Mercado competitivo e pressão pessoal estão entre as razões, diz analistaTirar férias integrais não está nos planos da maioria dos americanos. É o que indica um estudo feito pela Right Management, empresa especialista em gestão de carreira e talentos, do ManpowerGroup. O levantamento que ouviu 760 funcionários nos EUA, mostra que 69% dos entrevistados não vão tirar as férias referentes a 2013 de forma integral. A tendência já dura três anos: nos últimos dois anos, a pesquisa apontou que 70% não tirariam todos os dias.- Há um reflexo do resultado da pesquisa no Brasil. Embora não haja estatísticas, a percepção é que isso tem se repetido no país também, pois ouvimos relatos de situações bastante similares - afirma Simone Leon, diretora de Gestão de Carreiras e Talentos da Right Management Brasil.Simone atribui o cenário ao que chama "era da eficiência": - O Brasil vive um momento bastante competitivo, no qual o olhar se volta para a redução de custos e há menos profissionais para entregar com a mesma qualidade. Por outro lado, há também um consumidor cada vez mais sofisticado e exigente, o que aumenta a demanda sobre os profissionais.- E se o executivo não sai de férias, acaba segurando a equipe, o que vai se refletindo em toda a hierarquia profissional - diz Simone, destacando que os profissionais estão "quebrando" suas férias em períodos curtos ao longo do ano, o que aumenta o risco de alguns dias acabarem "se perdendo". - Antigamente, a quebra era de duas vezes. Hoje, há mais gente quebrando em três ou quatro vezes.FALTA TEMPO PARA PLANEJARE isso, na maioria dos casos, acontece por pressão do próprio profissional e não por parte da empresa - que não pode proibir funcionários de tirar suas férias por razões legais. - O profissional gosta de se sentir indispensável, isso alimenta a vaidade e é algo bem forte tanto na cultura americana quanto na brasileira. As pessoas se vangloriam de não ter tirado férias como se isso dissesse que elas são mais competentes que as outras - aponta Simone.
Mas, na verdade, a ausência de férias pode trazer consequências negativas tanto para os profissionais como para as empresas, alerta a diretora da Right Management: - Existe uma questão física e de saúde: o profissional precisa desacelerar. Além disso, se desligar do ambiente do trabalho ajuda a favorecer as novas ideias. Em geral, a pessoa volta com novos olhares sobre problemas antigos e mais equilibrada emocionalmente.Para que isso aconteça, o que falta, na opinião de Simone, é a maior habilidade de planejar. - A pressão do tempo tem feito com que os profissionais estejam trabalhando muito mais na "gestão do hoje" do que no planejamento do futuro. Eles são absorvidos pelas atividades cotidianas e não se organizam para sair de férias.
Esta é a íntegra de uma reportagem sem assinatura, publicada na edição de 23 de
fevereiro de 2014 do jornal O Globo, na última página do caderno Boa Chance.
A cada dia que passa a coisa fica mais
assustadora! Abrir mão de férias significa trabalhar cada vez mais, e se
juntarmos a essa deplorável prática a alardeada "ameaça" de que viveremos cada
vez mais, a desgraça assume dimensões ainda maiores.
Acreditando na falácia de que as máquinas
trabalhariam por elas e para elas, as pessoas tornaram-se incapazes de perceber
que com o decorrer do tempo foram elas que passaram a trabalhar cada vez mais
para máquinas, e o que é pior: como máquinas. E como máquinas não tiram férias,
cada vez mais trabalhadores passam a abrir mão desse direito outrora adquirido.
E uma vez assimilada tal falácia, e em conformidade com o lema me engana que eu gosto, o próximo passo foi
tentar iludir-se com a crença de ser um profissional indispensável. Sim,
iludir-se, pois no fundo, bem lá no fundo, a maioria dos outrora chamados trabalhadores,
e hoje denominados colaboradores, sabe que não tem motivo algum para
considerar-se indispensável, pois vive em uma civilização onde tudo, e todos, passaram
a ser a cada dia mais descartáveis.
Portanto, discordo da opinião de
Simone Leon, diretora de Gestão de Carreiras e Talentos da Right Management
Brasil, quando diz que os profissionais deixam de tirar férias integrais por
considerarem-se indispensáveis. No meu entender, o verdadeiro motivo pelo qual
não se pretende tirar "longos períodos" de férias é o medo de que ao voltar encontre
outro profissional em seu lugar. É o medo de que sua ausência gere (usando
a linguagem SOX) uma evidência de que ele não é tão indispensável quanto queria
fazer crer não só aos outros, mas até a si mesmo.
Até porque, se existe alguma coisa que a cada dia
é mais abundante no tal do teatro corporativo, ela é exatamente a existência de
profissionais realizando tarefas que se fossem analisadas à luz da famosa
relação custo / benefício revelariam que têm apenas custo, pois não originam
qualquer benefício. Ou seja, é uma verdadeira indústria do nada. Na área de TI
(Tecnologia da Informação), que hoje permeia qualquer outra área, e da qual
falo com conhecimento de causa, pois nela trabalhei durante 3,7 décadas, a
referida abundância chega a ser indecente.
Mas, concordo com Simone Leon quando faz o
seguinte alerta: "Mas, na verdade, a ausência de férias pode trazer
consequências negativas tanto para os profissionais como para as empresas, pois
existe uma questão física e de saúde: o profissional precisa desacelerar. Além
disso, se desligar do ambiente do trabalho ajuda a favorecer as novas ideias.
Em geral, a pessoa volta com novos olhares sobre problemas antigos e mais
equilibrada emocionalmente."
E para terminar esta já longa postagem digo o
seguinte: a quantidade de trabalho a realizar é, e será sempre, diretamente
proporcional a qualidade do trabalho que o antecedeu. Em outras palavras: quanto
pior a qualidade do trabalho malfeito, maior será a quantidade de trabalho para
refazê-lo. Refazer trabalhos malfeitos! Eis a verdadeira praga que assola o
teatro corporativo! Eis a verdadeira causa do problema apontado por Simone Leon:
"A pressão do tempo tem feito com que os profissionais estejam trabalhando
muito mais na 'gestão do hoje' do que no planejamento do futuro."
Simone fala em hoje e em futuro. Eu volto no
tempo, incluo o ontem e faço um acréscimo em sua frase: O que leva os
"profissionais a trabalharem muito mais na 'gestão do hoje' do que no
planejamento do futuro”, é, exatamente, sua falta de percepção de que os problemas de hoje provêm das 'soluções' de ontem."
Se alguém desejar ler um pouco mais sobre essa
história de "era da eficiência", citada por Simone, sugiro a postagem Não é dedicação, é ineficiência.
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