sexta-feira, 6 de junho de 2014

A nova causa dos acidentes de trânsito

"A FOLHA noticiou que o trânsito brasileiro é responsável por 40 mil mortes/ano, e quase a metade delas está associada ao consumo de bebidas alcoólicas. Um importante percentual da outra metade desses acidentes pode ter como causa o comportamento "distracted driving", cuja tradução tanto é "dirigir distraído" quanto "dirigir alienado".
No primeiro número deste ano do "New England Journal of Medicine", um trabalho de Sheila G. Klauer e colaboradores, ao analisar o "distracted driving", conclui que desviar o olhar da estrada para discar um número ou enviar mensagens pelo celular é significativo fator de riscos para desastres.
Outro estudo, de Garold Lantz e Sandra Loeb, do King’s College, Filadélfia, EUA, sobre jovens motoristas enviando SMS (Short Message Service) – os conhecidos torpedos ou mensagens pelo celular – ao volante dos carros, refere ser este um fenômeno crescente. E perigoso, acrescentam: diminui o tempo de reação a uma emergência que surgir à frente do veículo, e essa reação é muito mais lenta do que a de um bêbado.
Os autores citam estatísticas americanas indicando que os adolescentes morrem mais em acidentes de trânsito do que por qualquer outra causa.
Daí a importância assumida pelo governo norte-americano em relação ao problema ao criar o site www.distraction.gov, visando modificar esse tipo de comportamento."
Esta é a íntegra de uma reportagem de Julio Abramczyk, publicada na edição de 4 de janeiro de 2014 do jornal Folha de S.Paulo.
O que dizer de uma notícia como essa? Por onde começar a opinar sobre ela? Quarenta mil mortes/ano, e metade delas associada ao consumo de bebidas alcoólicas. E da outra metade um importante percentual pode ter como causa o comportamento "dirigir distraído". Distraído com celulares, smartphones e assemelhados.
Considerando que "dirigir distraído" é um fenômeno muito mais recente do que dirigir bêbado, porém crescente, e que (segundo de Garold Lantz e Sandra Loeb, autores de um estudo do King’s College, Filadélfia, EUA) diante de uma emergência que surgir à frente do veículo a reação do motorista distraído é muito mais lenta do que a do bêbado, tirar do consumo de bebidas alcoólicas a liderança quanto à causa provocadora da maior quantidade de acidentes do trânsito é uma tarefa relativamente fácil para o comportamento "dirigir distraído". É apenas uma questão de tempo, de muito pouco tempo. E quando o motorista estiver bêbado e distraído, a que será atribuída a culpa pelo acidente?
Garold Lantz e Sandra Loeb citam estatísticas americanas indicando que os adolescentes morrem mais em acidentes de trânsito do que por qualquer outra causa. E por que morrem? Pela velocidade excessiva com que dirigem, pela pressa em chegar. E é ainda a velha pressa o que está por trás da nova causa dos acidentes de trânsito. Movidos pela pressa - para melhor aproveitar o tempo (sic) - eles fazem várias coisas ao mesmo tempo, dentre elas digitar mensagens enquanto dirigem. E com tanta pressa assim o que eles conseguem (cada vez mais) é chegar mais rápido a um de dois lugares indesejáveis: um cemitério ou um hospital. Do primeiro, eles não saem mais; do segundo, muitas vezes, saem com lesões irreversíveis que os acompanharão pelo resto da vida. E aqui, inúmeras vezes, a palavra resto talvez seja a que melhor define o tipo de vida dos sobreviventes aos acidentes.
Se no início da minha opinião sobre esta notícia eu questionava por onde começar a opinar, neste ponto eu encontro outro aspecto sobre o qual fazê-lo: a relação dos jovens com a tecnologia. Que facilidade têm eles para dominá-la, exclamam os mais velhos, não é mesmo? Será? Será que eles a dominam ou são por ela dominados? O que é dominar? É fazer o que se quer ou o que se é levado a fazer? Será que ser viciado em alguma coisa significa que se domina essa coisa ou que se é dominado por ela? Será que é difícil enxergar que o segundo significado (se é dominado por ela) é a resposta correta?
Igual a tudo na vida, dependendo de como ela seja usada, a tecnologia pode ser algo benéfico ou maléfico. E, infelizmente, o uso que dela tem sido feito pela maioria dos integrantes da tal da espécie inteligente do Universo não tem sido dos mais benéficos. Porém, alheios ao uso que dela se faz, aqueles que lucram a estonteante evolução tecnológica prosseguem despejando tecnologia em cima de incautos que acabam usando-a contra eles próprios. E é dentro dessa ideia que a Apple anuncia sistema operacional para carros (título da postagem anterior). Em outras palavras: Apple anuncia incentivo ao comportamento "dirigir distraído".
Aos que quiserem ler mais alguma coisa que tenha a ver com o assunto desta postagem, sugiro a leitura das postagens Sou bom nisso. Digito sem olhar, diz analista. (25 de agosto de 2012) e Sacrificar a vida para ler uma mensagem? Acontece todo dia. (29 de agosto de 2012).

Nenhum comentário: