibrada emocionalmente."
E para terminar esta já longa postagem digo o seguinte: a quantidade de trabalho a realizar é, e será sempre, diretamente proporcional a qualidade do trabalho que o antecedeu. Em outras palavras: quanto pior a qualidade do trabalho malfeito, maior será a quantidade de trabalho para refazê-lo. Refazer trabalhos malfeitos! Eis a verdadeira praga que assola o teatro corporativo! Eis a verdadeira causa do problema apontado por Simone Leon: "A pressão do tempo tem feito com que os profissionais estejam trabalhando muito mais na 'gestão do hoje' do que no planejamento do futuro."
Simone fala em hoje e em futuro. Eu volto no tempo, incluo o ontem e faço um acréscimo em sua frase: O que leva os "profissionais a trabalharem muito mais na 'gestão do hoje' do que no planejamento do futuro”, é, exatamente, sua falta de percepção de que os problemas de hoje provêm das 'soluções' de ontem."
Se alguém desejar ler um pouco mais sobre essa história de "era da eficiência", citada por Simone, sugiro a postagem Não é dedicação, é ineficiência.

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