sábado, 10 de maio de 2014

Nada de TV e internet no quarto?

A intenção deste blog é estimular as pessoas a opinarem sobre notícias que deveriam mexer conosco, porém eventualmente ele apresenta algo que, embora divulgado pela mídia, não seja, exatamente, uma notícia. É esse o caso de um artigo de Jairo Bouer, publicado em sua coluna no jornal O Estado de S. Paulo na edição de 27 de abril de 2014.
Nada de TV e internet no quarto?
"Televisão ou internet no quarto é tudo o que seu filho quer na vida, mas novas evidências têm demonstrado que essa pode ser uma péssima ideia para a saúde dele. Pesquisa da Escola de Saúde Pública de Harvard, nos Estados Unidos, publicada no jornal inglês Daily Mail da semana passada, mostra que, para cada hora de televisão a que as crianças assistem por dia, elas perdem sete minutos de sono.
O estudo avaliou 1.800 crianças entre 6 meses e 8 anos. Quem tinha TV no quarto dormia menos. Os garotos parecem ser ainda mais sensíveis à presença da tecnologia perto da cama. A avaliação faz parte de um projeto (Project Viva), que acompanhou crianças de seu nascimento até 8 anos de idade para tentar determinar quais os fatores que podem influenciar seu desenvolvimento.
O trabalho foi um dos poucos que observaram o comportamento das crianças por um longo período de tempo, e o resultado mostra que tanto assistir a muita TV como ter uma televisão no quarto podem diminuir o tempo de sono em uma fase da vida em que dormir pelo menos oito horas é fundamental para a saúde. Algumas pesquisas recentes relacionam, por exemplo, menos horas de sono com um maior risco de obesidade em crianças e jovens.
Além disso, dormir menos pode piorar a concentração, a atenção, a memória e o rendimento em um momento em que as células nervosas estão se desenvolvendo em um ritmo acelerado e vão determinar nosso funcionamento intelectual e psíquico.
Não foi à toa que, há duas semanas, por exemplo, em Manchester, no Reino Unido, na Conferência Anual da Associação de Professores, noticiada pelo jornal Evening Standard, foi discutido o impacto que o uso dos tablets, celulares inteligentes e computadores, durante a noite, estão tendo no desempenho dos alunos em sala de aula.
Professores estão percebendo, cada vez mais, jovens sonolentos, irritados e com dificuldade de concentração após passarem noites em claro ou com poucas horas de sono por causa do uso excessivo de tecnologia, principalmente quando eles estão sozinhos, o que acontece com frequência em seus quartos à noite.
Redes sociais, serviços de troca instantânea de mensagens e jogos online seriam os principais 'vilões' dessa história. Mesmo proibidos pelos pais de acessar a internet à noite, os jovens conseguem facilmente driblar esse controle graças, principalmente, aos dispositivos móveis e portáteis, como os smartphones.
Alguns desses professores, preocupados com essa queda de rendimento dos alunos na escola, e com medo do risco de dependência dos jovens à internet, sugeriram que os pais deveriam desligar o Wi-Fi de suas casas à noite, o que dificultaria o acesso das crianças.
Do ponto de vista da saúde, uma série de estudos tem demonstrado que tanto a radiação emitida pelas telas de celular e computador como a excitação psíquica provocada pelos jogos e papos online podem dificultar que o jovem 'pegue' no sono. Além disso, há um problema crescente em desligar esses aplicativos no meio de uma conversa com amigos, de uma paquera ou de uma etapa eletrizante de um game, porque no dia seguinte existe trabalho ou escola.
Na semana passada, também, outra pesquisa mostrou mais um possível impacto negativo da internet, dessa vez principalmente em garotas. Realizado em universidades americanas e inglesas, o estudo sugeriu que as meninas que passam maios tempo nas redes sociais tenderiam a se comparar mais com amigas e conhecidas e teriam um risco maior de terem uma percepção negativa de seu corpo, da sua imagem e da sua aparência.
Talvez a principal conclusão de todos esses trabalhos seja que o uso das tecnologias precisa ser redimensionado, com urgência, na vida de muitos jovens."
Jairo Bouer conclui seu excelente artigo dizendo que "talvez a principal conclusão de todos esses trabalhos seja que o uso das tecnologias precisa ser redimensionado, com urgência, na vida de muitos jovens." E nessa frase de conclusão do artigo uma palavra e uma expressão despertam minha atenção: "talvez" e "na vida de muitos jovens".
A palavra "talvez" por evidenciar uma característica da época em que vivemos: a incerteza quanto ao acerto de qualquer atitude que venhamos a tomar. Somos cada vez mais inseguros quanto às atitudes que tomamos. E a expressão "na vida de muitos jovens" por dar a entender que o fascínio existe apenas entre os jovens, o que não é verdade, pois tal fascínio ocorre em várias faixas etárias. Até porque nesta sociedade onde a cada dia mais se acena com uma crescente longevidade é cada vez mais comum os mais velhos quererem imitar os mais jovens.
Sendo assim, enxergo duas grandes dificuldades a serem superadas se, realmente, quisermos redimensionar o uso das tecnologias, na vida dos jovens. O temor que os mais velhos têm de serem considerados retrógrados. Temor que faz com que, em vez de procurar orientar os mais jovens, procurem imitá-los. A atração por um velho e equivocado ditado: faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. Ditado que jamais funcionou, pois o que se fala jamais prevalecerá sobre o exemplo que se dá, embora a maioria, tolamente, insista em acreditar no contrário.
Como redimensionar o uso das tecnologias na vida dos jovens sem lhes darmos o exemplo? Como coibir-lhes o fascínio por tablets, celulares inteligentes e computadores se somos tão fascinados quanto eles?
Jairo Bouer fundamenta seu artigo em evidências oriundas de estudos e pesquisas realizados por renomadas instituições e das quais (evidências) é difícil discordar. Até porque elas também podem ser constatadas por qualquer um de nós que esteja atento ao que acontece ao seu redor. Aliás, para estes, a maioria das descobertas -referentes a comportamentos - oriundas de pesquisas e estudos não costuma trazer novidades. A única novidade que traz é a tal da comprovação científica. Porém, considerando que falta de atenção é justamente um dos "atributos" da maioria dos integrantes desta civilização esse tipo de estudos e de pesquisas torna-se bastante necessário.

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